A noite parecia mais densa, o ar carregado de uma expectativa sombria. A lua, majestosa no céu, parecia observar tudo com um brilho mais intenso, como se compreendesse que algo grande estava por vir. Auron e Lira se preparavam para o inevitável confronto com a entidade que ameaçava não apenas a alcateia, mas o mundo como conheciam.
Lira, com o coração batendo acelerado, sentia uma estranha conexão com a lua. Como se, de alguma forma, a força que percorria os céus também estivesse dentro dela, crescendo a cada segundo que se aproximava da batalha. Seus olhos, normalmente serenos, agora brilhavam com uma intensidade quase sobrenatural. A responsabilidade de salvar seus companheiros recaía sobre ela, mas, em vez de se encolher diante do desafio, ela sentia o desejo de lutar queimando dentro de seu peito.
Auron, por outro lado, olhava para Lira com uma mistura de orgulho e preocupação. Ele sabia que a jovem loba tinha um destino especial, mas o que estava por vir era algo além da compreensão de qualquer lobo. Ele sentia o peso da sombra se aproximando, cada vez mais forte, cada vez mais próxima. E sabia que, se falhassem, tudo estaria perdido.
— Está pronta, Lira? — Auron perguntou, quebrando o silêncio que pairava entre eles.
Lira assentiu com determinação, seus olhos fixos no horizonte onde as sombras pareciam se mover de forma quase imperceptível.
— Estou. — Ela respondeu com firmeza.
— Mas não podemos fazer isso sozinhos. Precisamos da força de todos.
Auron concordou. Ele sabia que a batalha não poderia ser vencida apenas por eles dois. A entidade nas sombras era antiga e poderosa, e apenas a união de toda a alcateia poderia lhes dar uma chance. Com esse pensamento em mente, ele uivou para o céu, um chamado claro que ressoou pela floresta. Logo, os outros lobos começaram a surgir, um por um, atendendo ao chamado de seu líder.
A alcateia, reunida, formava um círculo ao redor de Lira e Auron. Todos olhavam para eles com uma mistura de expectativa e apreensão. Eles sabiam que algo estava errado, mas confiavam em seus líderes para guiá-los.
— O que está acontecendo, Auron? — perguntou Kiran, um dos lobos mais velhos e respeitados da alcateia.
— Por que nos reunimos em uma noite como esta?
Auron deu um passo à frente, seu semblante sério.
— Há algo sombrio que desperta entre as árvores. Uma entidade antiga, que foi liberada quando Serena se uniu à lua. Ela exige um sacrifício. Um lobo de sangue puro. E Lira é a escolhida.
Murmúrios inquietos correram pela alcateia. Os lobos trocavam olhares, temendo pelo que estava por vir. Mas antes que o medo tomasse conta deles, Lira levantou a cabeça, seu olhar confiante captando a atenção de todos.
— Não vou me sacrificar. — Ela declarou, sua voz firme.
— Vamos enfrentá-la juntos. Com a força da lua e de nossa alcateia, vamos lutar por nossa liberdade.
Os lobos, inicialmente surpresos pela coragem de Lira, logo começaram a mostrar sinais de aceitação. Ela era jovem, mas suas palavras ressoavam com uma verdade que ninguém podia negar. A sombra não os destruiria sem uma luta.
De repente, um vento gélido varreu a clareira, fazendo os pelos dos lobos se arrepiarem. A entidade nas sombras estava se aproximando. As árvores ao redor começaram a se curvar, como se algo invisível estivesse passando por elas. O som de galhos quebrando ecoava pela floresta, e uma escuridão muito mais profunda que a da noite envolvia o local.
Então, ela apareceu. Uma figura indistinta, feita de puro negrume, se materializou no centro da clareira. Seus olhos, duas fendas vermelhas, brilhavam com malícia enquanto sua presença sugava o calor e a luz do ambiente.
— Vocês vieram, como eu esperava. — A voz da entidade soou, ecoando em todos os lugares ao mesmo tempo, gélida como a própria morte.
— E trouxeram a escolhida.
Lira deu um passo à frente, enfrentando a figura com uma coragem que surpreendeu até mesmo Auron.
— Eu não sou um sacrifício. — Ela disse, sua voz clara.
— Se você quer meu poder, terá que lutar por ele.
A entidade riu, um som distorcido que parecia ressoar dentro da mente dos lobos, causando-lhes arrepios.
— Lutar? Contra mim? Vocês são nada, apenas sombras da grandeza que já existiu. E você, jovem loba, não passa de um instrumento. Seu destino é inevitável.
Mas, antes que a entidade pudesse avançar, um raio de luz caiu do céu. A lua, respondendo ao chamado de Lira, lançou um feixe brilhante que cortou a escuridão e envolveu a jovem loba em um halo prateado. A força da lua parecia fluir diretamente para Lira, iluminando seus olhos e fazendo sua pelagem brilhar como prata líquida.
A entidade hesitou, surpresa pelo poder que Lira começava a manifestar. A conexão entre ela e a lua era muito mais forte do que a entidade havia previsto.
— Você não é nada além de uma memória, uma sombra do que já foi. — Lira disse, sua voz ecoando com uma nova força, como se estivesse canalizando a própria voz da lua.
— Nós somos os filhos da lua. E a lua não abandona seus filhos.
A alcateia, inspirada pela coragem de Lira, começou a uivar em uníssono. O som de seus uivos preencheu a clareira, ecoando pelas montanhas e árvores ao redor. Era um som que carregava gerações de amor e devoção à lua. E enquanto eles uivavam, a lua brilhava ainda mais forte, como se estivesse respondendo àquela demonstração de lealdade.
A entidade rugiu, avançando sobre Lira, mas antes que pudesse alcançá-la, uma onda de luz prateada se expandiu da jovem loba, empurrando a sombra para trás. O poder da lua parecia proteger cada um dos lobos, criando uma barreira intransponível entre eles e a entidade.
— Eu não vou permitir que você tire a luz de nós. — Lira gritou, seu corpo agora completamente envolto em energia lunar.
— Este é o nosso mundo, e você não tem mais poder aqui.
A entidade, enfraquecida pela luz, recuava, sua forma começando a desmoronar sob a força do poder de Lira. Seus olhos vermelhos queimavam com raiva, mas era tarde demais. A lua havia escolhido seu lado, e aquele confronto não poderia ser vencido pelas trevas.
Com um último grito de fúria, a entidade se dissipou, sua forma se desintegrando no ar, como uma sombra que se esvai na luz do amanhecer. A lua vencia, e os lobos estavam a salvo.
Auron correu até Lira, que respirava ofegante, mas estava bem. Ele a olhou com uma mistura de orgulho e alívio.
— Você fez isso. — Ele disse, com um sorriso.
— Você salvou todos nós.
Lira, ainda envolta pela luz da lua, sorriu de volta.
— A lua nos salvou. — Ela corrigiu, olhando para o céu.
— E nós nunca esqueceremos disso.
A alcateia uivou mais uma vez, desta vez em comemoração. Eles haviam enfrentado a escuridão e vencido. E, juntos, sob a luz da lua, eles sabiam que, enquanto houvesse um lobo que uivasse para o céu, a lua sempre estaria lá para protegê-los.
O destino havia sido desafiado, e o amor entre os lobos e a lua continuaria por muitas gerações.
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Atualizado até capítulo 22
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