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Combate do Amor

01

Jennifer Dunnes

Saí do banheiro depois de um banho relaxante apenas de calcinha e uma regata branca parcialmente transparente e me dirigi à cozinha para me refrescar com um pouco de água. Eu só não podia imaginar que um homem grande e musculoso estaria parado no meio de minha sala, esperando que alguém o recebesse. Talvez a sorte estivesse do meu lado, pois ele ainda não havia notado minha presença.

Meu nome é Jennifer Dunnes e vocês estão prestes a presenciar o maior constrangimento da minha vida.

Uma semana atrás.

Lavar os porcos não era minha atividade preferida e isso se tornava óbvio depois que eu terminava o serviço. Enruguei o nariz por causa do cheiro impregnado em minha pele e praticamente corri de volta para casa. Eu definitivamente não gostava de lavar porcos.

— Filha! — chamou minha mãe antes que eu entrasse no corredor para o meu quarto. Parei ofegante e vi seu vislumbre jovem apesar da idade.

Mary era mais nova do que os cinquenta e poucos anos que a idade apontava. Minha mãe sempre foi, e é, uma referência para mim. Soube cuidar da filha pequena de dez anos e administrar a fazenda Solar muito bem, desde a morte do marido.

Confesso que dessa época, só lembro o quanto eu chorei por saber que não veria mais meu pai. Minha mãe, porém reuniu forças e continuou tocando a fazenda com ajuda dos funcionários leais que tínhamos e ainda temos. Com o progresso, ela acabou comprando a fazenda Dunnes, no interior de Portland, que é onde moramos atualmente. Ela é pouco menor que a Solar, que ficava situada em Olympia, perto de Seattle.

Isso porque é na Solar onde se faz todas as produções de leites e queijos. Quando mamãe decidiu comprar a fazenda Dunnes, foi por um simples motivo: tranquilidade. Aqui ela não precisava ficar todo o tempo trabalhando e com uma fazenda menor, eu vou aprendendo aos poucos como tomar o controle dos negócios, até porque eu assumirei seu cargo quando ela se aposentar.

Apesar de não ter feito faculdade de administração, sei como as coisas funcionam de tanto acompanhar minha mãe em suas viagens as processadoras de leite, então não é como se eu precisasse de um diploma. Minha mãe, é claro, não aprovou minha decisão, ela preferia que a filha estudasse em vez de amansar cavalos, cuidar de hortas e lavar porcos.

— Sim, mãe! — respondi depois de recuperar um pouco do ar.

— Era Milena no telefone, uma amiga de longa data. — diz com sorriso e acompanho.

— Eu sei mãe! Ela vive nos chamando para passar o Natal e Ação de Graças com ela e nós nunca vamos. — falo cruzando os braços e encostando-me na parede.

— Não vamos porque temos trabalho no dia seguinte Jenny, você sabe disso. — ela repreende e mudo o assunto. Eu, no entanto, não era burra para saber que datas comemorativas ainda entristeciam minha mãe.

— Claro que sei. Mas quais são as novas?

— Seu filho mais velho, David, está vindo para cá.

Vinco minhas sobrancelhas, mas minha mãe não percebe a interrogação.

— Por que ele está vindo? — pergunto.

— Parece que David acabou de voltar do exército e precisa de um ambiente calmo e tranquilo. Ele deve passar um mês no máximo, até as coisas se ajeitarem para ele. — ela explica e dou de ombros.

— Tudo bem então... Quando ele vem?

Mamãe respira aliviada e devolve o telefone

ao gancho. Talvez pensasse que eu não fosse aceitar e não é bem isso o problema. Não gosto de estranhos pela casa e nunca conheci nenhum dos irmãos Petersons. Na verdade, só aceitei porque minha mãe mencionou que 'David' acaba de sair do exército. Suspiro sem que ela perceba. Como deve estar a cabeça desse rapaz? O quanto de coisas ruins ele deve ter visto? Tento focar no que minha mãe esta falando.

— Ele vem daqui um mês. Vai ser bom porque vou passar umas duas semanas na fazenda Solar, ver como as coisas estão... Enfim, quero estar aqui para recebê-lo quando ele chegar. — diz solidária e sorrio.

