De volta a capital parte 2

Bianca estava surpresa ao receber uma carta de Lara. Ela olhou para aquele envelope com um cheiro agradável de papel e perfume, ela foi abrindo enquanto decidia se amassava e jogava a carta no fogo ou se lia o que estava escrito.

Com a carta aberta em mãos a curiosidade a fez ler aquelas palavras e seu rosto congelou em choque. Sua boca abriu e ela deixou a carta cair no chão. Bianca correu para fora do quarto e fechou a porta atrás de si, como se anexado a carta viesse um pequeno demônio.

Depois de se recuperar, ela abriu a porta e voltou a pegar a carta e releu pensando que talvez o que leu antes fosse apenas um delírio. Não era. Cada uma das palavras escritas ainda eram as mesmas.

Era noite lá fora, a luz da lareira e das velas iluminavam os olhos vermelhos de Bianca enquanto suas pupilas variavam entre dilatar e diminuir. Então, Bianca riu.

Não de felicidade, era um riso sarcástico.

Lara queria se desculpar, queria recomeçar do zero. Como se isso fosse possível para elas.

Como se anos de intriga pudessem ser apagados por algumas palavras escritas em um papel.

Lara era cruel. Ela mirava no ponto mais sensível e ela sempre acertava em cheio no ponto exato. Suas palavras eram veneno em ondas, suas ações terminavam em sangue e a humilhação era uma mancha de gosto amargo.

O ressentimento era espesso demais.

A órfão Bianca, a amante Bianca, a "santa" Bianca, a que não tem mãe para receber educação Bianca, a que não tem pai para ser protegida Bianca, a nobre criada por um servo Bianca, a nobre sem qualificações Bianca, a oportunista Bianca, a pior que lixo Bianca, a meretriz Bianca, a maldição Bianca, a falsa Bianca, a mentirosa Bianca, a assassina Bianca, a que deveria ter morrido Bianca, a criança que matou os próprios pais Bianca... A infeliz Bianca.

Lara inventou boatos, a xingou e caluniou das piores formas.

Agora, essa pessoa que transformou sua mente em um inferno, que alimentou sua culpa, que não lhe poupou críticas quer recomeçar do zero?

Por que? Essa carta é verdadeira? É sincera? Mesmo se for, ela deveria se comover? Foi ela quem sofreu, ela quem aguentou tudo. Por que ela deveria perdoar?

Lara já sofreu alguma coisa? Lara diz entender como ela se sente, mas ela pode entender? Lara pode entender quando foi ela quem segurou a espada ensanguentada? Quando foi ela quem a jogou no fundo do poço?

Bianca não podia acreditar.

Mesmo se cada palavra fosse verdadeira, Bianca ainda não podia acreditar.

Bianca jogou a carta no fogo. Ela não dormiu aquela noite e, no dia seguinte, ela resolveu ir falar pessoalmente com Lara. Ela enviou uma resposta.

Pessoalmente ela poderia ver através de Lara suas verdadeiras intenções. Se ela contatasse a sinceridade de Lara, ela... Não saberia o que fazer.

......................

— Por que? O que fez mudar a sua mente e decidir que se arrepende? — O rosto de Bianca não estava bom.

O bonito rosto da protagonista estava contorcido em raiva contida. Eu me senti reprimida por essa aura raivosa.

O ódio entre Lara e Bianca não era pequeno. Eu entendia isso. Eu sabia que não seria fácil contornar e transformar essa relação quebrada em pedaços em algo novo.

Pegar cada caco e juntar para montar uma nova relação.

— Eu refleti muito sobre o meu próprio comportamento. — Falei e ela esperou eu continuar.

Como eu deveria seguir? Droga.

— Eu sei que fui cruel. — Pigarriei. — Eu fui horrível, fiz muitas injustiças e inventei mentiras nojentas sobre você. Na verdade, se eu fosse outra pessoa, eu definitivamente aconselharia você mandar eu ir me fod... Enfim, diria para manter distância de mim e me dar uma lição para que eu nunca fosse capaz de abrir a boca novamente.

Olhei para Bianca e sua expressão continuava inabalável. Bebi o chá novamente e continuei falando o que eu pensava da Lara original.

