David Peterson
Quase suspirei ao ver a casa. Eu tinha que deixar Jennifer e faria ainda hoje e isso não tinha nada a ver com o beijo que demos. E que beijo! Tive tantas mulheres e beijei tantas bocas, mas não me lembro de ter me sentindo tão bem como foi com Jennifer.
Eu a quero incondicionalmente, mas não posso me envolver com ela agora, ainda mais do jeito que estou. Acabei de sair de batalhas e minha mente ainda não consegue perceber que não estou mais naquele caos. Se eu fosse outro homem, estaria nesse exato momento amando Jennifer naquela cachoeira. Se eu fosse outro homem, me aproveitaria de seu corpo para tirar toda a tensão acumulada que estou sentindo, e isso é apenas por ela.
Foi um beijo e estou praticamente de quatro.
Nunca conheci uma mulher que me deixasse assim. Suas curvas moldadas em mim, seus olhos doces e ansiosos, seu gosto delicado me lembrando sorvete de creme, seus lábios pequenos e desejosos e suas mãos curiosas me acariciando. Céus! Não serei capaz de esquecer nunca esse momento, até porque de algum jeito a machuquei.
Aperto meus braços um pouco mais em volta da sua cintura e afundo meu rosto em seus cabelos inspirando o cheiro que está mesclado ao meu por causa da minha camisa. O cavalo para e ela relaxa deitando a cabeça sobre meu ombro.
— Me desculpe. — sussurro em seu ouvido e pulo saindo do cavalo.
— David! — ela me chama impedindo que ultrapasse a porta e viro-me a vendo ainda no cavalo.
Meu coração se enche de... Não sei, mas toda vez que a olho me sinto completo. Mesmo com os cabelos molhados e emaranhados pelo rosto, ela é linda. Neste momento está mais para uma Amazonas. Ela desce com leveza do cavalo, mas seu rosto contrai por segundos. Solto uma respiração curta e inconformada. Sei que fui o causador dessa expressão, devo ter machucado suas costelas. Sinto raiva de mim mesmo e vergonha também.
— David, por favor... — ignoro seus olhos inquisitivos e vou para o quarto.
Após um banho rápido e de roupas secas, deito em minha cama e o cheiro de comida atinge o quarto. Jennifer deve estar na cozinha e aproveito o momento para ligar para a única pessoa que talvez me entenda e que de algum jeito já passou por momentos angustiantes, mas consegue sempre superar as artimanhas do destino.
— Estava para te ligar cara. — sua voz ansiosa me leva a outra perspectiva.
— Aconteceu alguma coisa?
— Aconteceu. — ele suspira e sento-me na cama preocupado.
— O que foi Gael? Está me deixando nervoso.
— Você vai ser TIO! — grita gargalhando e arqueio as sobrancelhas.
Tio? Não tem como eu... Não acredito que ele já engravidou sua garota!
— Não me diga que você...
— Isso mesmo cara. Vou ser pai, acredita nisso? Sou o homem mais feliz desse mundo.
Sorrio com a felicidade do meu irmão e me
deito novamente agora mais tranquilo. Ele é apaixonado por Meg e confesso que ele tem sorte. Ela é uma mulher incrível, além de linda. Quando ele foi me buscar no aeroporto, e Noah me falou sobre a possível paixão de Gael, nunca imaginei que ele estaria para ser pai. Lembro que ele negava e dizia que era só atração... Filho da mãe, aposto que já sabia que a amava.
— Eu vou ser tio... — murmuro testando a palavra. — Lembre-se de que eu serei o padrinho.
— digo e ele ri do outro lado.
— Vai ter que brigar com Noah por isso.
— Não importa, eu serei o melhor tio. — enalteço e sei que ele deve estar revirando os olhos.
— Ok, ok. Mas aí, está tudo bem contigo? Já conseguiu se adaptar? — ele pergunta e suspiro ao telefone.
— Estou indo. Aqui é fácil e mais tranquilo
de se viver.
— Mas... — me incentiva a continuar e fito o teto de meu quarto.
— Sabia que a amiga da mamãe tem uma filha? Uma mulher bastante linda por sinal.
— Então está com uma boa companhia.
— Parece que sim. — resmungo e o telefone fica mudo por instantes.
— David, o que está acontecendo?
Agora chegou ao ponto crucial. Sei que ele não vai me julgar e nem dizer que estou sendo um frouxo, vai entender minhas razões.
— Quero voltar Gael. — exponho cansado. — Vou continuar com o tratamento de antes e por aí mesmo, posso conseguir uma casa mais afastada, sem muitos vizinhos e...
— Por que isso, David? — ele me interrompe inquieto. — Acabou de dizer que é tranquilo viver aí, que tem uma mulher bonita para te fazer companhia, sem segundas intenções eu digo, mas por que quer voltar?
