As noites seguintes ao sacrifício de Lira foram silenciosas e solenes. A lua brilhava mais intensamente do que nunca, lançando um manto prateado sobre a floresta. A alcateia sentia sua presença, como se ela estivesse ainda entre eles, observando do alto, agora uma com a lua.
Auron liderava os lobos com a mesma força e determinação, mas o vazio deixado por Lira era profundo. Cada uivo à lua soava como uma saudação a ela, uma homenagem à loba que transcendeu o mundo mortal. No entanto, por mais que o tempo passasse, uma inquietação pairava no coração de Auron. Algo estava diferente — o brilho da lua, embora vibrante, tinha um toque estranho, algo que ele não conseguia decifrar.
Naquela noite, Auron caminhava sozinho pela floresta. O silêncio parecia mais pesado, e o vento soprava entre as árvores como um sussurro antigo. Era como se a floresta quisesse dizer algo, mas as palavras estavam presas no ar.
Enquanto ele caminhava, seus pensamentos foram interrompidos por um som incomum: um eco distante, profundo, um rugido que ele jamais havia ouvido antes. Auron parou, seus sentidos alertas, e seguiu o som, atravessando a floresta até chegar à mesma clareira onde Lira havia se sacrificado.
Ao chegar lá, o brilho da lua intensificou-se, iluminando o lugar como se fosse dia. Mas não era o brilho familiar e suave de antes. Era mais feroz, quase opressor. E no centro da clareira, onde o feixe de luz antes conectava a terra e a lua, algo estava mudando.
A terra parecia vibrar, e uma sombra começou a tomar forma no meio da luz. Auron observava, paralisado, enquanto a figura escura crescia, ganhando contornos. Era como se a própria escuridão estivesse se erguendo, contrariando a luz prateada da lua.
De repente, a figura se revelou. Não era Lira.
Era uma figura lupina, maior do que qualquer lobo que Auron já havia visto, com olhos brilhando de um vermelho intenso, e um pelo tão escuro que parecia absorver a luz ao redor. A sombra da lua havia se materializado, e sua presença era avassaladora.
A criatura levantou a cabeça e uivou — um som gutural e profundo que fez toda a floresta estremecer. Auron sentiu o medo se infiltrar em seu peito, algo que ele não havia sentido em muito tempo.
A figura finalmente se virou em direção a ele, seus olhos penetrantes cravados nos dele. Auron sentiu uma conexão instantânea com a criatura, mas era uma conexão distorcida, sombria. Ele sabia, no fundo de sua alma, que esta entidade tinha algo a ver com o sacrifício de Lira.
— Quem é você? — Auron rosnou, mantendo sua posição, embora seu corpo tremesse com a energia densa que emanava da criatura.
A criatura não respondeu com palavras, mas seu olhar dizia tudo. Ela era a consequência do sacrifício. A energia que Lira entregou à lua havia equilibrado as forças, mas o poder nunca vem sem um custo. Para cada luz, há uma sombra, e agora, aquela sombra havia retornado à terra.
— Você sente, não é? — A voz grave e profunda soou dentro da mente de Auron.
— A lua sempre cobra seu preço. E agora, eu estou aqui para lembrar a todos que o poder dela não é sem consequências.
Auron avançou um passo, tentando controlar o tremor que se espalhava por seu corpo.
— O que você quer? — Ele perguntou, sentindo que, de alguma forma, ele já sabia a resposta.
A criatura deu um passo à frente, seus olhos ardendo com uma intensidade quase insuportável.
— Eu quero equilíbrio. — A entidade respondeu, suas palavras carregadas de uma ameaça silenciosa.
— Vocês tomaram demais da lua, e agora eu devo restituir o que foi perdido.
Auron sentiu o peso das palavras como uma sentença. A alcateia havia se beneficiado do poder da lua através de Lira, mas agora eles enfrentavam o custo desse poder. A sombra da lua havia descido para cobrar o que lhe era devido.
— Você não levará ninguém. — Auron declarou, firmando suas patas no chão, seus olhos cheios de determinação, embora o medo ainda estivesse ali, escondido sob a superfície.
A criatura riu, um som gutural que ecoou pela clareira como trovão.
— Você acha que pode me impedir? — A voz da sombra era como uma faca cortando o ar.
— Eu sou a sombra que acompanha a lua, sempre presente, mesmo quando você não a vê. E agora, eu estou aqui para restaurar o que foi desequilibrado.
Antes que Auron pudesse reagir, a sombra se lançou em sua direção, movendo-se com uma velocidade impossível. Ele tentou desviar, mas a criatura era rápida demais. A escuridão envolveu-o, e ele sentiu a energia pesada e sufocante da entidade penetrar em seu ser.
Por um momento, tudo ficou escuro. Mas, então, Auron abriu os olhos. Ele estava de volta à clareira, mas algo havia mudado. A lua ainda brilhava acima, mas agora havia uma marca escura em seu centro, como uma cicatriz no céu.
E dentro de Auron, ele sentia a presença da sombra. Ela havia entrado nele, fundindo-se com sua alma. Agora, ele carregava tanto a luz quanto a escuridão da lua.
A criatura havia conseguido o que queria: um equilíbrio, forçado e cruel.
Auron caiu de joelhos, respirando pesadamente, enquanto a clareira permanecia em silêncio, exceto pelo leve murmúrio do vento. Ele sabia que, a partir daquele momento, nada seria o mesmo. O sacrifício de Lira havia trazido uma nova era para a alcateia, mas com ela, vinha um novo fardo.
Agora, ele não só liderava os lobos — ele carregava a própria sombra da lua dentro de si.
E o preço por esse poder estava apenas começando a ser pago.
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Atualizado até capítulo 22
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