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David Peterson

Já havia se passado um mês desde que deixei a fazenda Dunnes. Um mês sem ver e sentir Jennifer. Minha última noite resultou em lhe dar prazer e foi com essa memória que fui para todas as minhas sessões. A vontade de amá-la e dormir em seus braços logo em seguida, me faziam mais forte. E logo no primeiro dia que voltei, tomei a decisão de não haver mensagens e telefonemas.

Soube depois que Jennifer não gostou disso e minha família até tentou mudar minha opinião, mas eu seria fraco se a ouvisse, seria capaz de interromper o tratamento e nunca mais deixá-la. Eu rezava para que ela continuasse a confiar em mim, que eu iria voltar. Um dia, tive vontade de ligar e confessar que estava apaixonado por ela, mas não fiz. Gael encheu minha cabeça dizendo que ela acharia outro depois de um mês. Senti ciúmes com as suas palavras, e acabei compreendendo que minha paixão é amor, e que nem que eu quisesse a deixaria para outro.

Eu tenho minha própria casa agora, não muito longe dos meus pais, isso por ordens deles. Claro que quando voltei, tive que ouvir piadinhas de Noah sobre eu estar apaixonado. Falei na cara dura que não era isso, mas o tempo mostrou o contrário. Era de se esperar que Gael comentasse nossa conversa com a família.

Rose, minha caçula, não fez pouco caso, isso porque ela também estava namorando. Tive o desprazer de conhecer o homem na semana passada e pelo que vi não é boa pessoa. O olhar dele para Rose é diferente do dela para ele. A impressão é que só ela está vivendo uma paixão e ele está no seu encalço para se dar bem. Tentei uma conversa com ela sobre o rapaz e soube que Noah e Gael já haviam feito o mesmo, até nossos pais lhe deram indiretas, mas Rose ficava chateada e irritada, então paramos de nos intrometer em seu namoro, mas continuei a observá-la.

Quanto ao tratamento, eu ia bem e já tinha feito grandes avanços como ir ao supermercado ou um parque com muitas pessoas. Meu pai sempre ia comigo e assumi para ele que estava amando, ele apenas sorriu dizendo que sabia exatamente o tipo de sensação.

Volto à realidade ao observar Gael se aproximar com seu fardamento completo de bombeiro, atravessando os convidados da sua festa. Quando meu irmão mencionou o casamento com Meg em um mês, fiz questão de lutar para ficar bem, ele é meu irmão e eu não poderia ficar de fora, muito menos ter um surto e atacar algum inocente, porém ficar tempo demais em uma festa com muitas pessoas e música alta, estava testando todos os meus limites.

— Como está irmão? — Gael me questiona bebendo seu vinho.

— Aguentando o máximo que posso o barulho, ainda é algo que estou controlando, não é fácil cada estrondo alto que sai das caixas. — admito e recebo seu afago.

— Não precisa ficar muito tempo, ter ido assistir meu casamento já foi suficiente.

— Mas Meg se esforçou tanto nessa festa, não quero fazer uma desfeita.

— E quem quer fazer uma desfeita para uma mulher grávida? — ele brinca e sorrio tendo minha atenção para a noiva mais bonita que já vi.

O motivo crucial do casamento foi para aproveitar melhor a lua de mel. Não se enxergava a barriga ainda e apesar da empolgação dos dois de ter muitos momentos a sós, o médico foi bem claro em dizer para os futuros papais, que não poderiam ter extravagâncias demais e que Meg descansasse o máximo que lhe era permitido. Revirei os olhos mentalmente, até parece que Gael iria permitir algo fora da segurança de Meg.

— E você e Meg, estão mesmo felizes? Foram várias novidades ao mesmo tempo, o noivado, a gravidez e agora o casamento. — murmuro e vejo um vislumbre de seus olhos brilhantes, ao admirá-la pelo salão.

— Felizes é pouco David. Minha Meg ainda tem seus medos sobre a gravidez, algo sobre o passado dela, mas estou sempre do lado mostrando o contrário. Eu amo a Meg mais que tudo. — declara e o abraço pelo ombro guardando a vontade de dizer que o entendo. Esse é o momento dele.

— Fico feliz por vocês, merece tudo de bom Gael. Não sei o porquê do medo de Meg, mas tenho certeza que isso passará assim que pegar o filho no colo.

— Eu acredito nisso, agora pode me largar! — reclama brincalhão e me afasto. — Mas sobre você e Jennifer? Eu achei que ela e a mãe viriam, fizemos questão de mandar um convite. — ele diz e coço a nuca sem jeito. Não vou negar, gostaria de vê-la.

— Elas têm a fazenda, será difícil vir até aqui e deixarem tudo por lá.

— Hum, mas você está com saudades que eu sei. Por que não deixa essa besteira de nenhum contato? Já se passou um mês e olha como está lidando com tudo. Em outros tempos, não conseguia ficar nem dez minutos em um ambiente como esse, estou errado? É meu casamento irmão, quer me dar um presente? Não perca mais tempo. Se por acaso não conseguir ficar longe dela após a ligação, volte. Eu confio em você, sei que não vai machucá-la.

