Christian Rohan
Eu não costumo sair da minha loja, não quando se é preciso, mas o jardineiro que cuida das plantas dos clientes que tenho, e que por sinal, é meu único funcionário, está doente. Quando algo do tipo acontece, eu tenho que cobrir as visitas. A falta de funcionários não se deve ao pouco dinheiro, pelo contrário, meus negócios vão muito bem. O caso é que a floricultura que tenho em Seattle serve apenas para manter-me ocupado, há uma loja maior, mais ao centro da cidade, aonde vou a cada quinze dias, checar o andamento das produções.
Então, quando meu jardineiro falta, tenho que pôr a mão na terra. Não é ruim, pelo contrário, gosto de cuidar das plantas, porém, são tantas coisas para resolver que tirar esse tempo vai me custar as horas de folga que tenho. Estava empenhado nas tulipas e agachado sobre elas, quando vi uma mulher passar por trás de mim. Olhei de relance imaginando que estava com sorte por topar com uma mulher terrivelmente linda no meio do expediente.
A loira de olhos verdes tremia no banco de jardim, posicionado diante de uma fonte de água que no momento não funcionava. Ela não havia me visto quando correu terreno adentro desabando no banco, se tivesse não estaria no estado de calamidade em que se encontrava. Peguei uma entre as várias tulipas que cultivava, limpei minhas mãos em meu jeans e lhe ofereci. Lembrei de quando minha mãe disse que dar flores a uma mulher podia melhorar seu mundo. Não pude deixar de reparar na cor selecionada. O roxo. Tulipas roxas significam tranquilidade e paz, era o que desejava para ela nesse momento.
Fiquei extremamente satisfeito que isso aconteceu quando ela se refugiou na casa, mas dada as circunstâncias e se tratando de Rose Peterson, ainda choraria em seu quarto. Não sou nenhum médium para saber disso, eu apenas escutei, das poucas vezes que fui obrigado a vir aqui, Milena contar sobre seus quatro filhos. Só não estava preparado para saber que a doce e romântica Rose, fosse tão bonita.
Não foi de propósito que usei meu cavalheirismo para com ela, apenas queria lhe dar a atenção devida e... A quem quero enganar? Naquele momento, queria apenas ser seu príncipe.
Fito a terra já adubada e vou em busca de água. Francamente, não sei o que deu em mim, para dizer que estaria sempre nos jardins de sua mãe. E quando Frederico, meu empregado, já estiver com saúde? Devia ter dito logo que era dono de uma floricultura, e que se precisasse de algo, podia me ligar. Lembro de seu choro compulsivo e como isso me incomodou, passou pela minha mente, perguntar quem havia sido o canalha e lhe dar uma boa surra, mas enfim, sou um desconhecido e nem mesmo sei o motivo de tal choro, pode ser apenas uma notícia ruim em seu trabalho.
Voltei para a loja depois de cuidar das plantas, sabia que provavelmente voltaria quintafeira, mas não tinha certeza se a veria de novo. Uma mulher tão bela como Rose, deveria ser tratada como rainha, ou como sua mãe mesmo fala, uma princesa. Fiquei surpreso por ela não aparentar ser tão patricinha e mimada, pelo que a mãe falava, Rose parecia ter saído de um conto de fadas. Talvez a mãe não perceba o quanto ela é forte, ou Rose sonha em um dia ser como a Cinderela, mas não pelo sapato de cristal, mas sim pelo amor.
— Qual é chefe, parece que viu um passarinho verde? — zombou Sebastian do outro lado do balcão e me dobrei sobre a madeira para pegar o colarinho da sua blusa.
Diverti-me com seus olhos arregalados e sorri travesso.
— Na verdade, foi um passarinho loiro.
— E isso mudou completamente seu humor da manhã. — murmurou atrevido e lhe dei um olhar sério. Desde quando meu humor é para ser observado?
Confesso. Minhas manhãs nunca são as melhores, e hoje estava de partir uma pessoa em duas até tropeçar em Rose que isso mudou. Ela realmente mudou meu humor, talvez porque ela estava pior que eu.
