Finalmente Livre última parte

— Não! Eu não gostaria! — Falei quase me exaltando. — Não quero voltar a ser noiva do príncipe Daniel! Não mesmo! Eu realmente não quero!

E no fim, eu realmente me exaltei. Me vendo negar mais do que o necessário, o imperador deixou escapar uma risada e logo abafou com a mão.

Depois de se recompor ele perguntou sério.

— Então, como nega tão veementemente, devo assumir que a senhorita tem uma ideia do que fazer para melhorar a relação de nossas famílias? — Ele me olhou analisado cada movimento meu.

Eu não respondi. Não poderia de qualquer forma, eu pensei e repensei no que eu poderia fazer, no que outras pessoas poderiam fazer e nada veio a mente.

Era um problema sem solução.

Primeiro que eu nem sabia como as duas famílias começaram a entrar em conflito, o que levou a isso? Qual a gravidade do que aconteceu?

O imperador não parece me odiar. Apesar de tudo o que fiz, talvez ele seja uma pessoa imparcial e só quando Lara foi acusada de envenenamento que ele foi forçado a agir.

Mas agora que foi provado a minha inocência ele voltou a ser imparcial.

— Não vai responder senhorita Lara? — Voltei a realidade depois de divagar.

Parece que eu não tenho o direito de ficar calada quando o imperador pergunta.

— Eu não sei como resolver esse problema, majestade. — Se vamos dar uma resposta negativa que seja de uma maneira confiante.

— Se a senhorita não tem um plano, gostaria de ouvir o meu? — O imperador sorriu.

Por que tenho a impressão que não importa o que eu diga vou ouvir sua ideia de qualquer maneira?!

— Sim, majestade. — O sorriso dele aumentou.

— Bem, se o casamento não pode acontecer, a única opção que resta é o apadrinhamento.

Apadrinhamento. Ele está certo, a única coisa que se equivale ao casamento é o apadrinhamento. Eu me lembro agora, Daniel e Bianca pouco antes de ela ser envenenada, conversaram sobre procurar uma madrinha para a princesa.

A única irmã de Daniel, a princesa que ainda é um bebê precisa de uma madrinha. Tenho certeza que Daniel queria que Bianca ficasse com esse papel. Não que ele tenha dito, mas eu só assumi que seria isso.

O papel de uma madrinha não é simples, é cuidar da educação e socialização da princesa. É ser professora, babá e mãe ao mesmo tempo. Um cargo realmente difícil!

— Se for do desejo de vossa majestade, farei o que for. — Falei segurando um suspiro.

Eu realmente pensei que depois de tudo isso eu me manteria o mais longe possível deste palácio e dessas pessoas, mas agora vou ter que vir aqui frequentemente e ainda fazer um trabalho cansativo. Bom, pelo lado bom... Não tem lado bom!

— Sua mãe usou essas mesmas palavras uma vez, mas ela não estava muito feliz com isso na época. — Ele falou rindo de canto.

Meu rosto congelou.

Quando ouvi isso senti que tinha algo importante por trás dessas palavras.

Ignorando as minhas suspeitas respondi:

— Esse não é o meu caso. — Sorri e o imperador levantou uma sobrancelha antes de rir.

— Certo, certo. A senhorita tem uma boa personalidade.

Depois disso ele me dispensou. Acredito que é uma coisa boa estar nas graças do imperador, ele até disse que eu tinha uma boa personalidade.

Um grande contraste com a opinião pública sobre mim.

Estava andando pelos corredores sozinha porque não sabia onde Jorge estava e não me dispus a esperar por ele. Seguindo e observando alguns quadros acabei chegando em uma área que eu não conhecia. Não me desesperei por estar perdida, pois sabia que era só procurar até achar alguém para me levar de volta.

Um quadro em específico me chamou atenção, ele era grande e deslumbrante. Um homem bonito e imponente segurava um cetro em uma mão e algo redondo na outra, uma coroa em sua cabeça enfeitando o rosto sério e bonito do jovem rei. Não demorei para perceber que era o imperador atual em sua cerimônia para se tornar o imperador.

Quanto mais olhava mais hipnotizada eu ficava com aquela beleza fria. Li o nome na barra abaixo da pintura.

Imperador Acácio Jerth Carnot.

Então o nome dele era Acácio. Estranhamente combinava com ele, o imperador Acácio parecia alguém descontraído e leve, mas que inspirava medo e respeito. Essas duas características o faziam o imperador perfeito, era difícil não gostar dele.