— Faça como quiser mãe, agora... — me interrompo olhando triste para meu corpo. — Me deixe ir tomar um banho que não estou aguentando meu cheiro. — faço uma careta. — Você devia contratar mais funcionários para fazer isso. — reclamo e ando para o banheiro.

— E perder sua cara de nojo? Não filha, obrigada! — gritou minha mãe e neguei com um sorriso sem dentes, no fundo eu gostava de cuidar dos bichos e ela sabia.

Fazer o que se está no sangue?

No fim de semana, mamãe se preparou para mais uma viagem para Olympia. Jorge, o encarregado da fazenda Solar, sempre vinha de carro para a fazenda Dunnes um dia antes, descansava em um quartinho preparado para ele e no dia seguinte voltava com minha mãe. Jorge é um homem bem-educado, competente e fazia tudo pela minha mãe. Sendo quatro anos mais velho que ela, cheguei a pensar que rolava algo entre os dois. Eu não seria contra, para mim, mamãe merecia um novo amor, mas para ela, o coração está fechado para paixões.

No fundo, sou bem parecida com mamãe quando tinha seus vinte e cinco anos. Loira, olhos castanhos e pele bronzeada de tanto sol. Sou parecida até no quesito amor. Cheguei a ficar noiva de um garoto em Seattle, mas tudo que ele queria era que eu me entregasse a ele. Perdi a confiança nos homens... Isso porque não quero sofrer outra vez. Pode parecer estranho, mas ainda sou virgem e me orgulho disso. Ainda acho que vou encontrar um amor como minha mãe fez um dia, só espero reconhecê-lo quando vê-lo na minha frente.

Despedi-me de minha mãe e de Jorge, e voltei para dentro de casa me dirigindo à cozinha. Duas semanas sozinha não é tão solitário, já me acostumei a ficar a maior parte do tempo ajudando os poucos funcionários da fazenda. Como cuidar da horta, dos cavalos ou dos porcos.

Na “tabela dos afazeres” estava escovar cavalos. Sorri com a tarefa, eu adoro escová-los, sempre perco um bom tempo com eles.

Voltei para casa no finalzinho da tarde, passei antes pela cozinha colocando “um ok” ao lado da tarefa, escrita no papel e fui para debaixo do chuveiro. A água quente relaxou meu corpo de um dia exaustivo. Saí do banheiro enrolada em uma toalha e fui ao meu quarto colocar algo no meu corpo. Minha barriga deu sinal de vida e sacudi meus cabelos deixando-os soltos. Já podia sentir o gosto da torta de chocolate me esperando na geladeira, no entanto meu desejo é interrompido por um homem alto e musculoso, parado no meio da sala de estar.

Que diabos!

Eu tinha a plena consciência de que estava com uma calcinha de cachorro ridiculamente inadequada e, com uma regata que mostrava os contornos dos meus seios. Não é como se eu quisesse conquistá-lo, além do mais, nem sei quem é o cara que tem costas largas e braços grossos cobertos por uma blusa de manga curta. Meu nervosismo, e o aperto em certas partes do meu corpo era somente a preocupação de passar por um mico. Isso não tem nada a ver com o homem ter uma bunda perfeita em um jeans surrado. Revirei meus olhos impertinentes. Argh! Desde quando comecei a ficar tarada?

Sem fazer movimento algum, pensei nas possibilidades de me esconder sem que ele me visse. Não foi difícil comprovar que ter saído correndo dali tivesse sido minha melhor opção. O fato era que enquanto debatia em minha cabeça, não notei que ele já havia me visto e me olhava de maneira nada amigável. O mais esquisito, é que gostei desse olhar.

O rapaz não era só bonito de costas. Podia ser considerado o irmão do “deus da beleza” se existir um. Percorri meus olhos sobre o maxilar com uma barba rala, onde acomodava os finos lábios com um sorriso. Subi meus olhos reparando nos cabelos castanhos quase pretos caindo sobre os olhos, um corte cairia bem. Os olhos tão azuis me fitavam intensamente que, o que eu mais queria era ficar ali o admirando. Uma sobrancelha foi erguida e seus braços se moveram cruzando sobre o peito.

