David Peterson
Demorei um pouco mais no meu banho improvisado. O intuito era somente tirar a sujeira, porém a presença de Jennifer mudou um pouco meus planos. Senti seus olhos em mim e vi o minuto que chegou. Eu queria saber quando ela iria dar o primeiro passo e confesso que fiquei amuado por ter sido interrompido tão rápido com meu gesto um tanto erótico. Gosto de pensar que sua tosse foi sem querer.
Eu tinha a noção de que deveria ficar longe, mas sentir seu corpo pressionado no meu não ajudou muito. Tirando o fato que ela não é do tipo que se brinca, decido ver até onde ela ia e se me negaria. Se negasse, seria o melhor. Entro na casa sentindo o cheiro de comida no ar e percebo o quanto estou faminto. Passo direto para meu quarto pondo uma roupa limpa ao mesmo instante que ouço batidas na porta.
— Pode entrar. — digo e vejo Jennifer entrar se limitando a ficar na porta.
Seus olhos pareciam tristes por me ver vestido e seguro meu riso. É instigante a maneira como ela me faz sorrir. Ela é jovem, bonita e engraçada, certamente a mulher certa para casar, mas não para mim que tinha uma vida de altos e baixos.
— Está com fome?
— Muita. — admito. — Não imaginei que salvar uma vaca pudesse gastar tanta energia.
— Como acha que mantenho meu corpo? — indaga brincalhona e toma uma cara de surpresa em seguida.
Ela não quis dizer isso, mas acabou dizendo e automaticamente, sem aviso prévio, meus olhos delineia seu corpo pequeno e magro. Aproximo-me calmamente deixando-a nervosa.
— Realmente, tem um corpo muito bonito.
— murmuro e vejo seu rosto corar.
Jennifer solta um suspiro quase imperceptível e cerro meus olhos. Não me lembro de ter visto algo tão bonito como a mulher a minha frente. Aproximo-me mais, mas ela recua para fora do quarto.
— O almoço já está na mesa, é melhor irmos senão ele esfria. — diz rápida e some pelo corredor.
Murmuro algo incompreendido até por mim e passo minhas mãos pelos cabelos. O que deu em mim? Só estou com ela há um dia e venho tendo sentimentos estranhos como, por exemplo, beijá-la. Como deve ser seus lábios e seu gosto... Outra vez perdido nela, em pensamentos sobre ela. Algo me incomoda na parte de baixo e vejo meu amigo duro.
Rosno com minha falta de decência.
Fazia tempos que não agia como um adolescente! É, pelo visto terei que arranjar uma maneira de cuidar disso, porém me recuso a usar minha mão.
O resto do dia passou tranquilo e Jennifer só se dirigiu a mim para passar algumas atividades para a semana. Sua ideia de me manter ocupado com tarefas me agradou, não me sentiria bem sem fazer nada o dia todo, e até serviria para me fazer dormir à noite. As noites de insônia pareciam não ter fim, e foi assim que uma semana se passou tão rápido como chegou.
Por incrível que pareça, os jantares com Jennifer se tornaram um sacrifício e a ideia de seduzi-la foi deixada de lado. Não porque não a quisesse, mas sim, porque meus sentimentos estão confusos e venho a desejando para um futuro. Um que eu não tenho. Então fazia questão de almoçar com os funcionários, Jennifer não gostava muito, dizia que eu era convidado e que sua mãe não podia saber disso, mas deixou de falar no terceiro dia.
Nada muda minha opinião quando quero fazer algo.
Porém, a noite não tinha como fugir. Observo-a mastigar sua comida na hora do jantar, enquanto me fala o quanto é fácil andar cavalo.
— Você vai ver vou te ensinar a montar. Você tem cara de quem aprende rapidinho. — comunicou alegre e sorri com seu entusiasmo.
— Vai ter paciência de me ensinar?
— Claro que vou. Tenho a sensação de que não vai ser um aluno tão ruim.