— Então na verdade foi a empregada! — Ouvi uma voz e me escondi atrás de um pilar de mármore alto que se esticava até o teto, largo o suficiente para esconder uma pessoa.

— Sim! Então foi por isso que o Duque Rosário prendeu uma empregada uns dias atrás! — Eles falavam animados.

Só então percebi que não eram pessoas normais e que eu não precisava me esconder, eu nem sabia porque eu me escondi em primeiro lugar.

Os guardas estavam fofocando novamente.

Era realmente engraçado, em todas as histórias de época que li as fofoqueiras sempre eram as empregadas, criadas ou as mulheres em geral.

Mas aqui era diferente, as empregadas estavam sempre correndo de lá para cá, elas não tinham tempo para se juntarem e fofocarem. Elas mal se cumprimentavam quando passavam lado a lado.

Os guardas por sua vez, ficavam o dia inteiro parados em grupos de dois ou três, estavam por todos os lugares e ouviam sobre tudo sem o menor esforço. Com tantos assuntos para falar e com seus companheiros ao lado, era simplesmente normal que começassem a conversar sobre a vida agitada dos nobres e seus escândalos.

— Isso quer dizer que a bru... Que a senhorita Vont Devier é inocente? Deve ter sido difícil para ela. — Esse guarda ia me chamar de bruxa? Eu sei que ele ia!

— Hum, que seja! Ela fez várias coisas ruins também, é claro que a culpa ia recair sobre ela. — Sim, sim a Lara aqui também concorda, mas eu não gosto do tom que está usando para falar de mim!

— Verdade, aquela garota mimada não precisa da nossa pena! Ela é vil! — Eu não sou má, não sou má! Quem você está chamando de vil?

— Tem razão, não sei o que estava pensando quando senti pena dela! Ela não é inocente quando atormentava a senhorita Bianca.

Certo, cansei de ouvir essas fofocas. Hora de sair daqui.

— Mas... Você acha que não é estranho? — Parei, a curiosidade me fez enterrar meus pés no chão e ouvir até o final.

— O que é estranho?

— O Duque Rosário visitou a bru... A senhorita Lara todos os dias na prisão. — Não importa se você muda, está claro que quer me chamar de bruxa!

— Por que isso seria estranho? — Não, ele está certo. É realmente estranho.

Embora ele tenha ido para me fazer confessar, não é algo que o Bernardo que eu conheço faria.

Tem algo por trás disso que eu não sei?

— Eu ouvi que foi Lara quem falou sobre Judith para o Duque Bernardo. — Mas que audácia! Primeiro quase me chama de bruxa, depois muda para "senhorita Lara" e agora usa apenas "Lara"!

Sei que parece normal, mas esse lugar é muito rígido com as classes sociais! Hierarquicamente o modo como se refere uma pessoa é muito importante!

"Senhorita Vont Devier" para as pessoas em geral.

"Senhorita Lara" para amigos ou pessoas com uma posição acima da de Lara.

"Lara" apenas a família, de outra forma é muito rude! Claro, amantes podem se chamar assim, mas é um pouco fora do decoro e íntimo demais.

Lembro quando Bianca chamou Daniel assim pela primeira vez... Foi a primeira cena quente do livro.

Sofia era incrível por transformar as coisas mais simples em algo realmente...

Abanei um pouco rosto depois de lembrar.

Enfim, voltando. Esse guarda está me rebaixando!

— Sério? Mas o quê que tem? — Sim, e daí? Vai dizer que comprei Judith assim como Daniel?

— Você acha que alguém como o Duque ouviria qualquer pessoa? Principalmente aquela pessoa? — Bom ponto. Bernardo não se incomodaria em ouvir as palavras de alguém que todas as pistas apontavam como culpado, ainda mais quando a pessoa em questão era Lara.

Não que ele não fosse alguém benevolente, mas era um nobre de alto escalão: um Duque. Ele não se incomodaria com isso pessoalmente.

— Diga logo o que quer dizer! — Um guarda perdeu a paciência.

Sim! Diga logo, quanta enrolação!

— Eu... Acredito que esses dois tem um caso de amor não resolvido. — O guarda falou de todo o coração como se revelasse a novidade do ano mais empolgante.

Infelizmente os outros tiveram uma reação apática a ouvir suas palavras. Todos incluindo eu.

Que absurdo.

Esse cara se perdeu no meio de suas fantasias românticas. Leu demais e esqueceu da realidade... Um fanfiqueiro.

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