Capítulo 4 – A Maldição da Lua

No silêncio profundo da noite, sob a luz brilhante da lua, uma nova realidade começava a se desenhar. Serena agora era parte do firmamento, sua essência eternamente ligada ao brilho prateado da lua. A floresta, por mais sombria e vasta que fosse, nunca mais seria a mesma, pois sua líder, que uma vez caminhara entre as árvores antigas, agora se tornara um mito.

Os lobos continuaram a uivar todas as noites, mas os uivos agora carregavam uma melancolia que antes não existia. Algo havia mudado — o ritual que antes era de esperança agora parecia pesar sobre seus corações, como se cada lobo que erguesse sua voz ao céu soubesse que a lua não era mais apenas uma testemunha distante. Ela tinha perdido algo também.

E, embora os uivos continuassem, uma presença diferente começava a se manifestar.

Naquela mesma floresta antiga, escondido nas sombras onde a luz da lua mal tocava, uma entidade aguardava. Não era um lobo, nem fera alguma conhecida pela floresta, mas algo esquecido, antigo e poderoso. A transformação de Serena, e o sacrifício que a lua aceitara, haviam despertado um equilíbrio há muito adormecido. Algo que não devia ser perturbado. Uma maldição.

Uma noite, enquanto os lobos mais jovens uivavam, uma sensação estranha percorreu o ar. O vento, que normalmente trazia consigo a canção suave das árvores, agora soprava com uma frieza inusitada. As sombras se alongavam de maneira anormal, como se algo estivesse se movendo por entre elas. E então, no meio de tudo, um uivo ecoou pela floresta — mas não era um uivo de nenhum dos lobos presentes. Era um som profundo, ancestral, que reverberava até os ossos.

Os lobos, desconfiados, se entreolharam. Ninguém sabia de onde vinha aquele som, mas todos sentiam que não era um bom presságio.

Entre eles, um lobo de pelagem cinza, chamado Auron, era um dos mais antigos da alcateia. Ele havia vivido muitas luas e, como o mais sábio entre eles, sabia que algo estava terrivelmente errado. A aura da floresta não era mais a mesma desde que Serena desaparecera, e agora, aquele uivo estranho confirmava suas suspeitas.

— Algo despertou... — ele murmurou para si mesmo, olhando para o céu.

Naquela noite, Auron decidiu explorar mais a fundo. Seus instintos o guiavam por trilhas que apenas ele conhecia, lugares onde a floresta escondia seus segredos mais sombrios. O ar ficava mais denso à medida que ele avançava, e a escuridão parecia tomar forma ao seu redor, como se estivesse observando cada movimento.

Foi então, no coração mais profundo da floresta, onde a luz da lua mal chegava, que Auron encontrou o que nunca deveria ser encontrado.

Uma figura emergia das sombras, alta, imponente, e com olhos que brilhavam em um vermelho profundo. Seus traços não eram de lobo, tampouco de qualquer criatura que Auron já tivesse visto. Era uma entidade feita de puro mistério, uma forma esculpida pela escuridão e pela magia antiga da terra.

— Você perturbou o equilíbrio... — a voz da entidade era baixa e ressoava como um trovão distante.

— Quando sua líder ascendeu à lua, ela abriu uma passagem, libertando o que há muito tempo estava preso. Agora, o preço deve ser pago.

Auron recuou, suas patas tremendo, mas ele não se virou. Quem era essa criatura? O que significava aquele aviso?

— Quem é você? — Auron finalmente perguntou, sua voz firme, apesar do medo que sentia.

— Eu sou o guardião do segredo da lua, aquele que vigia as sombras quando a luz falha. Sou o que resta da maldição que vocês libertaram com sua devoção imprudente. Quando a lua aceita um sacrifício, há consequências que nem ela pode controlar. A sua líder fez uma escolha, mas o preço ainda não foi totalmente pago. E agora, todos vocês devem lidar com isso.

A entidade começou a se aproximar, suas palavras ressoando pela floresta como um eco que não podia ser ignorado.

— Cada geração de lobos que uivou para a lua alimentou essa maldição, fortalecendo-me. Agora, eu sou mais poderoso do que antes, e meu tempo de vigiar acabou. Chegou a hora de reivindicar o que é meu.

O pavor tomou conta de Auron. Ele sabia que algo grande e perigoso estava por vir, algo que poderia destruir tudo o que os lobos conheciam.

— O que você quer de nós? — Auron perguntou, sentindo o peso do destino sobre seus ombros.

— O que sempre quis. — respondeu a entidade.

— Liberdade. E para isso, precisarei de outro sacrifício. Um lobo de sangue puro, descendente daquele que primeiro tocou o coração da lua. Somente isso poderá me devolver o que me foi tirado há eras. E se vocês não entregarem esse lobo... todos vocês sofrerão. A lua nunca mais brilhará para vocês, e a escuridão tomará este mundo.

Auron sabia o que estava em jogo. O sacrifício de Serena havia alterado algo muito além do que eles podiam entender. Agora, a própria essência da lua e dos lobos estava entrelaçada com um antigo poder que, se liberado, poderia destruir tudo.

Mas havia um detalhe que Auron ainda não sabia. Quem seria o lobo de sangue puro?

Ao retornar para a alcateia, ele observou os mais jovens, aqueles que uivavam sem saber do perigo iminente. Entre eles, uma jovem loba de pelagem branca como a neve, tão pura quanto o primeiro lobo que se apaixonara pela lua. Seu nome era Lira, e Auron sabia, ao olhar para ela, que o destino dela estava selado.

Mas como ele poderia entregar uma vida tão jovem, tão cheia de promessas, para uma entidade que só queria destruição?

A escolha era clara, mas o peso

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