Ele com certeza tem uma rotina de malhação.

— Precisa de ajuda para encontrar o resto da roupa? — ele indagou e senti outro aperto em lugares que estavam adormecidos.

Sua voz máscula me fez parar de observar seus braços e focar outra vez em seu rosto. Eu, porém não havia escutado nada do que ele falou.

— O que disse? — pergunto perdida.

— Se precisa de ajuda com... — ele parou e apontou para meu corpo.

Franzi meu cenho e baixei meus olhos para meu corpo. Senhor! Levantei meu rosto envergonhada e tentei tampar minha calcinha de cachorro, o que fez o homem alargar mais o sorriso.

— Não olhe para mim! — rosnei irritada fazendo o rapaz descruzar os braços jogando-os no ar.

— Mas eu já olhei.

Cresci ainda mais meus olhos, inconformada.

Como ele pode ser tão mal-educado?

— Então pare, de continuar me olhando!

Sem a intenção de me dar liberdade, corri de volta para o corredor e encostei-me à parede. Que homenzinho arrogante. Gemo internamente por não ter trancado a porta da frente.

— Se esta procurando por emprego lamento dizer que veio na hora errada. Costumamos aceitar empregados pela manhã. — invento qualquer besteira desejando que ele vá logo embora.

— E se eu não estiver procurando emprego?

— Então não tem nada para fazer aqui. Vá embora. — vejo sua sombra adentrar pelo corredor e me desespero. — Fique aí ou juro que serei obrigada a usar minha arma em você. — ameaço e ele para. Menos mal.

— Está mesmo armada? — indaga sem confiança.

— Não vai querer ver o estrago! — aviso usando a voz mais confiante que possuo e estranho o suspiro que escuto vim dele.

— Desculpe se assustei a senhorita.

— senhorita? — juro que não era minha intenção.

Estou apenas procurando por Mary Dunnes. Você trabalha aqui?

Sinto me acalmar ao ouvir sua voz gentil e doce, sem um pingo do sarcasmo ou confiança. Seguro meu suspiro de alívio. O que esse rapaz quer em uma fazenda em pleno sábado? Pelo pouco que vi, é bem-apessoado, apesar do jeito sacana que me olhou não é daqui, se fosse, saberia quem eu sou.

— Por acaso você já viu alguém trabalhar com tais trajes em uma fazenda e andar pela casa principal desse modo? — pergunto com ironia e ouço sua risada leve. Cerro meus olhos confusa, é inevitável o fato de que esse som me agrade.

— Tenho que confessar que não.

Noto ele descansar o corpo na parede lateral da que estou e me aproximo mais. Sei que se ele ou eu colocarmos nossas cabeças para fora, nos encontraremos.

— Então já sabe que não sou uma empregada e como já disse antes, não falamos de trabalho a essa hora. Então, por favor, se retire e volte amanhã de manhã.

— Você deve ser Jennifer Dunnes, a filha. — ele diz para si mesmo e me pego corrigindo-o.

— Jenny.

— Me desculpe?

— Gosto que me chamem de Jenny. Jennifer parece que a pessoa está brigando comigo, mas isso não muda nada, não posso fazer nada por você hoje.

— Na verdade, acho que pode.

Outra vez escuto a arrogância em sua voz e franzo o cenho. O que ele quer? Será um maníaco? Imediatamente lembro-me da arma na mesa de trabalho na minha mãe.

— Acho que não senhor. Peço por favor, que vá embora. — digo já alarmada.

— Creio que será impossível Jenny. — meu coração acelera ao ouvi-lo dizer meu apelido. — Me desculpe se cheguei cedo demais. Deveria ter vindo daqui três semanas, mas estou realmente precisando de um lugar tranquilo. A cidade estava me deixando louco.

Três semanas? Aproximo-me da lateral da parede e coloco minha cabeça para fora deixando o meu corpo para trás. Vejo seus olhos serenos e brilhantes me observarem. Eram ainda mais bonitos e encantadores de perto. Desci meus olhos para os lábios finos ainda em forma de riso.

— Afinal de contas, quem é você?

— Prazer! Sou David Peterson.

02

David Peterson

Vivi no inferno por tanto tempo, que esqueci como é bom estar no céu.

