capítulo 19

Capítulo 19 – O Confronto

A cabana parecia suspensa no tempo. Isolada do mundo, cercada por árvores que abafavam qualquer som. Nenhum sinal. Nenhum ruído de cidade. Nenhuma distração. Só Damian, Evelyn, e os fantasmas que insistiam em acompanhá-los.

Fazia dois dias que estavam ali.

Evelyn começava a respirar diferente. Mais devagar. Como se o mundo voltasse aos poucos para os pulmões. Damian, por outro lado, não baixava a guarda. Dormia pouco, com a arma sempre próxima. Não confiava no silêncio. Muito menos no tempo.

Naquela manhã, ele estava cortando lenha nos fundos da cabana. Evelyn o observava pela janela. Camisa suada, expressão concentrada, movimentos firmes. Não parecia um assassino. Parecia um homem tentando se manter humano, mesmo depois de perder tudo.

Ela virou-se para dentro e sentou no chão, diante do fogo que ardia fraco na lareira.

— Você acha que ele vai nos encontrar? — perguntou, sabendo que ele a ouviria.

— Não acho. Eu sei que vai.

Damian entrou, limpando as mãos em um pano velho.

— Ele é um predador. E você é a peça que falta no quebra-cabeça dele.

Evelyn cruzou os braços.

— Então estamos apenas esperando ele vir nos matar?

— Não. Estamos esperando ele vir... pra matar ele primeiro.

O olhar de Damian era calmo, mas havia algo sombrio escondido por trás. Um tipo de raiva antiga, silenciosa, que ele guardava como quem guarda munição.

— E se ele for mais rápido?

— Então você atira primeiro.

Ela olhou para a arma em cima da mesa.

— Ainda me assusta.

— É pra assustar mesmo. O dia que não te assustar, você virou ele. Ou eu.

No final da tarde, o vento mudou.

Damian sentiu antes mesmo de ver.

Um instinto. Um arrepio sob a pele. A respiração da floresta ficou mais lenta. O silêncio mudou de tom.

Alguém estava ali.

Ele pegou a arma. Olhou para Evelyn.

— Vá pro porão. Agora.

— Eu quero ficar.

— Evelyn...

— Se for pra morrer, eu morro de frente.

— Então me escuta: fica atrás de mim. E se ele aparecer… atira.

Ela pegou a arma com mãos firmes. Assentiu.

O sol se punha devagar, tingindo a floresta de dourado e sangue.

O primeiro som foi um estalo de madeira.

Depois, o rangido leve da porta da frente.

Damian apontou a arma.

— Marcus — chamou. — Não precisa fingir. Eu sei que é você.

O silêncio respondeu.

E então, uma voz.

— Sempre soube que seu faro era bom, Damian.

O homem apareceu no batente da porta. Alto, magro, vestido de preto da cabeça aos pés. Máscara cirúrgica cobrindo o rosto. Olhos verdes brilhando com uma calma insana.

— Você ainda sangra como antes? — perguntou Marcus, entrando com passos lentos.

Damian mirou direto no peito dele.

— Você não devia estar vivo.

— Você devia saber que monstros como eu não morrem fácil.

Evelyn surgiu atrás de Damian, arma em punho. Marcus a viu e parou.

— Ah... Evelyn. Finalmente cara a cara. Você é ainda mais bela fora das câmeras.

Ela não respondeu.

Mas seus dedos apertaram o gatilho devagar.

— Não precisa disso — continuou Marcus. — Eu só quero conversar. Olhar você de perto. Entender por que Damian se perdeu por sua causa.

— Ele não se perdeu — respondeu ela. — Ele me encontrou.

— Então por que está tão quebrada?

A pergunta veio como um tiro. E atingiu o lugar certo.

— Porque eu amei a pessoa errada no momento certo — disse Evelyn. — E agora estou pronta pra matar a pessoa errada... no momento perfeito.

Ela disparou.

A bala atingiu o ombro de Marcus, que cambaleou, mas riu.

— Perfeita. Mesmo ferindo... é linda.

Damian atirou em seguida.

Atingiu a perna de Marcus, que caiu de joelhos, ofegante.

— Isso não é arte, Marcus. Isso é justiça.

— Não... isso é... final — sussurrou ele.

Do lado de fora da cabana, o som de passos. Quatro. Cinco. Seis.

Damian correu até a janela.

— Ele trouxe reforços.

Evelyn travou a respiração.

— A organização?

— Não. Mercenários. Lobos perdidos como ele.

Damian pegou a mochila com explosivos preparados para emergência.

— Vamos sair pelos fundos. Tem uma trilha. Um abrigo antigo. Se formos rápidos, conseguimos despistar.

— E ele?

Damian olhou para Marcus, caído, sorrindo mesmo sangrando.

— Ele morre aqui.

Antes de sair, Damian se ajoelhou diante de Marcus.

— Você não vai colecionar mais ninguém.

— E você? — sussurrou Marcus, os olhos morrendo. — Quantas já colecionou com o nome de amor?

Damian atirou. Silenciador. Preciso.

Marcus caiu para trás. O riso cessou.

Evelyn não teve tempo de olhar o corpo. Damian já puxava sua mão, correndo pela porta dos fundos, floresta adentro.

Atrás deles, o som de tiros.

Mas à frente...

Liberdade.

Ou algo parecido.

Trinta minutos depois, sujos de terra e suor, chegaram ao abrigo: uma caverna de pedras, antiga, oculta entre raízes grossas.

Damian desabou no chão. Evelyn também.

Ambos respiravam rápido. As mãos trêmulas.

— Ele morreu — disse ela.

— Morreu.

— E mesmo assim... eu ainda não me sinto livre.

Damian a olhou.

— Porque liberdade não vem com sangue. Vem com escolha.

Ela recostou-se na parede fria da caverna.

— E qual é a nossa agora?

Damian estendeu a mão, suja de sangue seco e terra.

— Você escolhe. Ficar. Fugir. Me amar. Me odiar.

Ela pegou a mão dele.

— Eu escolho... terminar o que começamos.

E, pela primeira vez em muito tempo, não houve medo no olhar dela.

Só fogo.

E ele soube: Evelyn já não era isca, nem vítima.

Agora... era lobo também.

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Comments

Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Que capítulo cheio de emoções e intrigas

2025-04-16

0

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