07

Jennifer Dunnes

Eu não havia bebido tanto assim, havia? Não sou de fazer isso, mas desde a hora que cheguei à fogueira me senti impaciente. Estava nervosa por querer ver David outra vez e a cada minuto que ele não aparecia, era uma dose ou uma latinha.

Eu até devia estar um pouco alegre demais, mas o efeito passou um pouco rápido ao ver as expressões no rosto de David e sua respiração acelerada. Tudo só piorou quando os rapazes resolveram soltar alguns fogos. Confesso que meu corpo doeu com o impacto no chão, mas isso foi substituído pela dor em meu coração. O que ele havia passado ainda o atormentava e seu desespero em querer me salvar, deixou-me emocionada. Pelo menos não foi difícil trazê-lo a realidade, no entanto sua culpa estava me dando nos nervos.

— Já lhe disse que está tudo bem. Você não me machucou. — resmungo sonolenta entrando em casa.

— Então por que está mancando? — indaga e junto minhas sobrancelhas em confusão.

— Eu estou?

— Está. Deixe-me ver sua perna. — ele ordena e cruzo os braços um tanto brava.

— Não! Se não percebeu, estou bêbada. Como quer que eu ande, David?

A sala parece girar quando percebo que David me coloca no colo, fazendo-me envolver os meus braços em seus ombros para não cair. Seu rosto próximo ao meu me deixa retraída, mas não posso negar que estar assim é maravilhoso.

— O que está fazendo? — murmuro observando seu lado direito do rosto firme. — Levando você para a cama. Bêbada ou machucada, não quero que ande mais.

Não ouso reclamar. Deito minha cabeça sobre seu peito e fecho meus olhos. Lembro de ter o chamado de meu amor e não me arrependo, na hora do seu ataque só queria que ele soubesse que eu estava aqui. Inspiro profundamente seu cheiro amadeirado, e curto a sensação de quentura que acomete meu corpo. Aos poucos sou colocada em um colchão macio e frio, gemo desgostosa.

— Fica comigo? — imploro desejando seu calor.

— Sabe que não posso. — diz e abro meus olhos vendo seu sorriso maroto, não está mais irritado.

— Eu gosto quando você sorri.

— Gosta? — indaga curioso e senta sobre a cama.

— Gosto. — digo e suspiro ao sentir o vento frio. – Gosto de seu calor também e hoje está fazendo frio.

— Posso pegar uma manta.

— Não será a mesma coisa. – rebato e ouço seu riso.

Ele não esta tão perto de mim como gostaria, mas só sua presença me faz ficar feliz e inquieta. Ainda mais estando no meu quarto, mais precisamente em minha cama. Sento-me impaciente com as diversas sensações que estou sentindo.

— Não quero dormir agora.

— Mas você está com sono. — ele sussurra suave.

— Mas não é isso que eu quero.

Um carinho na base do meu rosto me faz

fechar os olhos e deito minha cabeça ao encontro de sua mão pedindo por mais. Abro meus olhos outra vez vendo-o mais perto.

— Você é linda! — ele confessa e sorrio me sentando mais perto.

Deixo minha mão na curvatura de seu pescoço e forço sua cabeça para baixo ficando apenas centímetros da minha. Eu quero sua proximidade, seu corpo assim como seus olhos em mim nesse momento. Eu quero...

— Quero sentir seus lábios nos meus. — sussurro e ouço sua risada baixa e rouca transmitindo energia por minha nuca.

— Você quer?

Afirmo com um aceno. Sei que me lembrarei disso amanhã, eu sempre me lembro das coisas que faço quando estou bêbada. Não é como eu fosse me arrepender depois. Eu quero beijá-lo desde o momento que o vi. David não faz nenhum avanço e tomo a iniciativa começando por beijar seu pescoço. Suas mãos descem pelos meus braços parando em minha cintura. Com um pouco mais de força ele me puxa e de leve me deita na cama. Ele está parcialmente sobre mim e já não sei se consigo manter meus olhos acesos. A cama parece quente agora e determinada a levar meus sonhos. Sinto seus lábios roçar nos meus e suspiro com sua carícia.

Minha cabeça lateja e choramingo. Porque eu bebi tanto? Não parecia tantos copos quando estava ingerindo. Sento na cama e noto que estou sem sutiã, mas com a camisa ainda. Existem lembranças minhas de ontem à noite e tirar meu sutiã não faz parte dela. Sento na cama tendo só um pensamento.

Apenas uma pessoa pode ter feito isso.

— David... — murmuro baixo e como se eu o tivesse chamado, ele entra pela porta com uma bandeja de comida.

Pergunto-me como ele tirou minha peça íntima e ainda, como não me lembro disso. Eu provavelmente dormi. Eu dormi! Fecho meus olhos por segundos. Não acredito que dormi. Eu peço um beijo e durmo em seguida. Espera, eu pedi por um beijo? Desde quando sou assim? Já estive com alguns homens mais nunca pedi por um beijo, eu nem sequer quis tanto alguém quanto quero David. É um tipo de força que me leva até ele sempre que pode e quero, quero não, desejo.