Quando entrei para o exército, eu tinha duas finalidades e uma era lutar pelo meu país. Eu lutei, mas o longo processo deixou marcas em mim. Vi pessoas vivendo em condições precárias, crianças em meio aos tiroteios, mulheres chorando debruçadas sobre os corpos de seus maridos já mortos... Enfim, lugares sem uma segunda chance, onde a sorte estava lançada. Comíamos enlatados e passávamos noites sem dormir, esperando o mínimo som dos inimigos.

Apesar de ter que confiar no grupo de homens com que convivia, eu tinha que zelar pela minha própria vida. Se por ventura eu fechasse meus olhos por cinco minutos, eu já era. Foram longos dias sobrevivendo a cada ataque e se comunicando com minha família por internet. Porém, nem tudo era horrível. Quer dizer, nós homens tínhamos divertimento. As mulheres que contratavam para tirar nosso estresse não eram beldades, mas serviam para alguma coisa.

No entanto, com os anos passando, a diversão já não se fazia tão presente. Às vezes me dirigia para uma das tantas tendas posicionadas para nós, somente para ter uma bebida e foi em um desses dias que resolvi deixar meu trabalho e me aposentar de vez da vida que levava.

Era tarde da noite quando saí da minha barraca vestido com a calça em tom verde e uma camiseta branca. O rádio tocava baixo do lado de dentro de uma tenda preta e podia se ouvir as risadas dos homens. Mal pude entrar no ambiente. Um cara bêbado saiu pela frente e assim que me viu, decidiu me usar como apoio. Tentei desviar, mas o bastardo caiu em mim, me levando ao chão.

Foi então que houve uma explosão. O lugar deveria ser tranquilo e protegido, mas por algum motivo não estávamos seguros. A tenda voou com o fogo e a pressão do ar. O zumbido alto como uma buzina de navio martelando em meus ouvidos causava pontadas de dor em minha cabeça. O cara sobre mim havia desmaiado, sua camisa estava queimada assim como os braços expostos. Sacudi a cabeça buscando equilíbrio e empurrei o homem que caiu desacordado para o lado. De um jeito surreal ele salvou minha vida. Levantei ficando sentado e olhando ao redor.

O caos parecia ter se instalado. Homens corriam e gritavam de dor, alguns com calças e camisas em chamas. A cada minuto uma voz se calava. Era o inferno sobre a terra.

— PROCUREM UM LUGAR SEGURO!

PODE HAVER MAIS! VÃO! VÃO! NÃO FIQUEM

PARADOS SEUS MOLEQUES! — gritou o

Tenente de outra base e me levantei ainda tonto.

Pode haver mais... Outras bombas.

Isso se repetia em minha mente e eu só pensava na minha família, como todas as outras vezes que eu sofria um atentado de surpresa. Corri rápido para um lugar seguro, já decidido no que fazer.

Meu Capitão não estranhou meu pedido de saída. Tenho trinta e três anos e uma longa jornada no exército. Estava na hora de parar. Meus pais ficaram felizes, assim como meus irmãos. Eles eram o outro motivo que me levou ao exército, de ser um exemplo.

Porém, voltar para a casa me deixou inquieto.

Estava mais acostumado com o silêncio do que a barulheira da cidade. Buzinas, sons altos, gritos de criança, avião passando... Tudo, qualquer som era alto demais e perturbador para mim. Até alguns filmes e documentários me deixam conturbado, como no dia seguinte da minha chegada.

Papai procurava um filme na sala e eu estava distraído folheando alguns papéis quando de repente, metralhadoras dispararam aumentando minha frequência cardíaca. Pulei sobre meu pai o protegendo, mas minha força acabou o machucando. Eu sabia que não seria fácil se livrar desse tormento, por isso eu regularmente ia a um psicólogo.

Foi assim que minha mãe vendo meu tormento teve a ideia de me mandar para um lugar mais calmo, assim não ficaria exposto a tantos barulhos e aos poucos meu cérebro se adaptaria de que não estava mais em uma guerra. Meu psicólogo gostou da ideia, mas não deu certeza de melhora. Eu ficaria longe das sessões e podia ser que eu não conseguisse controlar meus nervos e ataques, isso o preocupava. Dei razão ao que ele disse, porém, eu desejava um lugar mais tranquilo para ficar. Com o tempo, arranjaria um jeito de ir para as consultas.