Gael estava certo. Eu me sentia mais confiante para ficar perto de Jennifer sem machucála. Eu já não sabia mais o gosto do seu beijo e nem o formato de seus lábios. Queria sentir de novo, matar a saudade, fazer tudo que não fui capaz de fazer aquele dia. Eu realmente necessito dela. Não pude afirmar naquele momento para Gael que ele tinha razão, pois Meg apareceu saltitando sobre as sandálias baixas.

— Amor, vem dançar comigo? — ela pergunta e ignoro o abraço dos dois.

— Absolutamente, minha senhora Peterson.

— a voz sedutora de Gael quase me faz rir alto.

Meg sorri beijando seu rosto e me vendo em seguida.

— David! Como está?

— Bem, obrigado por perguntar, linda. — elogio, vendo Gael revirar os olhos.

— Há uma sala vazia lá em cima onde o barulho é menor. Se precisar ir, não haverá nenhum problema, só quero o seu bem.

— Você sempre pensando em tudo. — agradeço e Gael não perde tempo puxando-a pela mão. Permaneço parado vendo-os.

Meg sorri feito uma boba apaixonada e Gael apenas a olha. Os corpos se movimentam em sintonia com a música, e imagino que estão somente eles naquele casulo, me sinto um intruso por estar presenciando um momento íntimo do meu irmão. Algumas palavras são trocadas e ela sorri outra vez, ele a abraça e continua a dança no ritmo lento. Suspiro ao pensar que adoraria minha Jenny aqui comigo.

A escada me parece bastante convidativa e mesmo testando meus limites aqui no meio de toda essa gente, acho que um lugar tranquilo será bemvindo.

A sala só não estava vazia por causa de uma poltrona, uma mesa de escritório e estantes de livros. Talvez a ideia de alugar uma mansão para uma festa, não seja tão ruim. Puxei o pequeno sofá para frente da janela e sentei vendo a paisagem de arbustos e árvores sobre a luz da lua. Podia ouvir a música rolando lá embaixo, mas num volume tolerável. Tínhamos sorte de não ter vizinhos. Quem comprar esse lugar terá uma bela casa em um belo lugar.

Peguei meu celular notando ser tarde da noite, talvez ela já estivesse na cama. Girei o aparelho em meus dedos. Eu já estava melhor, não tinha mais tantos riscos, eu podia... Sei lá, passar o resto da vida com ela. Era o que eu queria. Não demorei em pôr em prática o conselho de Gael e meus dedos digitarem seu número. Decepção, a chamada cai na caixa postal.

Cogitei a ideia de ligar para sua casa, mas onze horas da noite iria assustar sua mãe. Curvei descansando meus braços em minhas coxas. Ela poderia morar perto. Peguei meu celular outra vez, admirando a foto ao fundo. Os cabelos castanhos espalhados pelo travesseiro, um sorriso sutil no rosto, o lençol cobrindo metade do seu corpo deixando as costas nuas. A última imagem que tenho dela. Sorrio fracamente, a primeira, mas não a última. Inspirei sentindo o cheiro familiar de morangos e desviei meus olhos vendo a noite escura.

— Você podia estar aqui. — murmuro ao vento. O que não esperava era uma resposta.

— Seus desejos sempre viram realidade? — a pergunta veio como um soco em meus ouvidos.

Meu corpo paralisou e até parei de respirar, meu coração retumbava cada vez mais forte. Não podia ser verdade. Eu ouvi mesmo sua voz ou o tratamento em vez de me ajudar está me deixando louco. Talvez seja a falta que sinto dela brincando com minha mente, mas o cheiro está tão evidente. Levantei da poltrona e virei tendo sua visão. Ela estava ali, mais bonita do que me lembrava. Os cabelos ondulados meio presos, o vestido longo num azul escuro e a leve maquiagem. Ela sorria de jeito sapeca. A menina dentro de uma mulher.

Andei dois passos, mas parei.

— Está mesmo aqui? — indaguei confuso.

Mentes humanas podiam pregar peças, eu sabia bem disso.

— A não ser que eu seja uma miragem. — sussurra em diversão caminhando até mim.

Pego-a em meus braços ainda desacreditado. Ela está mesmo aqui? Admiro suas feições e a boca entreaberta clamando por atenção. Enrolo meu dedo em uma mecha de seu cabelo sentindo a maciez, percorri minha mão em seu maxilar e lábios. Seus olhos em um profundo castanho pareciam verdes. Desci acariciando sua cintura a puxando para colar mais em meu corpo.

— Miragem ou não, eu vou beijá-la. — murmuro com saudade.

— Eu esperava por isso, David. — sussurra me levando ao delírio e ao meu fim.

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Comments

Vilza de Souza

Vilza de Souza

Tomara que ele entenda que ela é a cura dele.

2023-11-03

1

Márcia Valgas

Márcia Valgas

Lindos,tomara que já fiquem juntos.Ele merece ser feliz!🥰

2023-07-15

3

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