Bernardo não respondeu a minha pergunta e apenas me encarou. O medo afundou meu coração, a ansiedade de ter que encontrar outra saída fazia minha cabeça doer.
Então, ele pegou algo de dentro do seu casaco e me mostrou. Era um frasco de perfume com um líquido roxo dentro. Sorri, Bernardo encontrou o veneno.
— Você encontrou uma prova! — Disse animada. — Estou salva.
O alívio foi tanto que minhas pernas cederam e eu caí no chão de joelhos. O veneno de Judith, essa maluca vai pagar pelo que me fez passar!
— É muito cedo para comemorar. — Ouvi Bernardo dizer.
— O que quer dizer? — Perguntei o encarando.
— Não sabemos se esse é o mesmo veneno que Bianca tomou. — Eu estava segura de que era, mas uma pontada de dúvida me atingiu e comecei a pensar: "E se não for? O que eu faço?". O estresse fez meus olhos começarem a tremer.
Bernardo deve ter interpretado isso de forma errada porquê ele se apressou a falar.
— Você não precisa se preocupar! De acordo com o que vi na gaveta de Judith, é muito provável que ela seja a culpada. — Não só Bernardo, mas Jorge também pareceu entender errado.
— Sim! Sim, a bruxa não precisa temer. Tenho certeza que a verdade vai vir a tona. — Suspirei.
É claro que vai, mas eu já vou está a sete palmas do chão. Passei a mão na minha têmpora e sorri.
— Está certo, tenho certeza que Judith é a culpada. — Levantei e encarei o frasco de veneno. — Esse tem que ser o veneno que Bianca tomou.
Sim, o veneno está em um frasco bonito e tem a mesma cor que Sofia descreveu. Bernardo mencionou uma gaveta, essa só pode ser a gaveta que Judith guarda seus objetos relacionados a seu fanatismo.
Se Bernardo viu aquela gaveta, ele definitivamente não confia mais em Judith. O que não significa que ele esteja do meu lado, mas na situação atual é bem provável que ele tome o meu partido.
Jorge também está no meu partido. Ele me chama de bruxa, mas claramente não me odeia tanto quanto igual quando eu cheguei aqui. Ele é meio tímido e não tem uma alta posição social. É apenas um guarda.
Porém um guarda real e o duque mais rico do império estão ao lado da filha de um marquês, essa batalha é minha.
Sinto muito Judith, mas você perdeu... Na verdade, eu não sinto muito não, espero que pague dez vezes pior do que eu pagaria.
Estava - ainda estou - com o pé na cova por causa dessa louca, não me importo nem um pouco com o que vai acontecer com ela contando que não aconteça comigo. Por que eu deveria me importar mesmo?
Voltei a realidade com Bernardo e Jorge trocando um olhar ansioso. Talvez eu tenha feito uma expressão assustadora? Ah, eu não posso fazer isso! Bati nas minhas bochechas assustando os dois.
Não posso fazer com que esses dois fiquem apreensivos comigo! Tenho a impressão que em qualquer deslize eles vão me taxar novamente como vilã e parar de me ajudar.
Talvez eles pensem que é melhor Lara morrer agora e depois se livrar de Judith. Seria algo fácil para Bernardo se livrar de uma empregada.
— Bom! — Falei. — Muito obrigada, sua graça, não tem noção de como isso significa para mim.
Falei o mais doce que pude e dei o meu melhor sorriso de pobre garota. Bernardo pareceu um pouco desconcertado.
— Ah... Sim, não se preocupe em agradecer algo como isso. — Ele guardou o frasco de veneno e limpou a garganta antes de falar. — Então, senhorita Lara, a vejo assim que tiver alguma notícia.
E ele saiu. Olhei para Jorge que ainda encarava as costas de Bernardo como se ele fosse o seu maior ídolo, o que provavelmente é. Eu não posso ver seus olhos direito e muito menos sua expressão, mas era como se as flores e brilhinhos ao redor de sua cabeça fossem palpáveis.
— Obrigada a você também.
— O quê? — Jorge virou meio atordoado.
— Eu não teria conseguido sem a sua ajuda. — Ele sorriu e tenho quase certeza que ele corou.
— Por favor, você já me agradeceu uma vez. — Ele coçou a parte próxima a sua boca, pois era a única parte em que o capacete não cobria.
— Mas eu quis agradecer de novo. — Sorri e me virei para ir sentar na minha cama.
— Senhorita...! Senhorita bruxa. — soltei uma risada abafada, ele não vai mesmo me chamar pelo meu nome.
— O que foi? — Me virei para encara-lo.
— Você acha que somos amigos?
O meu rosto virou um ponto de interrogação. Que tipo de pergunta é essa? O que eu deveria responder? Ele está tentando dizer para eu não ser amigável com ele porque não somos amigos?
— Hãn? — Foi tudo o que consegui responder.
Jorge virou o rosto e tampando a boca com a mão. Ele falou:
— Eu quero dizer... Eu estou perguntando se você é minha amiga agora. — Ele estava muito tímido.
Ah! Era isso? Por que ele age assim com algo tão simples?