É por isso que estou em uma fazenda, neste exato momento, encostado em uma parede, esperando ansiosamente que Jennifer receba minha mão estendida.

Quando minha mãe, falou da fazenda Dunnes, fiquei meio receoso de vir, afinal de contas não conhecia as pessoas e eu desejava ir para um lugar sem ninguém. Já havia escutado ela falar de Mary e que tinha uma filha. Lembro do dia em que minha mãe comentou que foi até Portland confortar sua família, pois o pai/marido havia falecido. As duas ainda se falam e não houve nenhuma negativa da parte de Mary em me aceitar.

Claro que ao chegar, não me arrependi nenhum pouco. Fiquei muito agradecido pela hospedagem e pela visão maravilhosa que tive há poucos minutos. Nunca passou pela minha cabeça que a melhor amiga de minha mãe tivesse uma filha tão linda. Óbvio que eu sabia que Jennifer Dunnes não passaria de uma amiga. Estou detonado demais para uma relação agora, e ela não merece ser enterrada no meu pesadelo.

Obstáculos! Isso é o que se deve fazer para evitar algo mais a frente, porém, eu seria um otário se não tivesse ficado excitado com tal aparição, apesar de ela estar com uma maldita calcinha de cachorro, para mim estava sexy como um demônio! Não deveria estar pensando nisso enquanto ela me olha com a cabeça esticada e olhos castanhos curiosos, eu não deveria, nem sequer, estar atrás de coisas que lembrasse a cor de seus olhos, no entanto uma avelã se assemelhava.

— Fique à vontade para se sentar no sofá. — diz firme e baixa o olhar para seu corpo, engulo a vontade de esticar meu pescoço para ver também e desço minha mão solitária após ela negar o aperto.

— Eu vou trocar de roupa.

Jennifer correu para um dos quartos talvez pensando que eu pudesse olhá-la enquanto estava de costas. Acontece que com ela senti a necessidade ser um cavalheiro e não um canalha. Sabia que ela estava com dúvidas sobre mim, por isso faço exatamente o que ela mandou e volto para o centro da sala sentando no sofá.

Percorro com os olhos o espaço mais uma vez. É uma sala grande e elegante, com móveis em lugares específicos. Televisão à frente, mesa de centro e poltronas em companhia com o sofá, atrás de mim está a mesa para refeições e mais atrás a cozinha, separada apenas por um balcão.

Uma casa com estilo próprio, mas charmosa. Ouço passos incertos e olho vendo Jennifer surgir do corredor, agora de calça jeans e uma camisa quadricular, típica de fazendeira. O rosto tinha um leve rubor e nem um pouco de maquiagem. É linda ao natural e com certeza chama atenção de muitos rapazes isso incluía a minha. Por que diabos eu estou nervoso? É apenas uma mulher, não é como se eu nunca tivesse visto uma.

Não uma como esta, caçoou minha mente.

Definitivamente, não uma como esta.

— Me desculpe à invasão. — antecipo rapidamente. — Sei que só deveria vir daqui umas semanas, mas decidi vir antes.

— Sem avisar? — indaga com uma sobrancelha erguida enquanto senta longe de mim.

Eu não tenho cara de maníaco, tenho?

— Eu tentei ligar. — defendo-me com pressa. — Liguei para o número de Mary e o número daqui, mas não tive respostas. Achei que não fosse ter ninguém em casa até você aparecer, apesar da porta estar aberta.

— Hmm... — ela parece ponderar e me sinto nervoso novamente. — Esqueci de trancar a porta quando entrei.

Abri minha boca para recriminá-la por ser tão irresponsável em deixar a porta aberta, mas fechei rapidamente. Sou um estranho, como posso reclamar de algo? Ela ficou em dúvida se continuava a falar devido minha quase não intromissão e optou por continuar levando em consideração meu silêncio.

— Eu liguei faz pouco tempo para minha mãe e ela surpreendentemente atendeu.

