O lobo branco, sozinho na escuridão, fitava o céu vazio com um desespero crescente. A ausência da lua pesava sobre ele como uma sombra que se recusava a dissipar. O vazio no alto parecia zombar de sua espera, de sua esperança. Sem mais forças, ele se lançou em um uivo profundo, um som ancestral que ressoava por toda a floresta. Sua voz ecoava pelas árvores escuras, atravessando o denso mar de sombras que o cercava.
— LUAAAAA! — ele clamava, sua voz reverberando no ar frio da noite.
— LUAAAA!!
O som, que em nossa língua soaria como lamentos longos e melancólicos, era o grito de um coração partido. Era o chamado desesperado de uma alma que havia provado algo além da simples existência e agora se recusava a voltar à monotonia.
— HUUUU!
— HUUU!
O lobo uivou incessantemente, sua voz um clamor que parecia atravessar o próprio tempo, chamando por ela, sua amada lua. A intensidade do seu uivo era tamanha que o próprio vento, amigo antigo da lua, não pôde mais suportar o sofrimento que presenciava. A lua, tocada pelo clamor do lobo, pediu ajuda ao vento.
E o vento, em sua força poderosa e silenciosa, começou a soprar ferozmente pela floresta. Uma a uma, as árvores gigantescas, aquelas que haviam bloqueado a visão do céu por séculos, começaram a tombar. Com um estalo profundo, os troncos cederam, como se a própria natureza reconhecesse o poder daquele amor impossível.
A cada nova árvore derrubada, mais do céu se abria, e o lobo, em meio aos uivos, finalmente percebeu que algo estava mudando. E então, no meio daquela clareira que se formava, ela apareceu.
A lua.
Ela surgiu, radiante, sua luz prata banhando a floresta em um brilho suave, quase etéreo. O lobo silenciou. Seus olhos fixaram-se na figura celestial, e seu coração, que momentos antes estava despedaçado, agora pulsava com uma força renovada. Era como se todo o seu ser fosse guiado apenas pela presença dela.
E com uma voz que parecia vir de todos os cantos do céu, a lua perguntou, com seu brilho intenso e questionador:
— Por que me anseia tanto, jovem lobo?
O lobo, com seus olhos cintilantes de emoção, respondeu com uma sinceridade desarmante:
— Antes de você, eu vivia sempre nos mesmos dias. Não havia cor, não havia brilho. Só a repetição infindável da existência. Mas quando te vi, pela primeira vez, senti que há algo mais. Algo que nunca conheci... e agora não posso mais viver sem você.
As palavras do lobo cortaram fundo no coração da lua. Ela, tão distante e intocável, sentiu uma tristeza imensa para crescer dentro de si. E assim, lágrimas começaram a cair do céu, disfarçadas na forma de chuva. Cada gota que caía na floresta era uma lágrima da lua, lamentando a distância impossível entre eles.
Mas naquele momento, nada mais importava. Nem o futuro, nem as distâncias. O que importava era o agora — o momento que compartilhavam. E mesmo sabendo que era impossível que ficassem juntos, o lobo e a lua se amavam profundamente naquele instante, como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.
Os anos se passaram, e o lobo branco já não estava mais presente. Mas seu legado, seu uivo, transcendeu o tempo. A história daquele amor impossível foi passada de geração em geração entre os lobos. Cada descendente daquele lobo branco sentia, em seu coração, o chamado ancestral de uivar para a lua.
Assim, a cada noite de lua cheia, lobos de todas as cores — brancos, negros, cinzas e até os vermelhos-guarás — levantavam suas cabeças e uivavam. O som ressoava pelas florestas, desertos e montanhas, uma serenata eterna à lua distante. Cada uivo era uma confissão de amor, um lamento suave e persistente, cheio de saudade e devoção.
Eles uivavam na chuva, sob o sol, durante o dia e a noite. Não importava a situação, nem o que os outros animais pensassem. Os lobos uivavam. E mesmo que os humanos, com suas cidades e luzes artificiais, tentassem abafar o som, o uivo continuava, cortando o silêncio da noite.
Os lobos, geração após geração, jamais esqueceram aquele momento de conexão. Não importava o tempo que passasse, cinco trilhões de anos poderiam ir e vir, mas enquanto existisse um único lobo sobre a Terra, a serenata para a lua continuaria. Era um ritual sagrado, seguido com fervor por todos, um pacto feito entre dois amantes separados por mundos, mas unidos por um instante de pura emoção.
Mesmo quando os lobos se extinguirem, a lua continuará a olhar para a Terra, lembrando-se do seu amado. E mesmo que a lua exploda em milhões de pedaços, o espírito do lobo ainda encontrará uma forma de uivar, onde quer que esteja, para lembrá-la do amor eterno que partilharam.
Mesmo quando seu coração estiver cheio de dor, o lobo uivara. Em seu último suspiro, ele chamará por ela. E mesmo após a morte, o espírito do lobo continuará a vagar pelo mundo, buscando a lua, cantando para ela na escuridão eterna.
E o que restará desse amor impossível? Suas lembranças, guardadas nos corações dos dois. O lobo lembrará de cada instante com felicidade, e a lua, em sua solitude celestial, jamais esquecerá o som do uivo que atravessou gerações.
E assim, enquanto houver uma lua no céu e um lobo na Terra, o amor deles nunca morrerá. E mesmo que você nunca tenha ouvido um lobo uivar para a lua, um dia, em uma noite silenciosa, você ouvirá. E, quando ouvir, lembrará desta história. E entenderá o significado do amor que atravessa as eras, marcado por um simples, mas poderoso, instante.
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Atualizado até capítulo 22
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