Rose Peterson
Entro correndo e chorando pelos fundos da casa dos meus pais. Todos haviam falado, mas não queria enxergar o canalha com quem me relacionava. Agora teria que enfrentar a festa de ex-alunos e ainda por cima sozinha. Notei alguém se aproximar do meu lado e enxuguei com as mãos as lágrimas derramadas, estava preparada para explicar para minha mãe ou meu pai o que aconteceu quando uma tulipa entrou em meu campo de visão. Sorrio com o gesto carinhoso e olho para cima dando de cara com um rapaz simples, mas extremamente bonito.
Meu nome é Rose Peterson e estou prestes a perder meu coração para o "jardineiro" dos meus pais.
Seis meses atrás.
Eu nunca vou deixar de ser uma eterna romântica e isso é óbvio. Sou uma errante para amores imbecis. Quando certo homem entrou pela porta do meu escritório com cabelos loiros, olhos verdes e de aparência elegante, foi meu fim. Phill, meu ex, era gentil, atencioso, e quente, não foi preciso muito tempo para ficar boba e perder minha concentração em cada trabalho feito na minha empresa de design de interiores. Acabamos nos aproximando.
Perfeito para histórias românticas, a chefe se apaixonando pelo empregado. Phill parecia fazer questão de estar ao meu lado e de sempre me tocar quando tinha oportunidade. Eu tentei retardar o avanço, queria ter a certeza de que ele era o meu príncipe encantado e que dessa vez eu não havia errado, porém mesmo tentando ignorar seu charme, iniciamos um namoro depois de dois meses.
O que eu não esperava, era que as coisas saíssem do rumo.
Phill começou a mudar depois de um mês juntos, eu até então não havia contado nada há minha família sobre ele, e só por insistência minha, ele foi comigo em um domingo de família reunida. David havia acabado de voltar da fazenda e fiquei sabendo que ele estava arriado por Jennifer, a filha de uma amiga de mamãe, achei linda sua atitude de fazer um tratamento correto para acabar com seus pequenos ataques, afim de não machucar a mulher que ele possivelmente estava gostando.
Tinha tudo para ser um dia feliz naquele dia, se não fosse a atitude dos meus irmãos para com meu namorado. Eles não gostaram de Phill e nem sequer tentaram uma conversa. Isso me deixou profundamente irritada, ainda mais com comentários indiretos, rudes e idiotas sobre o tipo que ele era.
Qual é! Eu tenho vinte e seis anos, claro que eu saberia só de olhar quem é bom ou ruim, eu tinha certeza de que Phill era um bom homem, porém depois do ocorrido ele se tornou cada vez mais grosseiro e distante comigo, eu apaixonada como estava, culpava meus irmãos pela indiferença de Phill quando estava comigo.
Antes não tivesse feito apresentações, assim eu e Phill ainda estaríamos apaixonados. Era assim que, terrivelmente, eu pensava.
Apesar disso, eu ainda gostava dele.
Minhas decepções e remorsos só vieram mais tarde e só enxerguei que as coisas não estavam mais como eu havia imaginado no casamento de Gael. Jennifer, agora namorada de David, uma completa desconhecida até o momento em que fomos apresentadas, reparou que apenas eu carregava essa relação, e bem, se uma estranha conseguiu ver isso em poucos minutos, era porque algo estava errado.
Inocente no amor, só consegui perceber isso meses depois.
Entre soluços, entrei correndo pela porta do fundo da casa de meus pais. Deixei meu corpo cair em um banco existente no jardim de mamãe ainda tentando obter respostas do porquê não ter escutado meus irmãos. No fundo, minha paixão cega precisava de uma exibição de Phill nu, enrolado com outra mulher, no cômodo de material de limpeza da minha empresa. Imagino o quanto de pessoas sabiam e o quanto zombaram da minha cara.
Minha reação foi apenas fechar a porta e
seguir para meu carro. Só então liberei minhas lágrimas que vieram mais ao constatar que existem pessoas certas para finais felizes e há outras que são destinadas a ficarem sozinhas, tendo seu fim em uma cadeira de balanço rodeada de gatos. Eu, com toda certeza, faço parte do time #sozinha, pois até Noah quando finalmente engolir seu orgulho, terá seu final feliz. Não que eu esteja com raiva, espero muito que ele seja feliz, no entanto, amaria ter alguém para dividir meus problemas e minhas felicidades.
Como se a traição não fosse o suficiente, me recordo agora do convite que recebi para uma cerimônia de ex —alunos. Isso não torna tudo mais dramático? Eu pensava em ir com Phill, um homem lindo e gostoso. Queria mostrar que a menina de quatro olhos e nada parecida com os irmãos, era dona de uma empresa bem-sucedida e ainda tinha um namorado a tiracolo. Mais agora estando sozinha, rever amigas que tiravam sarro de você não fazia parte da minha lista de presentes de Natal. Eu não tinha coragem para enfrentá-las e não queria ter que precisar de homens, mas elas sempre se vangloriavam por ter vários aos seus pés. Posso imaginar o que fariam se me vissem aos vinte e seis anos sem namorado, noivo ou marido.
Passos se aproximavam e lamentei internamente não estou preparada para ver meus pais, e explicar o porquê do meu choro, no entanto uma tulipa surgiu em meu campo de visão, me fazendo sorrir tristemente. Ergui a cabeça esperando ver um rosto conhecido, mas tudo que meus olhos captaram foi um rapaz com roupas simples e um sorriso de dar inveja, a barba em seu maxilar o deixava másculo e sexy e seus olhos caramelos me avaliavam gentilmente. Repreendo meu subconsciente de certos elogios, eu estou dolorida, não devia simplesmente babar para o primeiro homem que vejo.
