A família se reúne e velhos amigos se encontram parte 3

A carruagem chegou na mansão do marquês Vont Devier durante a tarde como o previsto. Me sentindo nervosa desci para conhecer a família de Lara que me esperava na entrada.

O saguão de entrada tinha bastante gente, a maioria usavam uma espécie de uniforme branco e verde, com exceção de alguns guardas... Ou cavaleiros? Bem, eles estavam usando uma armadura de prata com detalhes verdes também.

Mas quem estava realmente chamando a atenção eram as quatro pessoas no centro, que usavam roupas elegantes e claramente os donos da casa.

Um homem de meia idade com cabelos brancos, rugas de expressão e um sorriso caloroso no rosto me encarava enquanto abraçava a cintura de uma mulher de olhos verdes também de meia idade, com os cabelos castanhos com mexas brancas que estavam firmemente presos em um coque e, assim como o homem, tinha um sorriso caloroso.

Ao lado do casal estavam mais duas pessoas. Dois homens loiros, muito semelhantes a imagem da própria Lara. O mais alto tinha os cabelos lisos e escorridos e pareciam milimetricamente bem arrumados, por outro lado, o mais baixo tinha as pontas dos cabelos curvados em forma de foice dando volume ao cabelo, o que dava um ar despojado e relaxado.

Assim que me aproximei meio braço de distância desta família, antes mesmo que pudesse dizer qualquer coisa, fui agarrada em um abraço de urso.

O primeiro a agir foi o homem de cabelos brancos, seguido pela mulher e logos os outros dois seguiram o exemplo.

— Lara! — Ouvi a mulher dizer entre soluços.

— Que bom que tudo foi resolvido! — Novamente entre soluços ouvi a voz do homem de meia idade.

Logo os outros dois também começaram a falar coisas semelhantes. Por um longo período de cinco minutos que pareceram uma hora, eu fui abraça e esmagada com a recepção calorosa dessa família nobre.

Quando me libertaram era a minha vez de falar. Seria um reencontro emocionante de família e até poderia chorar se eles fossem minha família de verdade. Mas eu não era Lara, eu não conhecia essas pessoas que choravam com o meu retorno para um lugar que nunca estive antes.

Então, meu rosto continuou tão seco quanto uma peça a prova d'água, e uma expressão atordoada olhando para essas pessoas desconhecidas.

— Pai... Mãe... — Murmurei para o casal de meia idade.

Mau recuperada do abraço de urso, fui puxada novamente para outro abraço. Desta vez, durou mais rápido.

Me obriguei a sorrir, mas tudo o que consegui foi uma careta estranha. Desconfortável pensei em como minhas habilidades de atuação foram pro ralo neste instante.

Me senti um pouco mal, esta é família de Lara. Eles estão tendo uma reação tão grande com a volta dela, mas na realidade o verdadeiro membro da família que eles esperam nunca voltou.

Provavelmente nunca vai voltar.

Senti uma mão dando tapinhas carinhosos no topo da minha cabeça e olhei para cima. O homem loiro de cabelos lisos me olhava enquanto sorria.

— Bem vinda de volta para casa, Lara. — Este deve ser um dos irmãos da Lara.

Eu não sei o nome deles, nem lembro se eles foram sequer mencionados. Tudo o que sei sobre eles foi no breve momento em que a história de fundo da Lara foi mencionado.

Coisas como: "Nascida na família do marquês Vont Devier, como a filha do meio de dois irmãos[...]"

Na história, tudo o que foi mencionado sobre essas pessoas foram as suas existências e nada mais.

Então, mesmo que eu me esforce durante um dia e uma noite inteira para lembrar, eu ainda não conseguiria saber o nome deles.

— Irmão... — Era tudo o que eu tinha para me referir a pessoa a minha a frente.

— Vamos entrar! O cozinheiro fez os seus lanches preferidos. — O loiro mais baixo falou me puxando para dentro.

Ao entrar, a mesa de jantar tinha vários tipos de doces e bebidas me fazendo perguntar se existe uma pessoa no mundo capaz de ter tantas comidas preferidas, e se tinha, essa pessoa provavelmente não sabia o significado da palavra "preferido".