— Eu quero ser sua amiga. — Respondi animada. — Você quer ser meu amigo?
Era ótimo fazer amizades aqui, esse seria um passo importante para melhorar a minha imagem.
— Sim. — Ele sorriu e se aproximou quando estendi a mão.
— Então, amigos? — Falei lhe dando um aperto de mão.
— Amigos.
E assim nasceu uma amizade entre um guarda e uma bruxa.
Soltei sua mão antes de fazer outra pergunta.
— Promete que irá me ver quando eu sair? — Eu preciso de aliados lá fora.
Eu esperava uma resposta simples, mas Jorge me surpreendeu quando tirou seu capacete e revelou seu rosto. Sua aparência combinava com sua personalidade. Era muito bonito.
Ele tinha cabelos castanhos claros com ondas bem abertas e, como seu cabelos, seus olhos também eram de um castanho claro. Ele lembrava um cachorrinho, de uma maneira fofa.
Era como o quê? O famoso cachorro caramelo. Até na personalidade amigável.
Quando pensei que ele não faria mais nada para me surpreender, ele se ajoelhou na minha frente.
Com o rosto em choque assisti Jorge pegar minha mão e a beijar. Pude sentir minhas bochechas pinicarem com a vergonha.
— Prometo em nome do meu título de cavaleiro que irei te visitar. — Ele olhou para cima e sorriu.
Desta vez, tenho certeza que pareço uma pimenta.
— Cavaleiro? — Questionei. — Você não é um guarda?
— Eu não sou! Só estou trabalhando como um. — Ele levantou.
Se está trabalhando como um, não significa que é um guarda?
— Por que um cavaleiro está trabalhando como um guarda?
— Porque a senhorita é uma nobre, um simples guarda não pode lhe vigiar. Esse é um trabalho para cavaleiros, mas cavaleiros experientes não têm tempo para essas coisas. — Ele falou inclinando a cabeça um pouco pensativo. Parecia se perguntar o porquê ter que explicar algo tão óbvio. — Então, esse se torna um trabalho para cavaleiros novatos.
Então Jorge é um cavaleiro novato? Isso é bom. Esse mundo é dividido hierarquicamente, um nobre é mais alto que um cavaleiro, que por sua vez, é mais alto que um guarda, que é mais alto que comerciantes e assim segue até a base.
A família imperial está no topo da pirâmide, é claro.
É uma coisa boa que aqui exista a chance de subir de posição na pirâmide, ou seja, um plebeu pode virar um nobre caso ele se case com um. Mas obviamente isso não é algo comum, pois os nobres dificilmente se misturam com classes mais baixas.
Os cavaleiros eram os únicos que estavam "abaixo" dos nobres e ainda assim eram "dignos" o suficiente para se relacionar com eles. Algo como respeitar quem protege o império dos inimigos.
— Entendo, então como uma nobre eu tenho um tratamento especial? — É claro que teria.
Me deixou um pouco preocupada em imaginar como são tratados os prisioneiros normais.
— Exatamente. — Jorge colocou seu capacete de volta.
— Quantas refeições os outros prisioneiros têm? — Se com tratamento especial eu como apenas uma sopa, imagina o que os outros não devem comer? Eles ao menos comem?
— Por que essa pergunta? É claro que as devidas três refeições por dia.
Oh? Meu tratamento especial como nobre parece pior que os outros?
— O que foi? — Jorge questionou, acho que minha cara estupefata revelou meus pensamentos.
— Nada, apenas que a minha refeição é apenas uma sopa por dia. Quando disse que eu tinha um tratamento especial, esperava que estivesse melhor que outros prisioneiros que não são nobres. — Cocei a minha nuca pensativa.
— Apenas uma?! — Que reação é essa? — A senhorita bruxa come apenas uma refeição por dia?
Talvez isso não seja normal? Bem, é realmente cruel não alimentar devidamente as pessoas, mesmo que a pessoa em questão seja uma bruxa.
— Não deveria ser assim?
— É claro que não! — Ele estava realmente bravo. — Por que não falou nada antes?
Ele é alguém que se apega rápido, nos conhecemos a poucos dias e já sente raiva em meu lugar? Não estou reclamando.
— Achei que fosse normal. — Ele apenas me olhou incrédulo.
— Você comeu hoje?
— Sim, sempre como uma sopa durante a manhã. — Ele suspirou.
— Espere aqui. — E ele saiu.
Eu tenho outra escolha a não ser esperar aqui?
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Atualizado até capítulo 58
Comments
Ezanira Rodrigues
Acho que Bernardo vai procurar um médico para saber se este veneno é o mesmo que foi dado a Bianca. Comprovação afirmada, Lara estará livre para resolver sua vida.
2025-03-13
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Giulia Jung
Poxa mas guardou o frasco com ele? Não seria melhor entregar à ela? Pra ela dizer que podia comprovar sua inocência ela mesmo? Hmmm não sei se confio demais
2024-12-01
0
Iara Drimel
Acho que nem em contos de fadas acontece muito isso de se sonhar em ser nobre e ser um apenas casando com um
2025-02-19
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