— Uma moça tão bonita como você, não deveria chorar. — a voz grossa e limpa me fez piscar os olhos e enxugar o restante das gotas em minhas bochechas. Sinto-me tímida com o elogio.
Como posso estar bonita tendo os cabelos em várias direções e olhos inchados? O rapaz parece gostar do que me causou e penso que ele seja amigo de algum dos meus irmãos. Meus irmãos! Se estiverem aqui e me verem no estado em que me encontro... Sei que meus pais não enfrentariam Phill, mas conhecendo os meus irmãos seria uma tempestade com raios e trovões. Rapidamente tento me recompor e sorrio pegando a flor de sua mão. Imagino que eu posso ter ajuda dele se algum dos meus irmãos quiser partir para a briga.
— Você deve ser a senhorita Peterson. — diz confiante e confirmo com a cabeça.
— E eu conheço você? – pergunto preocupada. Não gosto quando as pessoas me reconhecem e eu nem sequer posso me lembrar delas. É tão chato!
— Não, não me conhece. – diz e franzo o cenho.
— Então você é o...?
— Hoje estou sendo o jardineiro de sua mãe.
Oh! Jardineiro? Não sabia que mamãe tinha um. Não posso evitar checar suas roupas assim que diz de quem se trata. Calça jeans, camiseta preta regata expondo seus braços não muito volumosos não faz parte do uniforme, se é que eles têm. Hum, Phill tem mais músculo que ele, não que o jardineiro seja pouco forte, mas Phill faz uma rotina de malhação, então seus braços são grandes. Reviro meus olhos, e suspiro inconformada devido a fatídica lembrança que tive. Volto para o rapaz que ainda me avalia e lembro que estava observando suas roupas. Ele não deveria usar macacões?
— Vocês costumam trabalhar assim? — pergunto curiosa.
Sua expressão é de surpresa, com certeza se deve a minha escolha de perguntas. Qual é Rose? O rapaz fala que é jardineiro e você se interessa pelo tipo de roupa, o que estava esperando? Sua face retoma ao relaxamento e sorri travesso encaixando os polegares no bolso da frente da calça jeans, noto que isso flexiona seus braços inquietando meu corpo.
— Não sei, mas eu não costumo trabalhar assim, as vezes fico sem camisa.
Oh, de novo a inquietude. Imagens dele sem camisa cuidando das plantas de minha mãe percorrem minha mente e é impossível não cair meus olhos sobre a camiseta preta.
— Eu vejo. — murmuro em suspiro e sou jogada a realidade.
O que estou fazendo? Balanço minha cabeça olhando para meus pés que de repente pareceu interessante e finjo uma tosse antes de levantar o rosto outra vez.
— Há quanto tempo trabalha aqui? – pergunto levando o clima para um patamar mais leve.
— Uns dois meses desde que seus pais requisitaram nossos serviços.
— Nunca lhe vi por aqui. — rebato rapidamente ganhando outro sorriso.
— Isso porque você sempre está trabalhando. Eu venho duas vezes por semana, e fico das nove às onze. — ele explica paciente e aceno pensativa.
Ouço apenas que eu sempre estou trabalhando e é o que eu deveria estar fazendo. Mas não hoje, não quando a área de limpeza está servindo de motel para meu ex. Reprimo outra onda de choro e levanto do banco num rompante. O rapaz se move para mais longe, me dando um espaço seguro, e tento dar-lhe o melhor sorriso que posso, mas o V em sua testa me diz que não fui convincente.
— Bom, cuide bem das plantas de mamãe, não tomarei mais do seu tempo. — murmuro fraco e caminho em direção a casa.
— Senhorita? — ele chama e paro na porta, viro-me com as sobrancelhas no alto esperando o que quer que ele diga.
Mesmo de longe, reparo que é mais alto que eu, e que minha cabeça certamente chega na altura dos seus ombros, lembro que Phill era do meu tamanho e podia ver sua face sem fazer qualquer esforço ou beijar seus lábios sem a necessidade de ficar nas pontas dos pés. Meu interior gargalha em sarcasmo e respiro fundo. Sim, isso tudo acontecia nos dois primeiros meses.
— Sei que sou um desconhecido, mas se precisar de alguma coisa, qualquer que seja, estarei aqui, todas terças e quintas-feiras, no mesmo horário. — diz prestativo e sorrio agora com mais veracidade, pois ele retoma seu sorriso simpático e travesso outra vez.
Gosto do jeito simples e educado que se dirige a mim. Gosto ainda mais de sentir que tem alguém preocupado comigo. Não vou mentir, mas sua atenção para comigo aumentou um pouco meu ego ferido, nem que fosse por dez segundos.
— Obrigada. – digo agradecida e levanto minha mão. — E obrigada pela flor, deixarei que saiba se eu precisar de algo.
— Qualquer coisa! – reforça e aceno
sorrindo.
Tenho a sensação de ser observada enquanto adentro minha casa e isso é de todo modo reconfortante. Subo a escada para o meu quarto, agradecendo por não ver meus pais neste momento. Preciso apenas de alguns minutos sozinha. Coloco a tulipa lilás na escrivaninha do quarto e me embrulho no lençol, deixando minhas lágrimas fluírem livremente.
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Comments
Vilza de Souza
Love is the air.
2023-11-04
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