— É justamente por causa dessa mulher. — confesso.
O telefone fica mudo e sei que a cabeça do meu irmão está dando voltas. Eu falei que nunca na minha vida teria uma mulher, que nunca iria me amarrar em uma, que nunca me apaixo... Não pode ser. Estou apaixonado por Jennifer. Todos os toques, os olhares, as palavras jogadas e o único beijo, tudo transformado em paixão. Por isso meu receio em machucá-la, por isso a vontade de cuidar, de se fazer presente em tudo o que ela faz... Por isso o medo de ficar tão próximo. Juntos eu só teria a certeza de que a quero mais do que um dia, mais do que uma noite... A quero para o tempo que me for permitido.
— Você gosta dela? — Gael pergunta estático e sorrio triste com a descoberta.
— Acho que é mais que isso.
— Não me leve a mal David, mas estou com uma imensa vontade de te sacanear cara. — diz e continuo calado, sei que ele está se segurando para não rir da minha cara. Eu disse que nunca aconteceria isso comigo e olha onde estou! — Não pense que vai escapar de mim e Noah depois, por enquanto vejo que o assunto é sério.
— Quando soube que estava apaixonado por Meg? — indago ignorando suas palavras.
— Foi quando percebi que não podia mais ficar longe dela. — diz com ternura e arfo por sentir o mesmo com Jennifer.
— Entende agora?
— Mas você está querendo voltar David, como posso entender?
— Os anos na guerra acabaram comigo irmão. Apesar de aqui ser tranquilo, ainda tenho meus surtos e em um desses, acabei por machucar Jennifer.
— Poxa vida! — exclama temeroso. — Sei como isso pode ser horrível, e ela está bem?
— Sim, não foi algo tão grave, posso ver nos olhos dela que me repreende por culpar a mim mesmo, é só que... Não posso ficar perto dela, não nesse momento, não quando sou uma bomba relógio.
— Eu compreendo cara, mas já falou sua decisão para a Jennifer?
— Não... Na verdade, não sei nem como vou fazer isso. — comento e ouço-o arfar preocupado, sei que se pudesse resolvia as coisas por mim. — Não se preocupe Gael, eu apenas precisava falar com alguém. Você está tão feliz e não deixe que meus problemas interrompam isso.
— Você é meu irmão David e vou estar do seu lado sempre. Se decidir realmente voltar, vamos ver uma casa juntos e colocar sua cabeça de volta nos eixos. Eu estou muito feliz e desejo essa felicidade para você também, eu vou te ajudar moleque, só não a deixe escapar, quando a gente encontra alguém importante, é para sempre.
— Estou começando a ver... Obrigado Gael, agora vai paparicar sua mulher. — murmuro divertido e nos despedimos.
Deixo o celular no criado-mudo e jogo minhas mãos para debaixo da cabeça sem saber o que fazer. As palavras de Gael têm peso em minha mente. Quero ser feliz como meu irmão é, e ao mesmo tempo não quero perder Jennifer, não quero machucá-la. Peso as alternativas que tenho e chego apenas uma conclusão.
A mesa está arrumada quando chego à sala. Jennifer atravessa a porta saindo da cozinha e sorri assim que me vê. Ela parece leve e radiante, provavelmente está tentando me fazer sentir bem depois do pequeno acidente.
— Estava indo te chamar. Vamos almoçar?
— pergunta pondo uma travessa de salada na mesa.
— Preciso falar com você. — digo em suas costas, seguindo-a até a cozinha onde ela para se apoiando na bancada da pia.
— Se vai falar sobre o beijo, não se preocupe. Sei que não vai acontecer de novo. — a força de suas palavras quase me trai, mas diferencio a valentia da tristeza. Jenny se vira me olhando rapidamente nos olhos, desviando em seguida. — Mas tenho que dizer que não me arrependo.
As diversas emoções que ela me transmite mostra que está confusa e de alguma forma me sinto aliviado com sua última declaração. Tenho vontade de abraçá-la e dizer que tudo vai ficar bem, que ela pode confiar em mim. O problema é que não confio em mim mesmo.
— Também não me arrependo de beijá-la... Foi a melhor coisa que fiz na vida. — confesso e ela sorri esperançosa, mas isso dura apenas segundos até eu concluir e sua expressão tornar cuidadosa. — Mas o que fiz depois... Te machuquei muito?
— Não David, eu já nem sinto mais nada, foi apenas o momento. Por favor, esqueça.
Ouvir isso me destrói. Ela estava sentindo dor, uma dor que eu causei. Quase sou levado a esquecer com seu pedido, mas tenho que lembrar que isso pode acontecer novamente.