— Espero não decepcionar.
— Sei que não vai. — diz claramente envolvida na conversa. Sua expressão de leveza me deixou impaciente.
Por que impaciente? Eu não fazia ideia. Talvez eu quisesse um pouco disso, talvez eu quisesse ser dela. Está na hora de me afastar. Meu coração bate perigosamente rápido e não consigo ficar muito tempo sem olhar aqueles lábios.
— Vou sair um pouco. — aviso me levantando enquanto ela alarga seus olhos preocupados. – Vou apenas caminhar. — explico dando as costas.
— Os funcionários... – ela inicia com o tom alto puxando minha atenção e saindo da cadeira. — Eles costumam fazer uma roda de fogueira. É meio que uma tradição criada pela família. Eu sempre passo por lá, se quiser ir também... Acontece perto do celeiro. — ela diz carinhosa com expectativa.
Senhor! O que ela faz comigo? Eu nem sequer penso na possibilidade de não ir.
— Estarei lá. — confirmo e saio antes de
fazer algo que quero muito. Beijá-la.
O som da cantoria podia ser ouvido a quilômetros de distância. Eles riam e cantavam sem parar. Avistei a fogueira e procurei rapidamente por Jennifer. Do seu lado direito estava Roger e do outro ninguém. Achei bom, tenho a consciência de que se tivesse outra pessoa ali, nada sairia bem. Acostumei-me com o barulho estando um pouco longe, o que não era de todo muito ruim e olhei cada um presente na fogueira e os que estavam mais afastados. Parecia seguro e reconheci a maioria que estavam aqui. Presumi que as mulheres presentes fossem namoradas, amigas ou esposas.
Feito a varredura, fecho o pouco espaço que restava e me sento ao lado de Jennifer que não notou minha presença de início.
— Olá. — sussurrei perto de seu ouvido e
recebi um sorriso gratificante. Os olhos brilhavam de excitação e um ligeiro retardo. Noto o copo de bebida na mão.
— Você veio! — diz alegre e sorrio com sua empolgação. Por mim?
— Eu disse a você que viria.
— Quer um pouco de carne assada ou uma cerveja? — balança o copo na minha frente e nego com um abanar.
— Obrigado, mas não. Quero saber qual a história dessa roda de fogueira.
— É? Bom, a história é um pouco longa, mas vou resumir. — diz com uma fala meio arrastada e me pergunto se ela costuma ficar bêbada quando têm as rodas de fogueira. Isso me faz ficar irritado, pois se fica como ela volta para casa?
— Diz a lenda que o meu tataravô discutiu feio com a esposa. Ainda era cedo e o bar ficava longe demais, para ele afogar suas mágoas. Então resolveu chamar seus amigos e isso incluía todos que trabalhavam na fazenda, e improvisou uma fogueira. Já estava clareando o dia quando ele voltou para casa pedindo perdão a mulher. Ela o desculpou porque o amava demais para ficar chateada com ele. No dia seguinte, ele teve a grande surpresa de sua colheita estar boa e de sua esposa estar grávida. — Jennifer bebe mais um gole e continua. — Coincidência ou não, sorte ou não, ele atribuiu isso a sua roda de fogueira.
— Com certeza é uma história e tanto. — murmuro, mas ela parece não ouvir e continua.
— Antes costumava ser toda semana, mas a cada geração vai se fazendo de um jeito novo e agora está como está. Uma vez por mês regado com comida, música e muita bebida. — cantarola e bebe tudo no seu copo para depois encher.
— Você costuma beber todos os meses? — e muito? Eu quis acrescentar, mas fiquei quieto.
— Não... Eu costumo ficar pouco tempo aqui, mas hoje resolvi esticar meus minutos. — diz sorrindo e volta a falar com Roger.