A tarde passou tranquilamente, sem precisar me esforçar descobri os nomes dos cujos que eram supostamente meus irmãos.

O mais velho de cabelo liso e o mais alto se chamava Ramon.

O mais novo de cabelos com pontas de foice e o mais baixo se chamava Nestor.

A noite, logo depois do jantar. Eu e Nestor estávamos ambos em uma sala de laser. Ele estava escrevendo algo em um papel na mesa no centro da sala de cabeça abaixada.

Eu em um canto, sentada em uma escrivania estava usando cera para selar a carta de desculpas mais uma vez, desta vez usando o selo da casa do marquês Vont Devier.

De costas um para o outro, passamos o tempo assim. Ele ocupado com qualquer coisa que não é da minha conta, e eu, ocupada em construir uma boa relação com aqueles que me odeiam.

O marquês já havia me chamado em particular para conversar, com uma bronca ele me fez prometer não agir como antes e tentar o meu melhor para manter boas relações com Bianca e Daniel.

Obviamente não houve protestos da minha parte.

— ...Lorrane... — Uma voz sussurrou baixo e suavemente, se eu estivesse um pouco mais desatenta poderia não ter sido capitado por seus ouvidos.

A voz foi tão baixa que passou alguns segundos para eu perceber se realmente havia escutado algo ou era minha imaginação.

Olhando para trás observei as costas de Nestor, era como se ele não tivesse dito nada.

Algumas possibilidades passaram por minha cabeça antes de decidir fazer algo.

1° - Poderia ser que Nestor foi possuído por alguém que me conhece. 2° - Como Lorrane é um nome normal, poderia ser de alguém conhecido por Nestor aqui. 3° - Algum personagem na qual Nestor está obcecado.

A segunda opção era a mais provável e a mais lógica, mas quem não arrisca não petisca.

lambendo os lábios sussurrei exatamente no mesmo tom que ouvi antes.

— Sofia...? — Por que Sofia ao invés de qualquer outra pessoa que conheço?

Bem, quem estava comigo quando o acidente aconteceu? Com uma lógica impossível de dizer como se procedeu, cheguei a conclusão que se houve outra pessoa que veio comigo para cá, só poderia ser Sofia.

As costas de Nestor endureceram e logo ele virou para me encarar com os olhos arregalados.

— Lorrane? — Ele perguntou, ainda em um tom baixo.

— Sofia?

— Lorrane! — Ele se levantou e veio correndo para mim.

— Sofia! — Eu também me levantei e corri na direção dele.

Com um baque nossos corpos se encontraram e nos abraçamos em um aperto forte.

— É mesmo você? — Perguntei a soltando e sentando em um sofá.

— Sim, sim... Eu não acredito que você também está aqui... E como Lara. — Ela sorriu limpando as lágrimas.

Sorri também limpando as lágrimas do meu próprio rosto que não percebi que haviam caído.

— Sim, você não sabe o sufoco que eu passei para chegar aqui. — Falei me jogando para trás no encosto do sofá.

— Quando você... — Ela parou para procurar uma palavra e então continuou. — Quando você chegou?

— No primeiro dia de prisão da Lara. — Respondi suspirando e olhando para ela. — Foi tão confuso acordar do nada em uma cela escura. Eu estava completamente perdida. Não sabia o que estava acontecendo, onde estava, porquê estava lá, quem eu era... O susto foi ainda maior quando Bernardo apareceu e me chamou de Lara...

No momento em que comecei jorrei tudo o que estava guardando para fora. Chorei compulsivamente e Sofia me abraçou chorando também. Não muito depois do meu desabafo, foi a vez dela de desabafar. Ela me contou tudo o que aconteceu desde o momento em que abriu os olhos no corpo de Nestor, e como se sentiu.

O sentimento de desespero e solidão foi compartilhado. Nos braços uma da outra, chorando e confortando, duas almas que compartilham uma amizade de uma vida se reencontraram em corpos estranhos, mas ainda se reconheceram como um bebê que é capaz de reconhecer a mãe.

***Esta obra está sob contrato com a NovelToon, e a pirataria, como a reimpressão sem permissão, é estritamente proibida.***

***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***