— Eu tomei uma decisão Jenny e espero que entenda. — digo firme e vejo seu rosto tomar uma cor mais pálida.
— Que decisão David? — sussurra apreensiva.
— Eu vou voltar para minha casa.
O silêncio ensurdecedor parece estourar meus tímpanos. Noto as expressões de Jennifer passar de entendimento a dor e enfim, a passiva. Em nenhum momento dirige seu olhar a mim e me aproximo pegando suas mãos levando a meus lábios e sua cabeça pende para meu corpo. Não sei o que está pensando e nem que tipo de conclusões ela está chegando. Não quero que ela pense que estou rejeitando-a.
— Fale alguma coisa Jenny, por favor, qualquer coisa. — peço controlando meu desespero.
Minha fala parece trazê-la de volta e se afasta rapidamente para a mesa pegando uma segunda travessa de comida.
— O almoço vai esfriar, é melhor a gente ir... — inicia, mas pego a travessa deixando-a de volta a mesa.
— Não ignore isso, Jennifer. — digo mais duro do que deveria e ela arfa finalmente me olhando.
Os olhos vermelhos e duros não me assustam, mas doem como lâminas em meu corpo.
— Não ignorar? — ri sem vontade e continua. — O que quer que eu diga? Que não vá? Isso vai mudar alguma coisa? — cospe com fúria e fico confuso.
Não pensei que ela me queria por perto. Tive medo que ela pensasse que estivesse negando-a, mas agora vendo sua indignação a minha decisão, começo a pensar que ela possa sentir algo por mim.
— Quer que eu fique? — pergunto embasbacado.
— Não parece óbvio? — diz com sarcasmo e se afasta me dando as costas.
De verdade não sei se fico feliz ou mais temeroso. Se ela me quiser por perto, não vou conseguir me afastar e a desejo demais para ignorar qualquer pedido seu, porém, toda vez que me lembro da cachoeira... Preciso me segurar nisso para me manter longe e por Deus, isso vai ter que servir.
— Nada está óbvio para mim Jennifer. — exponho, mantendo a calma. — Eu lhe machuquei e nem sei como não fiz isso da primeira vez que tive meus ataques.
— Eu disse que ia te ajudar, por que não me deixa? — indaga fracamente me fazendo me sentir um completo imbecil.
Fecho meus olhos por um breve momento. Maldita hora que resolvi vir antes, talvez com sua mãe aqui isto não estivesse acontecendo. Aproximamo-nos cada dia mais e temo que agora compartilhemos do mesmo sentimento. Não queria fazê-la sofrer. Droga de vida! Abro meus olhos e vejo que ela ainda está no mesmo canto. Fecho a distância entre nós a abraçando, suas costas descansam em meu peito e aproveito para sentir seu perfume de morango.
— Aprecio muito sua ajuda, seu carinho, mas preciso de um profissional que entenda do assunto. Não quero correr riscos de te machucar. — sinto seu toque em meu braço e me permito sorrir. — Você se tornou importante em tão poucos dias.
— Eu posso dizer o mesmo. — assegura e a aperto um pouco mais em meus braços. — Tem mesmo que fazer isso?
— Tenho. — digo tentando parecer mais firme. Ela se mexe virando em meus braços, descansando as mãos pequenas em meus músculos.
— Pretende voltar depois? — Jennifer não me olha ao perguntar e isso me pega de surpresa.
Ela está achando que vou sumir de vez? Será que ela ouviu a parte em que se tornou importante para mim? Encaixo meu dedo em seu queixo levantando seu rosto.
— Eu seria louco se eu não voltasse. — comento e ela sorri. — Até lá espero estar... — ergo meus olhos pensando e murmuro sorrindo. — Noventa e nove por cento bem.
— Eu digo que vai estar cem por cento, eu sei que vai. — diz e volto a olhá-la.
Jennifer sorri lindamente para mim, mas não vejo o mesmo em seus olhos grandes, tristes e lacrimejantes me fitando. Deslizo um dedo por sua mandíbula descendo por seu pescoço e sou molhado por sua lágrima. Levanto seu corpo colocando-a sobre o balcão e beijo seu rosto gentilmente.
— Não chore, por favor... — peço e ela acena com a cabeça.
De repente ela me beija e fico maravilhado com sua ação. Deixo que ela comande de forma lenta enquanto acaricia meus cabelos e minha nuca. Incrível como nos encaixamos. Seus lábios deixam os meus para atacar meu pescoço e gemo de satisfação.
— Fica pelo menos hoje, por favor. — ela pede e afasto-a para vê-la.
— Com toda certeza, amor. — afirmo e admiro seu sorriso.
Minha intenção era ir hoje ainda, mas posso
esperar até amanhã. O que não faço por um sorriso dela.
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