— Já acordada? — ele indaga surpreso e sorrio tímida. Sou acostumada a acordar cedo até depois de uma bebedeira. — Deve estar com dor de cabeça. — ele continua e observo-o pousar a bandeja do meu lado e sentar-se no pé da cama. — Trouxe suco, torradas e um remédio.

— Obrigada. — digo finalmente enquanto sou bombardeada por seus olhos.

— Sua mãe ligou, queria falar contigo mais eu disse que hoje era sua folga e você deveria acordar mais tarde. — diz e busco na memória comprovando que hoje tenho folga.

O relógio mostra que são oito e até os empregados sabem que não durmo até tarde. Mordo meu lábio e encaro a bandeja do meu lado, minha cabeça parece mesmo que vai explodir.

— E vocês conversaram? — pergunto curiosa, mas despisto pegando o remédio e o suco.

— Eu não comentei com sua mãe sobre ontem a noite se é isso que quer saber. — esclarece e respiro aliviada.

— Obrigada por isso, ela ficaria preocupada estando longe. — eu não costumo fazer isso. Quis incrementar, mas tal frase me levaria ao beijo, se é que rolou beijo. De toda forma, eu realmente não costumo fazer isso.

— Ela se preocupar com seu alto consumo de álcool, de vez em quando, não é o problema. — ele lastima para si mesmo e franzo minha testa.

— O que quer dizer?

— Não vê que sou uma bomba relógio?

Sei que minha boca abriu para rebater, mas nada saiu. A conversa chegou a seu momento clímax, por mais que eu quisesse que David esquecesse isso, ele não iria. Deixei o suco de lado e me aproximei dele engatinhando pela cama. Sentada sobre minhas pernas, deito minha cabeça a fim de encontrar seus olhos.

— Tudo o que vejo é um homem muito bonito sentado em minha cama. — parece funcionar de início. Ele retorna meu olhar de jeito carinhoso, mas logo o vejo mudar para algo mais doloroso. Sua expressão entristece e tomo sua mão apertando amavelmente. — Você foi pego de surpresa David, é normal isso acontecer. Estava apenas tentando me proteger.

— De um perigo que nem sequer existiu. — retruca me olhando rudemente. — E não diga que isso é normal. — finaliza saindo da cama.

Minhas mãos formigam sem sua pele e fecho em punho com o desconhecido.

— Mas na sua cabeça existiu. — arfo saindo da cama. Fico um pouco tonta mais tomo o controle da situação. — Você passou anos no exército David, você não queria que isso acabasse só porque saiu de lá.

— Não precisa me lembrar do quanto estou acabado. — diz com rancor e bufo com o rumo da conversa.

Não consigo ter sua expressão enquanto está de costas para mim olhando pela janela, apenas sei que está tenso e provavelmente irritado. Com ele mesmo? Compadeço-me com seu estado. Ele aparenta ser tão forte e está quase enlouquecendo por causa de ontem. É impossível não se sentir culpada. Ele veio por tranquilidade e o chamo para participar de uma festa.

— Você não está acabado, o que quero dizer é que estou aqui e vou te ajudar, mas seus...

— Surtos? Ataques? — me interrompe aborrecido e continuo cuidadosa.

— Sim... Eles não vão acabar de uma vez, vão diminuir com o tempo.

— E como você sabe disso?

E agora? Falo a verdade? A mentira nunca foi o caminho certo, por mais que minha revelação talvez o irrite mais.

— Eu andei pesquisando sobre pessoas que voltam do exército. — digo e escuto sua risada seca.

Ele gira em seu corpo me fitando e seus olhos não parecem mais gentis, estão cobertos de tristeza.

— Agora sou um projeto de pesquisa. — afirma e sinto meu coração afundar.

— Não David, só estava tentan... — tento explicar, mas ele me interrompe.

— Descanse Jennifer. Aproveite seu dia de folga. — tento falar algo, mas não sei o quê.

Sigo em seu encalço até ele sair pela porta. Fecho-a e me desabo sobre ela. Minha cabeça dói e elevo minhas mãos a minha face. Eu só queria saber como ficam as pessoas que saem de um mundo de guerra e como se portar, só estava tentando entender. Confesso que a internet inventa muito, mas até que alguns sites iluminaram minha mente. Minha vontade era de perguntar diretamente a ele, mas não quis importunar com tais lembranças, afinal de contas não sou psicóloga.

Fico alguns minutos na cama esperando o remédio fazer efeito e logo em seguida tomo um banho. A casa está em silêncio e só espero que David esteja em seu quarto. Tenho uma ideia para que não fique mais triste ou magoado comigo e desejo realmente que ele volte a sorrir carinhoso para mim outra vez.

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