— Como está o Frederico? — perguntei sobre o meu jardineiro, mas sua careta me disse notícias ruins.
— Nada bem chefe, ele está com uma gripe forte. Disse que até sair da cama está difícil.
Passei minhas mãos em meu rosto subindo pelos cabelos, porque não tinha outro jardineiro de reserva? Pelo jeito, terei que lhe dar uns dias de folga.
— Quantas casas ele visita Sebastian? Não deve ser muitas, já que começamos este tipo de negócio há pouco tempo.
— Apenas quatro durante a semana, sendo da senhora Peterson duas visitas. O horário é o mesmo chefe, das nove às onze.
Aceno lembrando-me do contrato feito, Sr. Peterson foi bem perspicaz em querer alguém duas vezes por semana, apesar dos esforços de sua esposa em persuadi-lo em somente uma visita. Ela gosta de mexer com a terra, mas a idade não permite ficar agachada por muito tempo, as costas começam a pedir sossego, apesar de ela não aparentar ser tão velha. Independentemente da idade é uma mulher bastante simpática e divertida.
— Tudo bem, estarei lá em cima no escritório, caso precise de alguma coisa, cuide das coisas por aqui.
— Ei chefe! A loira que mudou seu humor tem nome? — pergunta curioso e paro minha subida dando meia volta.
— Tem, "no olho da rua"! – digo cruzando os braços.
— No olho da rua? — questiona intrigado e junto os lábios com a cara do pobre rapaz.
— É onde você estará se continuar curioso e não estiver trabalhando. — tento ser o mais sério possível, o que não consigo vendo o espanto em seus olhos.
Meu riso sai alto e vejo o desgosto na face de Sebastian. É bom brincar com ele, quase sempre acredita nas coisas que digo. Subo a escada o deixando para trás resmungando de algo.
Sentado atrás da minha mesa, verifico o caderno de contabilidade. Quando meus pais morreram em um covarde assalto a mão armada, tudo ficou sendo meu. Acabei por fazer cursos pequenos de administração e contabilidade, para entender do assunto. Fiz algumas reformas nas lojas, ao longo do tempo, que apenas valorizou e melhorou o comércio. Tenho certeza que meus pais estão orgulhosos de mim.
Estico minha mão para pegar o porta-retrato onde a felicidade de um dia na praia ainda se fazia presente. Eu, apenas um moleque de sete anos, abraçado a minha mãe e meu pai, as bocas explodindo em sorrisos e os olhos mais brilhantes que um dia já tive. Peguei um peixe maior que o dele nesse dia, mas fiquei com pena do animal por estar fora da água, o que não deu tempo de mamãe pegar a câmera para uma foto. O telefone toca distraindo meus pensamentos, mas não tirando o sorriso dos lábios e assim fico até o fim do expediente.
Husky me recebe com um miado estridente assim que passo pela porta de casa. Poderia ser de boas-vidas, mas sei que é comida que o paspalho do meu gato quer. A bola de pelos amarelos se enroscou em minhas pernas enquanto tirava a camisa e minha mente me traiu de novo ao buscar imagens de Rose. Era só o que faltava ficar pensando na garota. Como se não bastasse atrasar o trabalho com perguntas de como ela estaria agora.
Sei que ela estaria chorando quando ela sumiu pela casa, e a essa altura seus pais já deveriam saber o que aconteceu e estão lhe dando o devido apoio. Talvez estejam jogando de mímica no sofá da sala para distraí-la, isso seria bom. No entanto, a vontade de saber se ela está bem me consome.
Coloquei a comida de Husky e busquei uma cerveja na geladeira, voltei para sala me acomodando no sofá descansando meus pés na mesa de centro, a TV continuou desligada e dei um bom gole na gelada em minha mão imaginando se teria a sorte de ver Rose outra vez.
Se por acaso tivesse, que ela estivesse sorrindo e não mais chorando.
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Comments
Sarah Mylla
🥰
2024-06-14
0
Vilza de Souza
Ja esta apaixonado
2023-11-04
1