David Peterson
O carro finalmente parou depois de girar duas vezes. Meu corpo doía por completo e um líquido quente deslizava por minha testa. Que diabos! Como isso aconteceu? Vejo do lado de fora o carro que me atingiu tombado, um homem tenta sair rastejando, mas ignoro. Só então noto o silêncio, sem gemidos, perguntas ou choro. Viro meu rosto rápido para ver Jennifer e fico assustado.
— Jenny? — chamo-a baixo quase num sussurro. – Jennifer! — entro em pânico sem ter uma resposta.
Solto meu cinto e mexo meu corpo dolorido para tocar seu rosto, um alívio me percorre ao saber que está viva.
— Jennifer amor, acorda... Jennifer? Vamos, amor... Jenny abra seus olhos. — peço balançandoa e meu alívio momentâneo desaparece. Por que ela não acorda?
Meus olhos fervem de lágrimas, mas seguro. Tateio no bolso da calça meu celular, por sorte ainda está inteiro e digito o número do meu irmão, sei que vai me ajudar.
— Não esperava que fosse ligar tão cedo, o que foi não sabe mais como transar? — pergunta divertido e ignoro.
— Gael, houve um acidente. — digo em desespero e saio do carro. Que bom que estou andando. Noto minha barriga contrair e percebo que tenho um corte no lado esquerdo. Como fiz isso?
— O quê? Com você? — pergunta com tensão e voz trêmula.
— Sim, eu estou bem mais a Jennifer não
acorda... Um carro atravessou o sinal e... — arfo em desespero e me ponho em lágrimas. — Ela não acorda, Gael.
Tenho certeza que meu irmão nunca me viu tão fraco. Sempre fui um homem forte, sempre mostrei compostura diante de notícias e acontecimentos, mas esse, envolvendo Jennifer me derrubou.
— David, me escute, Jennifer tem batimentos cardíacos? — interroga depois de um tempo e olhoa fora do carro.
— Sim, está respirando mais não acorda.
— Ótimo, isso pode significar que ela apenas desmaiou, David. Quero que veja se o carro há perigo de explosão, se sim, tire-a com cuidado, não a movimente muito, mas se não houver riscos, deixe-a no carro. Eu estou indo lhe buscar e vou chamar um carro de bombeiro e uma ambulância. — sento no chão após ver tudo que me disse, não há perigos, mas ela continua imóvel. — Ouviu David? Fale comigo! — ouço a voz dura de Gael e finalmente falo.
— Sim, não tem perigo... Apenas venha logo.
Desligo depois de lhe dar o endereço. Puxo meus joelhos para cima e descanso meus braços vendo o corpo parado de Jennifer pela janela quebrada do carro. O rosto tem alguns cortes e do lábio sai sangue, sua cabeça pende para o lado da janela que antes existia. Meu coração está estraçalhado por vê-la assim e mais lágrimas surgem me fazendo rugir.
Isso dói! É cruel e horrendo. Chega a ser ridículo um homem que enfrentou guerras piores a cada uma que surgia, abalado com isso. O problema é que ninguém nos prepara para o amor, para a possibilidade de perder alguém que ama.
Nunca imaginei que meu coração estaria nas mãos de uma pequena e atrevida fazendeira. Minutos depois é possível ouvir o som das sirenes e logo em seguida sinto mãos me tocando.
— David? — Gael me chama com certa calma. — Vamos cara, saia desse chão, preciso saber se está bem.
— Não vou sair daqui. — digo firme sem tirar os olhos de Jennifer.
— Não vai ajudar em nada ficar só olhando. — Noah diz ao meu lado agachado. — Deixe os paramédicos fazerem o trabalho, precisa sair de perto.
— Não quero. — sussurro.
— Se quer vê-la fora daquele carro, precisa sair de perto. — Gael engrossa e aperto minha mandíbula.
Levanto do chão e tomo certa distância. Uma mulher vestida com roupas elegantes toma minha frente verificando minha testa onde tem um ferimento. Olho ao redor vendo polícia, bombeiros e paramédicos se movimentando pelo lugar. Pego o vislumbre de meus irmãos preocupados e sérios, com trajes de gala. A mulher ergue minha blusa checando o corte em minha costela para depois olhar para Gael.
