As noites passavam, e os lobos continuavam a uivar, como sempre fizeram, mas uma mudança sutil pairava no ar. A lua, observando seus fiéis lobos noite após noite, carregava consigo um segredo profundo, algo que jamais revelara a nenhum deles. Ela sempre os ouvira, sempre sentira o amor em cada uivo que subia até seu trono no céu. Mas o que nenhum lobo sabia era que, por trás de sua luz prateada e sua calma eterna, a lua guardava uma dor antiga, um mistério oculto nas sombras de sua superfície.
Naquela noite, uma nova geração de lobos se reuniu na clareira da antiga floresta, onde o lobo branco, o primeiro a amar a lua, tinha visto seu brilho pela primeira vez. Os lobos jovens, liderados por uma fêmea de pelagem prateada e olhos de âmbar, e as presas caninas tão brilhante e afiadas que seriam capazes de cortar até mesmo o mas poderoso dos diamantes, os lobos estavam prontos para uivar. Eles conheciam a história de seu ancestral apaixonado e movido pelo sentimento mais ardente que fogo, sua história era contada como uma lenda entre a alcateia, mas nunca haviam experimentado a sensação de verdadeiramente se conectar com a lua.
A líder dos lobos, chamada Serena, ergueu seu focinho ao céu, esperando que a lua aparecesse. Naquele instante, um vento frio soprou pela floresta, como um sussurro antigo, e as estrelas começaram a brilhar mais forte, uma a uma. Finalmente, a lua surgiu, cheia e brilhante como sempre, mas algo parecia diferente naquela noite.
O brilho da lua estava... de certa forma trêmulo.
Serena, com seu instinto aguçado, sentiu que algo incomum estava acontecendo. Ela olhou para seus companheiros, que já começavam a uivar, mas uma inquietação crescia dentro dela. Algo na luz da lua chamava por ela de uma forma que nunca havia sentido antes. Era como se a lua estivesse... chorando?.
— Por que você chora, grande lua?, algum dos nossos ousou entristece -lá? E só dizer que ele será punido por tamanha ofensa!— Serena perguntou em um sussurro que parecia perder-se no vento apesar da seriedade de suas palavras. Mas, para sua surpresa, a lua respondeu.
— Eu choro por ele. — A voz da lua era distante, mas carregada de tristeza.
— Pelo lobo branco que ousou me amar. — completou.
Serena, surpresa por receber uma resposta daquelas, sentiu uma pontada no peito. As histórias contadas por sua alcateia eram reais, mas o que ninguém sabia era que o amor entre a lua e o lobo branco tinha deixado uma marca profunda nela. O tempo havia passado, gerações de lobos haviam continuado o ritual do uivo, mas a lua continuava presa à lembrança daquele primeiro encontro, daquele lobo que viu algo mais além da sobrevivência.
Mas havia algo mais nas palavras da lua, algo que Serena precisava entender, algo que ela queria muito entender.
— Você sente falta dele? — Serena perguntou, sua voz reverente e cheia de curiosidade, o amor era algo que serena só conhecia de boca mas o conceito ainda era algo muito vago pra uma loba tão jovem quanto ela.
— Mais do que posso expressar, jovem loba. Mas o que vocês não sabem é que... eu não sou apenas uma observadora. Há um motivo pelo qual estou tão longe, tão separada de vocês. — A lua hesitou, como se carregar esse segredo por tanto tempo a tivesse enfraquecido.
Serena manteve o olhar fixo no céu, esperando que a lua revelasse o que estava escondido por tanto tempo. A floresta ao redor parecia segurar a respiração, como se o próprio vento estivesse à espera de uma revelação.
— Há muito tempo, antes mesmo de seu ancestral me encontrar com aqueles olhos intensos apenas ele tinha, eu não estava tão distante. Eu caminhava pela Terra como vocês, livre, viva, sentindo o calor do chão sob minhas patas. Eu era uma de vocês. — A lua, em sua forma imensa no céu, começou a brilhar mais forte, e as árvores ao redor da clareira balançaram suavemente. Como se estivesse passando por alguma espécie de melancolia naquela hora com as palavras.
Serena não pôde conter o espanto. A lua era uma loba assim como ela? Aquilo poderia mesmo ser verdade?.
— Sim. — a lua continuou, como se lendo seus pensamentos, muito antes que a loba conseguisse pensar em questionar.
— Eu fui uma loba, a muitqs e muitas eras desse agora, nascida sob as mesmas estrelas que vocês. Mas meu desejo de conhecer mais, de alcançar algo além da minha existência, me levou a fazer um sacrifício. Eu escolhi subir aos céus e observar tudo de longe, e em troca, deixei para trás tudo o que amava, incluindo a possibilidade de amar como antes. Desde então, estive aqui, observando, iluminando, mas incapaz de tocar o que está abaixo de mim. Esse e meu fardo eterno loba.
Serena, ainda processando o que havia acabado de ouvir, sentiu seu coração pesar com a tristeza da lua. A lua, aquela que todos veneravam, estava presa em um ciclo eterno de solidão. Seu sacrifício, embora grandioso, a havia afastado do que ela mais desejava — o toque, a conexão, o amor verdadeiro. E agora, entendendo o porquê de sua saudade, Serena perguntou:
— Existe uma forma de trazê-la de volta? De fazer com que caminhe entre nós novamente?
A lua hesitou. Seus raios pareceram enfraquecer por um instante, como se ela lutasse contra uma resposta que há muito tempo escondia.
— Há uma forma, mas ela exige um sacrifício ainda maior do que o meu. Para que eu volte, alguém deve tomar o meu lugar. — a lua disse, sua voz trêmula e cheia de dor.
— E quem fizer isso, jamais voltará. Ficarão aqui, presos, a observar, a amar de longe. Um destino solitário.
Serena sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O peso da decisão que a lua sugeria era imenso. Mas algo em seu coração, algo profundo e instintivo, a fez olhar para o céu com determinação. Ela sabia que a lua precisava de conforto, de liberdade. Mas a que custo?
— Eu... — Serena começou a falar, mas foi interrompida pela lua.
— Pense bem, jovem loba. O sacrifício não é apenas seu. Seu nome será esquecido entre os vivos, e sua existência será apenas uma lembrança distante no brilho do céu.
Os outros lobos, que até então continuavam a uivar, pareciam não notar a conversa profunda entre Serena e a lua. Mas Serena sabia que seu destino estava sendo selado ali, naquela noite.
Ela olhou uma última vez para os seus companheiros, para a floresta que ela tanto amava. O vento soprou suavemente sobre sua pelagem prateada, e, sem dizer mais nada, Serena tomou sua decisão.
Erguendo o focinho uma última vez, ela uivou. Um uivo que ressoou não apenas na Terra, mas também nos céus. E, com aquele som, o destino de Serena foi selado. Aos poucos, a luz da lua começou a diminuir, e uma névoa suave envolveu a loba. Quando a névoa se dissipou, Serena não estava mais ali. No céu, a lua brilhava com uma intensidade renovada.
E no silêncio daquela noite, algo novo nasceu. Uma nova lua brilhava sobre os lobos, enquanto o antigo espírito, agora livre, caminhava pela Terra mais uma vez, suas patas tocando o solo que tanto ansiara sentir.
Os lobos continuaram a uivar, como sempre. Mas agora, a lua olhava para eles com olhos diferentes, olhos que um dia foram de uma loba como eles, que entendeu que o sacrifício pelo amor verdadeiro era, às vezes, o maior de todos.
E assim, a lenda da lua continuava, com um novo capítulo sendo escrito sob seu brilho eterno..
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Atualizado até capítulo 22
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