Jennifer Dunnes
Confesso que foi uma surpresa David aparecer assim do nada. Quando liguei para minha mãe, ela disse que Milena realmente havia ligado para informá-la, ela ficou chateada por não estar aqui para recebê-lo e foi bem explícita em ordenar que eu deixasse David à vontade. Só que agora, ele estava atravessando a porta de casa e eu ainda tentava entender o que havia dito para ele tomar tal decisão.
David é simpático e percebi que estava tentando ser cavalheiro comigo. Ele presenciou tudo de ruim que um ser humano pode fazer, e ainda assim, não era grosso e rancoroso.
Sinceramente? Eu achava que um homem do exército costumava ser rude e frio. Comprovei o contrário. Isso serve para eu deixar de julgar sem antes conhecer. Meus pés finalmente se movem e corro para fora observando David jogar sua mala de mão no banco de trás de sua picape.
— Espera! — falei alto chamando sua atenção. Ele girou sobre os pés me fitando de longe. — Por que vai para uma pousada? Minha casa tem vários quartos!
O sol de fim de tarde dava uma coloração avermelhada em seus cabelos pretos. Pensei que nunca haveria de gostar de ver um homem sob o sol, mas a visão de David parado a metros de mim com uma incógnita em seu rosto fez meu cérebro trabalhar, e guardar essa imagem como uma foto.
— Eu pensei que... — David balbuciou algumas palavras e cruzei os braços em meu peito.
— Que o quê? Que não poderia ficar na mesma casa que eu? — interroguei observando seu olhar desviar para o carro um pouco envergonhado.
Tive vontade de rir. Um homem desse tamanho sem jeito? Passada a vontade, pus meus pensamentos a vapor. Com certeza foi gentil da sua parte querer dormir em outro lugar pelo simples fato de ficarmos sozinhos em uma casa, mas se nossas mães se conhecem de longa data e confiam uma na outra, poderíamos considerar o fato de sermos quase irmãos.
— Vamos, volte para casa, minha mãe me mataria se deixasse você dormir em outro lugar. — falo e observo David pegar as malas e andar mais confiante para mim.
— Para sua informação, só estava tentando ser gentil, sei que sou um estranho. — murmurou quando se aproximou e sorriu.
— Eu desconfiei que estivesse sendo gentil, porém para sua informação, eu também sou uma estranha.
— Mas você não me atacaria. — devolve e ergo meu queixo de modo atrevida.
— Isso significa que você faria tal coisa?
Sua resposta vem com um erguer de sobrancelha. Significa um sim ou que está surpreso com minha pergunta? Noto minha respiração acelerar assim como minha frequência cardíaca. Tudo isso por causa de uma sobrancelha ou com o fato de que ele me atacaria? Resolvo não entender e lhe mostrar a casa.
Entrei na cozinha minutos depois e aproveitei que estava livre por algum tempo para devorar a torta de chocolate que me esperava na geladeira. A presença repentina de David não havia tirado minha fome e apesar de não ser uma janta propriamente dita, fiquei satisfeita com a quantidade de açúcar, mais a frente me renderia a uma boa noite de sono. — Posso ter um pedaço? — sua voz soa divertida e me assusto levemente com sua entrada.
Ele não percebe e continua a andar até o balcão.
Eu teria avaliado seu corpo mais uma vez, se seu sorriso não tivesse puxado meu foco, no entanto minha visão periférica de todos os ângulos notou que estava de regata e que ele era realmente grande e forte. Reprimo um suspiro e foco em seus olhos pensando ser mais fácil de conversar.
— Claro. — respondo quase em um estrangulamento vendo-o sentar na minha frente. Ajusto minha garganta e sorrio nervosa. Oh céus! Nervosa? — Os pratos ficam na prateleira atrás de você e os talheres na gaveta perto do fogão.
— Obrigado, mas gosto de comer usando as mãos. Fica mais... Delicioso. — murmura sem importância e procuro o copo para mais um gole de água fria.
— Me desculpe não ter algo mais sustentável para comer. Eu fiquei com preguiça de fazer alguma coisa para mim hoje e eu também não estava esperando por você.
— Por favor, já disse para não se desculpar.
O intruso sou eu.
Um intruso bem gostoso! Definitivamente não estou reclamando.
De onde veio esse pensamento? Observo David comer por alguns minutos, antes de sair às pressas da mesa. Olhar para ele nesse silêncio está fazendo minha mente ter pensamentos impróprios e me deixando perturbada cada vez mais.
— Eu vou... Separar um lençol e arrumar um quarto pra você ficar.
— Não precisa se preocupar em arrumar um quarto a esta hora, posso dormir no sofá hoje. — diz genuíno e sorrio sem jeito.
— Não vai ser trabalho nenhum, termine de comer que eu volto daqui a pouco.
Sumi pela casa adentro antes que ele falasse algo mais. Nunca iria permitir que ele dormisse no sofá. Sem olhar para qual quarto de hóspedes entro, trato logo de trocar as colchas da cama e fronhas do travesseiro, em seguida, ligo o ventilador no máximo. O quarto era bem parecido com o meu. A janela grande e fechada ficava de frente para a cama e uma estante pequena para roupas. O fato de o cômodo ser grande destacava o quanto limpo e o quanto vazio era o ambiente. Surpreendo-me em saber que Isabel, nossa empregada, cuida tão bem da casa inteira.
