Capítulo 13 – O Primeiro Eclipse

O silêncio que caiu sobre a floresta depois do confronto com a criatura era tão pesado quanto a escuridão ao redor. A alcateia caminhava em silêncio, mas o ambiente parecia estranho, como se os olhos da própria noite os observassem de todos os cantos. A presença da sombra que Auron enfrentara deixara marcas profundas, não apenas na mente dos lobos, mas no próprio ar que eles respiravam. A tensão era palpável.

Auron liderava a alcateia com passos firmes, mas em seu íntimo, a dúvida o corroía. Ele sabia que a criatura não estava errada sobre uma coisa: a sombra dentro dele. Desde o momento em que aceitara a escuridão como parte de si, ele havia se tornado diferente. Mais forte, mais perceptivo, mas também mais vulnerável a um poder que parecia crescer a cada passo que ele dava.

Naquela noite, quando chegaram à clareira, os lobos se dispersaram para descansar. Mas o sono não veio facilmente para ninguém. Havia uma agitação, um medo novo que pairava sobre eles como uma nuvem pesada. A sombra havia tocado suas almas, e agora, eles também sentiam a mudança.

Auron, no entanto, não descansou. Subiu mais uma vez a montanha, como fizera tantas vezes antes, mas dessa vez, o peso de sua jornada era mais profundo. A lua, antes sua guia e conselheira, havia desaparecido completamente, e ele sabia que seu retorno estava incerto.

Quando chegou ao topo, o céu estava estranho. Não era apenas a escuridão comum das noites sem lua; havia algo mais. Um brilho pálido começava a emanar do horizonte, mas não era o brilho suave e acolhedor da lua. Era algo frio, distante, como se o próprio céu estivesse prestes a revelar um segredo antigo.

Auron ficou em silêncio, observando. O vento soprou com uma intensidade nova, como se o próprio ar estivesse tentando se comunicar com ele. E então, aconteceu.

O horizonte começou a se partir. Uma sombra ainda mais densa que a própria noite surgiu, bloqueando completamente a luz fraca que tentava emergir. Era como se a escuridão estivesse engolindo o mundo, e por um breve momento, o céu se abriu para revelar um eclipse estranho e poderoso.

— Auron…

A voz veio de todos os lados, profunda e ressonante, mas não era a lua. Era algo mais antigo, algo que vinha das profundezas do tempo e do espaço.

— Você se aproximou do ciclo, mas não compreendeu seu verdadeiro propósito.

— A sombra dentro de você não é apenas uma parte sua. Ela é a chave para o que está por vir.

Auron sentiu um calafrio profundo atravessar sua espinha. A criatura com a qual lutara não era o verdadeiro perigo. Era apenas um prenúncio, um mensageiro.

— Quem é você? — ele rosnou, olhando para o céu, onde o eclipse completo dominava a noite.

— O que quer de mim?

A escuridão ao redor dele se agitou, como se estivesse viva.

— Você está no centro de tudo, Auron.

— A lua que você tanto ama, o vínculo com sua alcateia, a escuridão que você aceitou… tudo isso faz parte de um ciclo que você está destinado a completar.

— Mas cada ciclo tem seu preço.

— Você está disposto a pagá-lo?

Auron hesitou. Que preço seria esse? Sua mente voltou à sua alcateia, aos lobos que confiavam nele para liderá-los através da escuridão. Seria ele capaz de sacrificá-los por esse ciclo desconhecido?

— Você fala em enigmas, — ele respondeu, sua voz carregada de cautela.

— Se há um preço, diga-me o que é. Não temo a verdade.

A escuridão riu, um som vazio e ecoante.

— A verdade é uma faca de dois gumes, lobo. O ciclo é mais antigo que a lua, mais profundo que as sombras que você conheceu. Para trazer a luz de volta, é preciso ceder à completa escuridão.

— E para fazer isso… você precisará se render ao que está dentro de você.

— Se tornar a sombra que teme.

A revelação pesou sobre Auron. Ele, o líder, teria que se perder para que seus irmãos e irmãs pudessem encontrar o caminho?

— E o que acontece se eu me tornar essa sombra? — ele perguntou, sua voz baixa, como se já soubesse a resposta.

— Você se tornará o ciclo.

— Você será aquele que vigia a noite, o guardião da escuridão.

— E quando a luz retornar, ela retornará por sua causa, mas não mais para você.

— Você será a sombra, para sempre, Auron.

Auron olhou para o céu mais uma vez, vendo o eclipse total dominando o horizonte. As estrelas haviam desaparecido. A noite era absoluta. Ele sabia o que devia fazer, mas o peso dessa decisão era insuportável.

Se ele se tornasse a sombra, a alcateia estaria segura. O ciclo se completaria. A lua retornaria. Mas ele nunca mais a veria. Nunca mais sentiria sua luz suave. Sua vida, seus sonhos, tudo o que ele havia construído seria entregue à noite eterna.

Ele se virou, olhando para a floresta, imaginando seus companheiros descansando abaixo. Eles não sabiam do sacrifício que ele estava prestes a fazer.

— Então, é isso? — ele disse, sua voz firme, mas triste.

— Eu me torno a sombra, para que a luz possa retornar.

— Exato, Auron. Mas saiba disto: sua escolha ecoará por todas as gerações.

— Você será o nome que os lobos futuros irão sussurrar nas noites mais escuras. O guardião invisível, aquele que nunca se curva, mas que vigia o caminho para a luz.

— Seu nome será eterno, mas sua forma, esquecida.

O silêncio caiu. Auron respirou fundo, aceitando seu destino. Ele faria isso pela alcateia. Pela lua. Pela promessa de que, mesmo que ele se perdesse, a luz um dia voltaria para todos eles.

E com um último olhar para o eclipse no céu, Auron se entregou à escuridão.

Ele não seria mais apenas o lobo branco.

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