Senti um calafrio subir pelas minhas costas ao ouvir novamente batidas na porta.
Um pouco hesitante eu perguntei.
— Quem é?
— Eu trouxe o que pediu senhorita! — Uma voz feminina respondeu do outro lado da porta.
— Ah, entre logo! — Levantei com um pulo e fui de encontro com a empregada e peguei os papéis das mãos dela.
Levei e os espalhei na mesa de escritório que tinha dentro quarto. A empregada que não me interessei em saber o nome colocou tinta preta e uma pena de escrever ao lado dos papéis.
— Obrigada, pode sair. — Falei fazendo um gesto de despacho com a mão.
Eu não tinha ideia de como agir como uma nobre, muito menos como Lara, mas como ela era descrita como alguém arrogante era exatamente isso que eu estava me esforçando para ser.
Eu estava bastante orgulhosa de que minha atuação estava impecável, diga-se de passagem.
Com os papéis em mãos e a tinta pronta comecei a rabiscar correndo o risco da escrita do idioma falado aqui fosse totalmente diferente do português.
Estava surpresa e aliviada que a língua falada daqui era igual ao português, mas eu não podia contar com a sorte na escrita.
Será que Bianca pode pensar que é uma carta trote? Vou rezar para que não.
...----------------...
Naquela mesma manhã, não muito distante, no território do duque Rosário. Bernardo fazia sua visita matinal para Bianca.
Kalil, o médico da família, também estava presente ansioso para conseguir falar com seu senhor.
— Sua graça, tenho notícia sobre o antídoto! — Kalil falou rápido e sem tomar ar temendo que fosse interrompido e não conseguir dar a notícia como da última vez.
Bernardo que estava a caminho de sentar no banquinho previamente preparado para ele ao lado da cama de Bianca virou para ouvir Kalil.
— Diga.
Bastou apenas uma palavra para o doutor derramar suas informações.
— Com o veneno em mãos se torna muito mais fácil de conseguir o antídoto, é claro, eu já estava criando um e procurando outros com a ajuda dos meus contados... Mas com o veneno isso acelerou muito para aumentar a eficácia dos antídotos que eu já tinha... — Kalil estava divagando enquanto falava.
Era um médico talentoso, um dos melhores, mas tinha uma personalidade desastrada e passiva. Mesmo depois de divagar enquanto falava e não ser direto nas suas palavras muitas vezes focando em detalhes desnecessários, Bernardo ainda ouviu atentamente.
Ele já estava acostumado e sabia que interromper apenas atrapalharia, já que ia fazer com que Kalil perdesse sua linha de pensamento deixando seus pensamentos confusos e ainda mais suas palavras.
— No fim, eu dei a senhorita Bianca o antídoto. — Ele finalmente terminou depois de um longo monólogo. — Não deve demorar para a senhorita acordar.
— Certo, bom trabalho Kalil. — Bernardo deu uma batidinha amigável no ombro do médico.
Quando virou para olhar Bianca, seus ombros se encolheram em um susto discreto.
Ela estava sentada ereta olhando para eles.
O médico exclamou ao mesmo tempo feliz e assustado. Os cabelos pretos desgrenhados ao redor da face ainda pálida e doente de Bianca, combinando com um par de olhos vermelhos brilhantes a fazia parecer uma alma penada.
— Você acordou. — Bernardo falou se aproximando depois de se recuperar do susto.
Bianca com um rosto confuso perguntou:
— O que aconteceu?
— A senhorita foi envenenada. — Kalil se aproximou e começou a examinar Bianca. — Ficou desacordada durante cinco dias!
— Quase uma semana... — Ela falou ainda confusa, tentando absorver as informações.
— Você não tem ideia do susto que me deu. — Bernardo falou abraçando sua irmã mais nova. — Pensei que você nunca mais fosse acordar.
Com toda a tensão indo embora de seu corpo, Bernardo parecia ainda mais pesado. Bianca quase não aguentou o peso do abraço e devolveu dando tapinhas nas costas de Bernardo.
— Eu fui envenenada? Quem é o culpado? — Ela perguntou enquanto Bernardo insistia em ficar agarrado a ela.
Era engraçado, alguém que é normalmente sério e frio, na verdade era carinhoso com sua família. Era natural, desde muito cedo foi apenas os dois em um Palácio enorme.
Os pais dos irmãos morreram em um acidente de carruagem quando Bernardo tinha apenas 11 anos e Bianca 10. Sendo próximos desde pequenos pela pouca diferença de idade, depois da morte de seus pais os dois se viram em um mundo onde restavam apenas eles.
Kalil teve grande participação na criação dos dois a partir daquele momento, se tornando uma espécie de padrinho dos dois.
— Bem... — Bernardo se afastou e começou a falar hesitante. — Judith.
— O quê? — Bianca arregalou os olhos ao ouvir o nome.
— Deve ser um choque, não pense nisso agora. Você acabou de acordar, tem que descansar. — Kalil falou acariciando a cabeça de Bianca e a deitando na cama.
Bernardo e Kalil saíram do quarto para que Bianca descansasse.
...----------------...
Olhei para as cartas na minha frente e pensei que a ideia de escrever a letra de uma música que eu gostava com algumas alterações para evitar que Lara parecesse está se fazendo de vítima, foi uma ideia excelente.
A música era sentimental e sincera. Era perfeita para uma carta de desculpas. Li a carta e pensei que estava muito curta. Então deixei para continuar mais tarde.