— Devo dizer que tentei ligar apenas uma vez? — indago com culpa, mas também não sou de ficar insistindo. Achei que ela estaria aqui quando chegasse.

— Sua mãe ligou para a minha avisando, mas a minha não me ligou. — continua e a vejo ficar relaxada momentaneamente. — Ela pede desculpas por não estar aqui.

— Eu não tenho que desculpar nada. — sorrio gentilmente. — Pelo contrário, eu agradeço muito por vocês terem permitido que eu ficasse.

Sem esperar pelo que acontece em seguida, ela sorri e de algum jeito me sinto melhor. Depois dos constrangimentos, vejo como é seu sorriso. Eu não deveria ficar olhando, mas a maneira que seus lábios foram puxados chamaram minha atenção. Sorrio acompanhando-a e me sinto descansar. Eu havia mencionado procurar obstáculos, não?

— Não foi nada, anos no exército deve acabar mesmo com qualquer um. — ela diz gentil com algum temor.

— Te garanto que não é fácil, mas, por favor, não fique sentida, foi minha escolha. — comunico e recebo um acenar.

— Bem, minha mãe só poderá vir daqui duas semanas. Ela acabou de ir para Seattle onde fica nossa maior fazenda de produção então...

— Vou procurar uma pousada na cidade mais próxima. — a interrompo com entendimento e levanto-me com minha bagagem na mão. Seus olhos crescem diante da minha decisão saindo da poltrona em seguida para ficar de pé. — Até mais Jenny!

Sorrio uma última vez e ando em direção a porta me esfaqueando por dentro. Por que diabos eu disse que iria embora? Provavelmente é o que ela pediria não? Não seria adequado ficar na mesma casa que uma mulher que me tenta todo o tempo só de me olhar com aqueles malditos olhos. Eu havia sim pensado em obstáculos e não, com certeza não virei nenhum virgem... E com certeza não estamos no século XIX! Ela poderia ser uma boa companhia e eu poderia colocar de vez na cabeça que ela é filha da melhor amiga de minha mãe. Sim... Poderia muito bem ficar tranquilo por um tempo e certamente não iria morrer de ter que compartilhar metade do dia com ela.

Ela tem a própria vida aqui, e eu ficaria somente quieto fazendo de tudo para não observá-la e não imaginá-la com uma calcinha de cachorro. Isso não faz um pingo de sentido. Eu sou um homem, não a porra de um adolescente!

Argh, porque eu disse que iria embora?

03

Jennifer Dunnes

Confesso que foi uma surpresa David aparecer assim do nada. Quando liguei para minha mãe, ela disse que Milena realmente havia ligado para informá-la, ela ficou chateada por não estar aqui para recebê-lo e foi bem explícita em ordenar que eu deixasse David à vontade. Só que agora, ele estava atravessando a porta de casa e eu ainda tentava entender o que havia dito para ele tomar tal decisão.

David é simpático e percebi que estava tentando ser cavalheiro comigo. Ele presenciou tudo de ruim que um ser humano pode fazer, e ainda assim, não era grosso e rancoroso.

Sinceramente? Eu achava que um homem do exército costumava ser rude e frio. Comprovei o contrário. Isso serve para eu deixar de julgar sem antes conhecer. Meus pés finalmente se movem e corro para fora observando David jogar sua mala de mão no banco de trás de sua picape.

— Espera! — falei alto chamando sua atenção. Ele girou sobre os pés me fitando de longe. — Por que vai para uma pousada? Minha casa tem vários quartos!

O sol de fim de tarde dava uma coloração avermelhada em seus cabelos pretos. Pensei que nunca haveria de gostar de ver um homem sob o sol, mas a visão de David parado a metros de mim com uma incógnita em seu rosto fez meu cérebro trabalhar, e guardar essa imagem como uma foto.

— Eu pensei que... — David balbuciou algumas palavras e cruzei os braços em meu peito.

— Que o quê? Que não poderia ficar na mesma casa que eu? — interroguei observando seu olhar desviar para o carro um pouco envergonhado.

Tive vontade de rir. Um homem desse tamanho sem jeito? Passada a vontade, pus meus pensamentos a vapor. Com certeza foi gentil da sua parte querer dormir em outro lugar pelo simples fato de ficarmos sozinhos em uma casa, mas se nossas mães se conhecem de longa data e confiam uma na outra, poderíamos considerar o fato de sermos quase irmãos.