— Esse será meu quarto? — sua voz me pega de surpresa me fazendo pular do meu canto, ele ri ligeiramente com o susto. — Me desculpe, não sabia que estava tão entretida.
— Tem que parar de fazer isso. — aviso tomando respirações longas e me junto a ele na porta. — Vai ser seu lugar durante o tempo que precisar. Espero que goste.
— Está de bom tamanho para mim, obrigado.
— Bom, vou deixar você se acomodar. Se por acaso sentir fome e sede, não tem problema em atacar a geladeira. Pelo seu tamanho, com certeza deve ter fome.
Não acredito que disse isso!
Ouço seu riso novamente e sorrio junto para não ficar sem graça.
— Sinto que devo ficar mais tranquilo em saber disso. — diz divertido e balanço minha cabeça.
— Eu sinto que deve mesmo, bem, eu vou para meu quarto, hoje o dia foi cansativo.
— Tudo bem. Você se importaria se eu... Apenas verificasse se tudo está fechado? — pergunta sem jeito e noto seus olhos necessitados.
— Não me importo, mas não é necessário David, esse lugar é tranquilo. — falo amável enquanto ele suspira.
— Eu vou verificar mesmo assim. Proteção nunca é demais. — diz levantando os ombros em forma de desculpas, mas sorriu mostrando que está tudo bem.
Tenho que lembrar que ele passou anos na mira de perigos constantes. Não deve ser fácil esquecer todas as manias e táticas para ficar livre de qualquer coisa. Eu realmente tenho admiração e respeito por pessoas que lutam por nós, mas não gosto de ver as cicatrizes que deixam neles. Sorrio de modo aceitável e toco seu braço levemente.
Um erro! Senti seu músculo mexer debaixo
de minhas mãos e me atrevi a não tirar rapidamente como uma ovelha medrosa. É apenas um braço Jennifer e não uma tocha com fogo ardente...
Pensando bem, parece sim uma tocha bem ardente.
— Se é assim que quer, fique à vontade David. — murmuro e corro para o meu quarto que fica à sua frente.
Gemo internamente. Eu devia ter visto a localização antes. Não ouso olhar para trás e entro como um furacão, sabendo que minhas bochechas estão em chamas, assim como minha mão.
Sua pele é quente e firme.
Será que vou ficar lembrando disso sempre? Troco minha roupa por um blusão mais confortável e deito na cama. Em poucos minutos ouço passos pesados mais ao mesmo tempo calmos pelo corredor. Provavelmente já fez sua rotina.
Acordo as cinco em ponto. Faço minha higiene matinal e um coque no alto da cabeça. Já planejo em minha mente o que fazer hoje, e fico feliz em saber que estou livre de tarefas. Posso me divertir cavalgando ou passar algumas horas na cachoeira. Abro a porta indo para a cozinha, mas um homem vindo a minha frente sem camisa me faz travar no lugar. Olho rapidamente sua tatuagem meio tribal toda preta em sua costela direita e inspiro carregando minha atenção para seu rosto.
Como pude me esquecer dele?
— Já de pé? — ele pergunta curioso e procuro minha voz rezando para parecer o mais normal possível.
— Quando se mora em uma fazenda é preciso. — alegro-me por sair normal e percebo que minha expressão se estende pelo rosto quando ele sorri. — Mas e você, porque de pé tão cedo? — Perdi o sono. — murmura, mas cerro meus olhos sabendo a verdade.
— Isso é mentira. Você também está acostumado a acordar cedo. — digo ganhando um assentir de pego em flagrante.
Involuntariamente percorro meus olhos por seus ombros nus. A cor branca em mistura com a tinta preta deixa tudo mais sensual. Mordo meus lábios ao ver sua barriga seca e musculosa. Acho que devo ter mordido meus lábios mais que o normal, pois desperto de meu devaneio ao sentir uma mísera dorzinha. Limpo minha garganta fitando uma parede.
— Eu estava indo tomar um café, quer se juntar a mim?
— Claro, só vou por uma camiseta e já te encontro na cozinha.
Quase o impeço de fazer isso, mas me calo e
fico parada presa a parede enquanto ele passa por mim. O corredor não é tão estreito permitindo passar a vontade por ele, porém sou capaz de sentir a quentura do corpo de David e o cheiro do seu perfume. Tomo a decisão de olhar para ele que sorri para mim me levando ao sofrimento. Não deveria sorrir como um cachorro sem dono.
Finalmente deixo um suspiro sair ao ouvir a porta do quarto se fechar. Tento listar maneiras de sobreviver ao David, até minha mãe voltar e desconsidero o fato de ter achado que poderíamos ser como irmãos. Esse foi realmente um pensamento absurdo.
Estou realmente encrencada...
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Comments
Sarah Mylla
toda essa descrição fez voltar no tempo kkkkk um certo bombeiro que por acaso tinha o mesmo nome 🔥🤪
2024-06-11
0
Rita Gomes
muito bommm
2023-09-28
1
Rosane Aparecida Baru
maravilhoso
2023-07-24
0