Para não correr o risco de ter uma visita indesejada novamente, resolvi que devia sair e explorar esse Palácio. O que de mal poderia acontecer? No máximo me encontrar novamente com Daniel, mas desta vez se acontecer estou mais do que disposta a ignora-lo.
Saí do quarto me encontrando com Jorge parado ao lado da porta como uma estátua.
— Oi. — Disse sorrindo.
— A senhorita pretende ir a algum lugar? — Ele falou me estendendo o braço.
Aceitei e comecei a andar em uma direção aleatória.
— Nenhum lugar em especial. — Falei com uma pitada de diversão na voz. — Apenas indo dar um passeio ao redor. Alguma sugestão de destino?
— Não sou a melhor pessoa para isso, mas se estiver interessada... — Ele falou começando a me guiar. — Eu recomendo os jardins.
— Posso perguntar por quê?
— Porque é bonito. — Ele sorriu.
— Então, vamos para lá.
Com Jorge me guiando chegamos até que bem rápido ao jardim. Olhando ao redor esse lugar era de tirar o fôlego, não apenas toda a arquitetura do Palácio por dentro e por fora, mas a decoração também era luxuosa com ouro por todo lugar.
Os jardins eram uma ostentação de beleza, era como ser teletransportada para um conto de fadas.
— Você acha que alguma fada mora aqui? —Perguntei.
Jorge caiu na gargalhada.
— Acho difícil. — Ele falou rindo de uma piada que eu não conhecia.
— Mas esse jardim não parece mágico? — Era impossível ter magia no Palácio Imperial.
Eu sabia disso, mas a beleza do verde e o colorido das flores me faziam duvidar.
— Devo contar, já fui em uma floresta mágica, posso garantir que é bem diferente deste jardim. — De repente agucei meus ouvidos.
Podia sentir que uma história interessante seria contada.
— Sir Jorge já foi a uma floresta mágica? — Questionei interessada.
Ele apontou para uma colina que parecia distante.
— Nós cavaleiros constantemente vamos lá para treinar.
— Com as feras mágicas?
— Não, feras mágicas quase nunca se mostram e mesmo assim se aparecessem é proibido se aproximar delas.
— É proibido se aproximar? Por quê?
— É perigoso. Feras mágicas são fortes e usam magia, então seria muito difícil lutar com uma para treino. No fim, acabaria se tornando uma batalha feroz com um único sobrevivente no final.
Procurei na minha memória algo sobre as feras mágicas, mas tudo o que sabia é que quando Daniel estava prestes a ser morto por uma, Bianca apareceu para salva-lo com sua habilidade incrível de arco e flecha.
Ela derrotou a fera mágica iniciando um relacionamento de amizade com o príncipe.
— Acho que humanos e magia foram feitos para estar separados. Quem ganharia? Os cavaleiros ou a fera mágica?
— Quem você acha? Somos proibidos de matar feras mágicas.
Parei.
Era proibido matar feras mágicas? Mas Bianca definitivamente matou uma no início da história.
— Por que é proibido mata-las?
— Eu me pergunto como você pode não saber essas coisas? Você bateu a cabeça e perdeu os parafusos?
Opa, acho que essas coisas são o básico. Eu não deveria me mostrar tão ignorante com esse mundo.
Sorri inocente.
— Apenas puxando assunto... — Falei voltando a andar. — Você vai colaborar?
— Eu vou... — Jorge falou suspirando. — É proibido matar porque são raras... E tecnicamente não apresentam perigo para humanos desde que não sejam provocadas.
— Certo, é como evitar cutucar a onça com vara curta.
— Comparação interessante, é exatamente isso.
— Alguma chance de alguém que não é um cavaleiro querendo treinar ir para aquela colina?
— Bom, não sei. Os nobres costumam fazer passeios lá. — Ele falou me olhando desconfiado.
— Certo, é verdade. — Sorri. — Os nobres vão lá na intenção de...
O olhei esperando que ele completasse.
— Apenas se divertir e fazer piqueniques.
— Você está por dentro dos afazeres nobres.
— Eu só sei o que todo mundo sabe. A senhorita deve está muito mais por dentro do que eu.
Ergui o queixo orgulhosa pronta para soltar vários blefes.
— De fato, eu com certeza estou por dentro. — Dei uma risadinha. — Me arrisco a dizer que estou por dentro desde que eu nasci.
Jorge riu da piada sem graça e começamos a fazer o caminho de volta para meu quarto.
Estávamos entrando no Palácio quando ouvimos alguns guardas surrurrarem fofocas.
— É verdade?! — Um perguntou entusiasmado.
— Fale baixo! — Outro deu um tapa na parte de traz da cabeça do que falou anteriormente.
— Sim, eu ouvi que sua alteza foi imediatamente assim que ouviu a notícia. — Um terceiro falou.
— Então deve ser verdade! A senhorita Bianca realmente acordou!
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Elis Alves
Muito providencial, não acha?
E se essa Bianca agiu mancomunado com a tal Judith, para encriminar a Lara e ficar com o tal príncipe? Sei não, viu
2025-02-11
1
Iara Drimel
Ele tem hiperatividade e falta de concentração, tadinho não deve ser fácil ser médico com esse descontrole de concentração
2025-02-22
1
Iara Drimel
Acho que não é uma boa ideia sair do quarto. Sempre há um porém que estraga tudo que está bom
2025-02-22
1