Olho ao redor tomando a decisão de ficar com Jennifer até o momento que ela quiser ir embora, porém certa inquietude me atinge e tomo respirações mais longas e fundas. Não é hora para um dos meus ataques. Estou em um lugar seguro, mas de alguma forma é como se estivesse naquele dia, quando fui pego de surpresa por uma bomba. A música, as conversas, a luz do fogo crepitando no mais absoluto silêncio... Sinto uma mão pequena em meu ombro e vou em direção dela encontrando seus olhos.
— Está tudo bem? — sua voz doce me tira um pouco do transe e pego sua mão beijando as costas. É tão macia e penso que seu corpo deve ser assim também.
— Sim, tudo bem, não se preocupe.
— Está tenso. — ela me ignora e se aproxima mais. Nem mesmo o cheiro do álcool tira o perfume de rosas. — O que houve David?
Com hipnotizantes olhos, me desarmo totalmente. Seus olhos realmente lembram a cor de uma avelã. Ela é irresistível e qualquer coisa que me pedisse, eu faria sem retrucar.
— É que há muita gente aqui. — confesso em sussurros e vejo seus olhos vasculhar o lugar, parando em mim em seguida.
— São todos amigos, não há perigo aqui. — murmura gentil e acaricia um lado do meu rosto. — Não comigo por perto.
Seu último comentário me faz sorrir e segurar o riso fazendo-me esquecer momentaneamente na fogueira.
— Verdade? — interrogo e vejo seus lábios entreabrir.
— Eu te protejo. — sussurra com olhos grandes e me imagino avançar para ela, mas Jennifer sorri e volta a falar com todos.
Faço um pequeno arranhar de garganta, observando que ninguém notou que fui rejeitado. Fui? Tive a impressão de que ela queria tanto quanto eu. Olho ao redor e sinto que todos estão aqui. Isto está virando uma festa ao ar livre. Alguns homens dançam com suas parceiras enquanto outros tropeçam. Contentei-me em ver o fogo consumir a madeira tendo respirações longas de vez em quando. De repente, o descanso é quebrado por sons de tiros.
O barulho ecoou tão alto me assustando, me pegando de surpresa e só tive tempo de me jogar sobre Jennifer e escondê-la debaixo do meu corpo. O pipocar não parou parecendo aumentar a cada segundo. Meu coração bateu como um condenado e fechei com força meus olhos. Por favor, não de novo não!
— David! — ouvi alguém chamar meu nome e procurei assustado quem era. — David. — ela murmura segurando minha face. Era ela. Ela me chamava de forma carinhosa com olhos gentis. — São apenas fogos de artifícios. Olha para mim, estou aqui para protegê-lo lembra?
Pisco atordoado com suas palavras. Minha respiração luta para acalmar, assim como as batidas do meu coração.
— Fogos? — questiono atordoado.
— Fogos. — repete acenando sorrindo.
Vários sons ecoam mais uma vez e tremo assustado. Minha respiração aumenta e fico sem um olhar fixo.
— Parem com os fogos! Parem, parem! – ouço Jenny gritar e sinto seu corpo tenso. — Não há bombas meu amor... — sussurra e sinto suas mãos me abraçando. — Estamos na minha fazenda. Está seguro David.
Seus olhos cheios de lágrimas e cansados me tiram o foco. Tento relacionar sua frase com o momento. Estou em uma fazenda e não em um campo de batalhas. São fogos de artifícios e não bombas. E amor... Ela disse que sou seu amor.
— Jenny... — murmuro e ela sorri sonolenta.
— Você é incrível David e o respeito demais, mas tem que controlar as emoções.
Dou-me conta do vexame que fiz e me soco mentalmente por isso. Saio de cima de Jennifer a sentado no chão e olho ao redor não dando atenção para ninguém. Apesar de me conhecerem pouco, os funcionários sabiam que eu não faria nenhum mal para Jennifer, porém não queria saber o que estavam pensando nesse momento. Levanto-me e ajudo Jennifer a se levantar meio cambaleante.
— Vou te levar para casa. — aviso e tomo sua mão para uma caminhada.
Sou um condenado filho da mãe!
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