Cautelosamente observei as expressões de Bianca e percebi que a cada palavra a mais que dizia suas sobrancelhas pareciam baixar cada vez mais até ela estar com a testa completamente franzida.

Eu não tinha palavras para elogiar Lara, tudo o que disse foi de crítica a xingamentos sem contenção. A Lara agora parecia alguém que odiava a si mesma ao extremo.

Bianca não tinha palavras quando terminei.

— Meu arrependimento é profundo. Eu sou sincera quando digo que quero recomeçar e fazer as coisas certas com você. — Disse por fim.

— Eu não quero que você faça as coisas certas. Eu quero que você suma da minha vida. — Levantei os olhos como um relâmpago quando a ouvi falar.

Ela levantou se preparando para ir embora. Corri para impedir e agarrei seu braço em um abraço.

— Não vá! — Bianca por favor! Eu preciso de você! Eu, Lorrane, vou precisar da protagonista!

Eu decidi ontem a noite que iria pelo menos salvar a vida do meu segundo personagem preferido! Seu irmão! Eu também não quero que minha personagem preferida me odeie!

Chorei mentalmente.

— Me solte. — Bianca arregalou os olhos em um misto de raiva e surpresa.

— Você não precisa me perdoar agora! — Falei e a soltei, mas bloqueei o caminho da porta.

Além de tudo, eu preciso da Bianca para viver em paz no futuro. Afinal, quem mais vai derrotar o grande vilão? Bianca e aquele Daniel, nenhum dos dois sabem sobre o traidor, se eu puder encontrar um jeito de plantar a pulga atrás da orelha desses dois já será uma vitória!

Talvez eles consigam até mesmo derrotar ele antes dele aprender magia e escravizar as feras mágicas! O ataque do reino lombriga também tem que ser evitado! Fugir para Disio não é 100% seguro.

Para garantir a minha segurança e paz, preciso alertar os protagonistas sobre as traições e evitar a queda deste império!

— Não precisa me perdoar agora... — Repeti. — Não precisa me perdoar nunca.

Não tem que perdoar a Lara, a verdadeira Lara não se arrependeu. Então não tem porquê perdoar.

— Mas me dê uma oportunidade de tentar.

O rosto de Bianca era escuro e ela ficou em silêncio por um longo tempo. Justo quando pensei que ela não ia responder, Bianca sorriu.

— Heh. — Claro, era um riso de escárnio. — Eu não preciso perdoar? Eu não te perdoaria nem se você ajoelhasse no chão e implorasse.

Bianca me empurrou para o lado e abriu a porta para sair.

Suspirei. Parece que a protagonista tem um coração de pedra quando se trata da vilã.

Bianca parou e olhou para trás.

— Você pode tentar. — Então ela se virou e foi embora deixando apenas o som da sua voz em uma última frase. — Faça o que você quiser.

......................

Alguns dias depois, no ducado Rosário, Bianca e Bernardo estavam conversando enquanto bebiam chá.

— Você acha que ela está planejando alguma coisa? — Bernado falou enquanto descia a xícara de chá de volta a mesa.

— Ainda não sei. — Bianca respondeu. — Vou apenas observar e ver o que acontece.

— Cuidado para não terminar ruim para você.

Bianca assentiu.

— Você bebe muito chá. Toda vez que olho, você tem uma xícara na mão.

— E papel. — Completou Bernardo sorrindo.

Bianca sorriu e disse.

— Se não quer virar um chá ambulante deveria maneirar um pouco. Você já está cheirando como um.

Bernardo cheirava a chá. Como ele estava sempre bebendo, o cheiro acaba o seguindo por todo lugar.

— Se preocupe consigo mesma. — Ele disse por fim. — Vou dizer novamente, não confie muito na senhorita Lara.

— Eu não confio nela. — Bianca disse firme. — Mas estou curiosa para ver o que ela vai fazer de agora em diante.

— Daniel não vai gostar quando souber. — Bernado disse com um sorriso no rosto.

— Não importa. Ela vai ser a madrinha da princesa, não tem como fugir dela. Por mais que eu queira.

No fim da tarde os dois irmãos se despediram e cada um foi para seus próprios quartos com pensamentos diferentes, mas o assunto estava sincronizado: Lara.

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