— Vamos, volte para casa, minha mãe me mataria se deixasse você dormir em outro lugar. — falo e observo David pegar as malas e andar mais confiante para mim.

— Para sua informação, só estava tentando ser gentil, sei que sou um estranho. — murmurou quando se aproximou e sorriu.

— Eu desconfiei que estivesse sendo gentil, porém para sua informação, eu também sou uma estranha.

— Mas você não me atacaria. — devolve e ergo meu queixo de modo atrevida.

— Isso significa que você faria tal coisa?

Sua resposta vem com um erguer de sobrancelha. Significa um sim ou que está surpreso com minha pergunta? Noto minha respiração acelerar assim como minha frequência cardíaca. Tudo isso por causa de uma sobrancelha ou com o fato de que ele me atacaria? Resolvo não entender e lhe mostrar a casa.

Entrei na cozinha minutos depois e aproveitei que estava livre por algum tempo para devorar a torta de chocolate que me esperava na geladeira. A presença repentina de David não havia tirado minha fome e apesar de não ser uma janta propriamente dita, fiquei satisfeita com a quantidade de açúcar, mais a frente me renderia a uma boa noite de sono. — Posso ter um pedaço? — sua voz soa divertida e me assusto levemente com sua entrada.

Ele não percebe e continua a andar até o balcão.

Eu teria avaliado seu corpo mais uma vez, se seu sorriso não tivesse puxado meu foco, no entanto minha visão periférica de todos os ângulos notou que estava de regata e que ele era realmente grande e forte. Reprimo um suspiro e foco em seus olhos pensando ser mais fácil de conversar.

— Claro. — respondo quase em um estrangulamento vendo-o sentar na minha frente. Ajusto minha garganta e sorrio nervosa. Oh céus! Nervosa? — Os pratos ficam na prateleira atrás de você e os talheres na gaveta perto do fogão.

— Obrigado, mas gosto de comer usando as mãos. Fica mais... Delicioso. — murmura sem importância e procuro o copo para mais um gole de água fria.

— Me desculpe não ter algo mais sustentável para comer. Eu fiquei com preguiça de fazer alguma coisa para mim hoje e eu também não estava esperando por você.

— Por favor, já disse para não se desculpar.

O intruso sou eu.

Um intruso bem gostoso! Definitivamente não estou reclamando.

De onde veio esse pensamento?  Observo David comer por alguns minutos, antes de sair às pressas da mesa. Olhar para ele nesse silêncio está fazendo minha mente ter pensamentos impróprios e me deixando perturbada cada vez mais.

— Eu vou... Separar um lençol e arrumar um quarto pra você ficar.

— Não precisa se preocupar em arrumar um quarto a esta hora, posso dormir no sofá hoje. — diz genuíno e sorrio sem jeito.

— Não vai ser trabalho nenhum, termine de comer que eu volto daqui a pouco.

Sumi pela casa adentro antes que ele falasse algo mais. Nunca iria permitir que ele dormisse no sofá. Sem olhar para qual quarto de hóspedes entro, trato logo de trocar as colchas da cama e fronhas do travesseiro, em seguida, ligo o ventilador no máximo. O quarto era bem parecido com o meu. A janela grande e fechada ficava de frente para a cama e uma estante pequena para roupas. O fato de o cômodo ser grande destacava o quanto limpo e o quanto vazio era o ambiente. Surpreendo-me em saber que Isabel, nossa empregada, cuida tão bem da casa inteira.

— Esse será meu quarto? — sua voz me pega de surpresa me fazendo pular do meu canto, ele ri ligeiramente com o susto. — Me desculpe, não sabia que estava tão entretida.

— Tem que parar de fazer isso. — aviso tomando respirações longas e me junto a ele na porta. — Vai ser seu lugar durante o tempo que precisar. Espero que goste.

— Está de bom tamanho para mim, obrigado.

— Bom, vou deixar você se acomodar. Se por acaso sentir fome e sede, não tem problema em atacar a geladeira. Pelo seu tamanho, com certeza deve ter fome.

