Capítulo 7 – O Preço da Luz

A vitória trouxe um alívio momentâneo para a alcateia, mas o ar ao redor parecia carregado de algo indefinido, como um sussurro distante que ainda persistia. A lua continuava a brilhar intensamente no céu, mas seu brilho não era mais o mesmo. Algo havia mudado.

Lira, ainda cercada pelo poder lunar, sentiu uma fraqueza começar a se infiltrar em seu corpo. Cada respiração parecia um esforço maior que o anterior, como se a energia que a envolvera para derrotar a entidade estivesse, agora, sugando suas forças. Ela tentou esconder o mal-estar, mas Auron, sempre atento, percebeu.

— Lira, você está bem? — Ele perguntou, preocupado, aproximando-se dela.

Ela forçou um sorriso, mas não conseguiu esconder o cansaço em seus olhos.

— Estou… mas há algo errado. — Ela admitiu, olhando para o céu, onde a lua, apesar de sua vitória, parecia opaca, como se tivesse perdido parte de seu vigor.

Auron sentiu o mesmo. A entidade havia sido derrotada, mas o equilíbrio entre o mundo dos lobos e a lua parecia perturbado. A conexão que Lira possuía com a lua era agora mais forte do que nunca, mas isso também trazia consequências. Algo havia sido alterado no momento em que Lira canalizou tanto poder, e a lua, sua eterna guardiã, parecia pagar o preço por isso.

A alcateia, ainda comemorando a vitória, começou a perceber a estranha atmosfera que os rodeava. O brilho nos olhos de Lira estava diminuindo, e os lobos mais sensíveis ao poder lunar sentiam uma perturbação sutil, uma inquietação no fundo de seus corações.

— O que está acontecendo com a lua? — perguntou Kiran, preocupado, enquanto levantava a cabeça para observar o astro no céu.

Lira olhou para ele, sua expressão séria.

— Quando pedi ajuda à lua, ela deu tudo de si para nos salvar. — Lira explicou, sua voz baixa.

— Mas agora... parece que ela está sofrendo as consequências.

Auron se aproximou ainda mais, seu olhar firme.

— Isso não pode ser permanente. — Ele afirmou, mas a incerteza em sua voz era evidente.

— Talvez a lua precise de tempo para se recuperar.

Lira balançou a cabeça lentamente.

— Não é tão simples. — Ela disse, olhando para o céu com preocupação.

— O vínculo que formamos foi profundo demais. Eu senti a dor da lua quando a entidade foi derrotada. E agora, algo dentro de mim diz que eu devo fazer mais… que essa conexão não está completa.

Os lobos ao redor começaram a murmurar entre si, sem entender completamente o que estava acontecendo. Lira era a chave para essa nova realidade, mas as implicações de seu poder estavam começando a se tornar claras. Ela não era apenas uma loba comum; ela era uma ponte entre a terra e o céu, e esse papel vinha com um preço.

— Você não pode se sacrificar de novo, Lira. — Auron falou com determinação, sua voz firme.

— Já fez o bastante. A lua não te pediu isso.

Mas Lira sabia que ele estava errado. Algo dentro dela, algo profundo e instintivo, dizia que a lua havia dado tudo o que tinha, e agora era a vez de Lira retribuir. A conexão entre elas era inquebrável, mas também era uma troca de forças. E, se a lua estava perdendo seu brilho, Lira sabia que era porque ela estava se tornando o receptáculo desse poder.

— Não posso deixar a lua enfraquecer. — Lira respondeu, seus olhos cheios de uma resolução que Auron não pôde contestar.

Antes que qualquer um pudesse detê-la, Lira se afastou da alcateia e caminhou para o centro da clareira, onde a luz da lua brilhava mais forte. Seus passos eram lentos, como se carregasse um peso invisível. O brilho ao seu redor começou a crescer novamente, e Auron percebeu, com um calafrio, que Lira estava se preparando para algo grande.

— Lira, pare! — Auron gritou, correndo em sua direção, mas uma barreira invisível o impediu de se aproximar. A lua havia erguido um escudo ao redor de sua escolhida, protegendo-a de qualquer interferência.

Lira olhou para ele com tristeza, mas também com uma aceitação silenciosa.

— Eu preciso fazer isso, Auron. — Ela disse, sua voz suave, mas firme.

— A lua nos deu tudo. Agora, eu preciso retribuir.

Auron tentou lutar contra a barreira, mas ela era inquebrável. Ele sabia, no fundo de seu coração, que Lira havia feito sua escolha. Mas isso não tornava as coisas mais fáceis de aceitar. A alcateia estava em silêncio, observando, incapazes de entender completamente o que estava acontecendo, mas sentindo que algo irrevogável estava prestes a acontecer.

Lira fechou os olhos e ergueu o focinho para o céu. A lua parecia pulsar em resposta, como se estivesse chamando por ela. A conexão entre as duas era mais forte do que nunca, e, aos poucos, o corpo de Lira começou a brilhar intensamente, como se estivesse se fundindo com a própria luz lunar.

A energia ao redor dela crescia, cada vez mais brilhante, até que um clarão prateado explodiu pela clareira, cegando momentaneamente todos os lobos ao redor. Auron tentou proteger os olhos, mas quando a luz finalmente diminuiu e ele pôde ver novamente, Lira havia desaparecido.

No lugar onde ela estava, um feixe de luz prateada subia em direção à lua, conectando a terra e o céu em uma linha perfeita. A lua, que antes parecia enfraquecida, começou a brilhar com uma força renovada, sua luz banhando a floresta com uma intensidade quase divina. A conexão estava completa, e Lira… Lira agora era parte da lua.

Os lobos permaneceram em silêncio, incapazes de processar o que haviam acabado de testemunhar. Auron sentia um vazio no peito, mas também uma profunda compreensão de que Lira havia se sacrificado para restaurar o equilíbrio. Ela havia escolhido um caminho que nenhum outro lobo poderia seguir, mas que garantiria que a lua continuasse a brilhar para todas as futuras gerações.

— Ela se foi. — Kiran murmurou, com uma voz rouca.

Auron balançou a cabeça, ainda olhando para o céu.

— Ela não se foi. — Ele respondeu, sua voz carregada de emoção.

— Ela está lá, com a lua. E enquanto ela estiver lá, estaremos protegidos.

A alcateia uivou em uníssono, seus uivos ecoando pela floresta como um tributo à loba que havia dado tudo. A lua estava salva, e a história de Lira, a loba que se tornou parte do céu, seria contada por todas as gerações futuras.

Mas no coração de Auron, uma pergunta persistia: Até quando a lua precisaria desse sacrifício? E, mais importante, quando voltaria a cobrar seu preço novamente?

O destino dos lobos e da lua estava eternamente entrelaçado, e agora, mais do que nunca, eles sabiam que a lua nunca se esquece daqueles que a servem.

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