— Ele está bem, um pouco abalado eu diria, quanto ao corte na testa e nas costelas, precisará apenas de alguns pontos. — diz séria e Gael acena agradecido. Quem é essa?
— Pode acompanhar Jennifer? Quero saber tudo sobre seu estado quando chegarmos ao hospital. — meu irmão diz e enrugo a testa indignado.
— Não, ela não vai. Eu vou com ela.
— David, ela é médica do Corpo de
Bombeiros, ela vai ficar por dentro de tudo e saberemos mais sobre o estado de sua Jennifer. Estaremos no hospital quando ela chegar e você estará bem mais composto quando ela acordar. — Gael explica, mas nego com um balançar.
— Olha cara, eu sei que deve estar sendo difícil, mas deixe-a ir, será melhor se tivermos notícia, sabe como os enfermeiros costumam ser evasivos. — Noah reforça e arfo com angústia.
Não quero deixá-la, mas tenho que saber de sua condição. Ainda relutante afirmo, a moça se afasta entrando na ambulância e dou uma última olhada em Jennifer deitada na maca, antes de fecharem a porta. Entramos no carro de Noah e partimos para o hospital. Nenhum de nós pronuncia uma palavra até chegarmos. Já no hospital, levo alguns pontos e tiro o terno que ainda usava, desfaço dois botões da camisa branca próximo ao meu pescoço e procuro um banheiro para lavar minha cara.
Quando levanto os olhos para o espelho em minha frente, vejo um homem destruído. Se eu tivesse ido ao seu encontro, se eu tivesse tido forças para nunca ter saído do seu lado, se eu tivesse ficado mais tempo no sinal aberto... Tantos se, mas nenhum minha culpa. Sei que não posso ficar me culpando. Não é justa a maneira como as coisas acontecem, mas não posso me portar como causador de tudo. Dou uma última olhada no espelho, parecendo agora mais confiante. Quando volto para sala de espera, vejo Gael conversar com a médica que foi com Jennifer e corro para ter informações.
— Como ela está? — pergunto nervoso e recebo seu sorriso simpático.
— Bem. Já fez alguns exames e não há
contusões, ela apenas desmaiou após bater com a cabeça.
Finalmente respiro aliviado e recebo algumas tapas nas costas vindo do meu irmão em forma de conforto.
— Onde ela está? — pergunto ansioso para vê-la.
— No quarto 102, descansando. — ela diz e aceno.
— David, antes de ir queria falar contigo. — Gael começa cauteloso e noto a médica sair em silêncio.
— O que aconteceu?
— Bom, acontece que quando você me ligou, mamãe estava por perto. Ela ouviu uma parte da conversa, ficou nervosa e a pressão acabou subindo, foi trazida para cá e já foi medicada. Ela está bem... Repito, ela está bem, só queria que você estivesse a par de tudo. — diz tranquilo e passo as mãos pelos meus cabelos, eu achei que ela já tinha ido embora. — Eu também tomei a liberdade de ligar para Mary, a mãe de Jennifer, consegui fazer com que ela ficasse tranquila e que não precisasse vir agora de noite, mas informou que amanhã estará aqui. – diz em aviso e aceno.
Pela segunda vez na noite respiro aliviado. Abraço meu irmão apertado. Ele fez muito por mim.
— Obrigado. — agradeço bagunçando sua cabeça. — Onde está a mamãe?
— Nesse exato momento? Deve estar com Jennifer. — ele sorri e faço o mesmo sentindo tudo voltar ao normal. Então lembro que hoje era um dia importante para Gael.
— Desculpe estragar sua noite, cara. — peço recebendo um espanar de mão.
— O que é isso David, você é meu irmão e de qualquer forma, Meg estava cansada demais para viajar ainda hoje. — justifica e olho ao redor.
— Como ela está?
— Depois de saber que você, Jennifer e mamãe estão bem, provavelmente dormindo. — fala com o pensamento longe e sei que ele queria estar com ela.
Na sala de espera, vejo Rose conversar com Liz. Rose deve ter vindo junto com mamãe e agradeço não ter carregado Phil com ela. Do lado oposto, cerro meus olhos ao ver Noah acariciar o ombro de Liz de maneira singela. A mulher parece alheia pelo simples toque ou talvez isso esteja bom demais para querer interromper.