Não acredito que disse isso!

Ouço seu riso novamente e sorrio junto para não ficar sem graça.

— Sinto que devo ficar mais tranquilo em saber disso. — diz divertido e balanço minha cabeça.

— Eu sinto que deve mesmo, bem, eu vou para meu quarto, hoje o dia foi cansativo.

— Tudo bem. Você se importaria se eu... Apenas verificasse se tudo está fechado? — pergunta sem jeito e noto seus olhos necessitados.

— Não me importo, mas não é necessário David, esse lugar é tranquilo. — falo amável enquanto ele suspira.

— Eu vou verificar mesmo assim. Proteção nunca é demais. — diz levantando os ombros em forma de desculpas, mas sorriu mostrando que está tudo bem.

Tenho que lembrar que ele passou anos na mira de perigos constantes. Não deve ser fácil esquecer todas as manias e táticas para ficar livre de qualquer coisa. Eu realmente tenho admiração e respeito por pessoas que lutam por nós, mas não gosto de ver as cicatrizes que deixam neles. Sorrio de modo aceitável e toco seu braço levemente.

Um erro! Senti seu músculo mexer debaixo

de minhas mãos e me atrevi a não tirar rapidamente como uma ovelha medrosa. É apenas um braço Jennifer e não uma tocha com fogo ardente...

Pensando bem, parece sim uma tocha bem ardente.

— Se é assim que quer, fique à vontade David. — murmuro e corro para o meu quarto que fica à sua frente.

Gemo internamente. Eu devia ter visto a localização antes. Não ouso olhar para trás e entro como um furacão, sabendo que minhas bochechas estão em chamas, assim como minha mão.

Sua pele é quente e firme.

Será que vou ficar lembrando disso sempre? Troco minha roupa por um blusão mais confortável e deito na cama. Em poucos minutos ouço passos pesados mais ao mesmo tempo calmos pelo corredor. Provavelmente já fez sua rotina.

Acordo as cinco em ponto. Faço minha higiene matinal e um coque no alto da cabeça. Já planejo em minha mente o que fazer hoje, e fico feliz em saber que estou livre de tarefas. Posso me divertir cavalgando ou passar algumas horas na cachoeira. Abro a porta indo para a cozinha, mas um homem vindo a minha frente sem camisa me faz travar no lugar. Olho rapidamente sua tatuagem meio tribal toda preta em sua costela direita e inspiro carregando minha atenção para seu rosto.

Como pude me esquecer dele?

— Já de pé? — ele pergunta curioso e procuro minha voz rezando para parecer o mais normal possível.

— Quando se mora em uma fazenda é preciso. — alegro-me por sair normal e percebo que minha expressão se estende pelo rosto quando ele sorri. — Mas e você, porque de pé tão cedo? — Perdi o sono. — murmura, mas cerro meus olhos sabendo a verdade.

— Isso é mentira. Você também está acostumado a acordar cedo. — digo ganhando um assentir de pego em flagrante.

Involuntariamente percorro meus olhos por seus ombros nus. A cor branca em mistura com a tinta preta deixa tudo mais sensual. Mordo meus lábios ao ver sua barriga seca e musculosa. Acho que devo ter mordido meus lábios mais que o normal, pois desperto de meu devaneio ao sentir uma mísera dorzinha. Limpo minha garganta fitando uma parede.

— Eu estava indo tomar um café, quer se juntar a mim?

— Claro, só vou por uma camiseta e já te encontro na cozinha.

Quase o impeço de fazer isso, mas me calo e

fico parada presa a parede enquanto ele passa por mim. O corredor não é tão estreito permitindo passar a vontade por ele, porém sou capaz de sentir a quentura do corpo de David e o cheiro do seu perfume. Tomo a decisão de olhar para ele que sorri para mim me levando ao sofrimento. Não deveria sorrir como um cachorro sem dono.

Finalmente deixo um suspiro sair ao ouvir a porta do quarto se fechar. Tento listar maneiras de sobreviver ao David, até minha mãe voltar e desconsidero o fato de ter achado que poderíamos ser como irmãos. Esse foi realmente um pensamento absurdo.

Estou realmente encrencada...

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