— Quando Noah vai confessar que gosta daquela menina? — indago mudando o assunto.
— Quando tomar coragem! — Gael comenta olhando na mesma direção que eu. — Os dois combinam e acho que ela gosta dele também, senão, porque ainda estaria aqui? Talvez se nós dermos um empurrãozinho quem sabe. — ele promove e sorrio.
Noah gosta de Liz, nesse tempo que voltei do exército, ficou claro para mim que as brincadeiras e piadas que fazia com ela não passava de uma maneira de chamar sua atenção. Tirando o fato dele se preocupar com ela e de sempre a paquerar quando a vê. Talvez ele precise de uma ajuda.
— Podemos chamar a Rose e planejar algo, tenho certeza que terá boas ideias, no entanto, ele precisa assumir que gosta. Não tenho certeza se sabe da existência de tal sentimento, mas depois pensamos... Agora preciso de certa pessoa e você deveria voltar para sua mulher.
Saio deixando um Gael de olhos brilhantes e
sorriso no rosto. Abro a porta com cuidado vendo minha mãe rir junto com Jennifer. Meu peito se enche por ver as duas conversando sem nenhuma preocupação. Elimino o resto de medo que ainda tinha em mim e me aproximo. Jennifer é a primeira a me ver e dá um sorriso angelical, de algum modo me sinto tímido e honrado por ter esse sorriso.
— Oh, ele chegou mocinha. — escuto minha mãe brincar e paro ao seu lado beijando sua testa.
— A senhora não deveria estar descansando?
— pergunto com certa ironia e ela revira os olhos.
— Já estou me sentindo bem, fiquei apenas assustada com a situação. — diz me apertando em seus braços. — Fico tranquila em vê-lo bem, meu menino. — murmura e sorrio com seu tratamento. Seus olhos brilham intensos piscando e se vira para Jennifer. — Eu já vou indo, agora sei que está em boas mãos. Fiquem com os anjos.
Ela me abraça outra vez carinhosa e em seguida beija a testa de Jennifer que sorri agradecida. Parece errado ela dizer que Jennifer está em boas mãos quando ela se acidentou exatamente pelas minhas mãos. Não, não foi minha culpa. Quando ficamos a sós, sento em sua cama e ela faz o mesmo. Não dizemos nada, apenas sentimos a presença um do outro tendo nossas mãos como ligação até o momento que ela rompe o espaço vindo para meu colo. Suspiro ao senti-la tão perto. Seu rosto encaixa em meu pescoço e inspiro seu perfume em seus cabelos.
— Eu tive tanto medo. — ela sussurra e aperto mais meus braços ao seu redor sendo incapaz de ouvir sua voz quebrada pelo susto que passou.
— Não vamos mais pensar nisso amor...
Você está bem, eu estou bem e é isso que importa.
Seu rosto levanta me olhando apaixonada e deslizo meus dedos por sua bochecha, onde alguns cortes finos e vermelhos se fazem presente, mesmo assim, continua tão linda quanto antes.
— Eu te amo. Muito. — sussurra e sorrio beijando seus lábios.
— E eu amo você. — distribuo beijos pelo seu rosto e desço por seu pescoço o que a faz rir, aprecio esse som. – Eu te amo muito, Jenny. — digo outra vez e deitamos sobre a cama desconfortável.
Agora com ela em meus braços, consigo relaxar todo o corpo e a mente. Suspiro mentalmente com o revirar da noite. Incrível como tudo muda em segundos, no meu caso que já viveu em um mundo obscuro por tanto tempo, é difícil acreditar que posso estar em um céu tranquilo.
A vida é mesmo uma surpresa e nossas
escolhas nos levam a lugares diferentes. Escolher o exército me levou ao inferno, mas foi por causa dele que finalmente estou no paraíso. Talvez nunca conhecesse Jennifer se não tivesse passado por todas essas provações e esse pensamento embrulha meu estômago. Sorrio em segredo agradecendo a sorte que tenho, quer dizer, sorte ou não, quem tem a possibilidade de ir do inferno ao paraíso?
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Comments
Vilza de Souza
Vc seu idiota.
2023-11-03
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