Capítulo 3 – Primeiro Contato
O som do obturador da câmera cortava o silêncio do velho galpão abandonado como uma lâmina. Evelyn se movia entre os feixes de luz que atravessavam as janelas quebradas, capturando a decadência dos escombros com uma precisão quase poética. Ali, onde a poeira encontrava a sombra, ela se sentia viva.
A cidade era cruel com os sensíveis. Mas ela aprendera a encontrar beleza até no lixo.
Terminou de fotografar e se sentou no chão de concreto. Abriu a garrafa d’água e, ao olhar ao redor, teve aquela sensação de novo. O arrepio silencioso na nuca. A presença invisível.
Respirou fundo e riu de si mesma. Estava ficando paranoica. Talvez fosse o efeito da ameaça do dia anterior. Talvez ainda estivesse com a imagem de Damian na cabeça.
Damian. Aquele nome agora parecia preso nela como uma tatuagem mal feita — impossível de apagar.
Ela não percebeu quando ele entrou. Os passos dele eram suaves demais para ecoar. Quando finalmente olhou para cima, ele já estava ali. De pé, entre as sombras, como se fizesse parte da estrutura do lugar.
— Você tem o estranho hábito de aparecer sem ser convidado — disse, levantando-se lentamente.
— E você tem o estranho hábito de ignorar avisos — respondeu ele, a voz tão calma que soava ameaçadora.
Evelyn cruzou os braços.
— Como me encontrou?
Ele deu de ombros, como se a resposta fosse óbvia.
— Eu observo. Você se destaca. É como uma lâmpada em um quarto escuro.
Ela riu, cínica.
— Bonita analogia. Quase poética, vindo de alguém que anda com assassinos.
Damian se aproximou. Um passo de cada vez, sem pressa. Havia algo na maneira como ele se movia — o controle absoluto, como um predador que sabe que a presa não vai fugir.
— Quem disse que eu ando com eles?
— E o que você é, então?
— Aquilo que ninguém vê. Aquilo que remove as peças do tabuleiro antes que o jogo acabe.
Ela sentiu o ar ficar mais pesado. A tensão entre os dois era densa, elétrica. Parte dela queria recuar. A outra... queria entender. Queria mais.
— E por que eu? — perguntou, num tom quase sussurrado. — Por que está me seguindo?
Ele chegou perto o suficiente para que ela sentisse o perfume dele — sutil, caro, amadeirado. Os olhos negros encararam os dela com uma intensidade que a fez perder o fôlego por um segundo.
— Porque você não tem medo de olhar. A maioria das pessoas fecha os olhos quando vê sangue. Você... registra.
— E isso te atrai?
— Isso me fascina.
Evelyn sentiu o coração acelerar. Ele era perigoso. Isso estava claro. Mas também era hipnotizante. A mistura perfeita entre o charme e o abismo.
Ela desviou o olhar.
— Eu não sou como você pensa.
— Não? — ele perguntou, inclinando o rosto. — Então me diga: por que tirou aquelas fotos? Por que voltou ao beco dois dias depois, mesmo sabendo que algo estava errado?
Ela o olhou, surpresa.
— Você estava lá?
Ele não respondeu. Apenas a observava. Aquilo dizia mais do que qualquer palavra.
— Está me vigiando?
— Estou te conhecendo.
— Invadindo meu espaço, minha vida...
— Protegendo você — ele interrompeu, firme. — Você não sabe o que tem por trás daquele corpo no beco. Não sabe o que viu. Mas eles sabem. E vão voltar.
Evelyn recuou meio passo. A expressão dele estava diferente agora. Não era sedução. Era fúria contida. Preocupação real.
— Quem são "eles"?
Damian se aproximou ainda mais. Agora, a centímetros do rosto dela.
— Homens que fazem o que for preciso para manter segredos enterrados. Eu costumava ser um deles.
A frase caiu como uma bomba.
— E o que te tirou de lá?
Ele hesitou.
— Uma escolha errada. E agora eu estou pagando por ela.
Ela queria perguntar mais, mas sentiu que, se forçasse, ele recuaria. A conexão entre eles era frágil, perigosa como um fio desencapado. E Evelyn, contra toda lógica, queria manter o contato.
— Eu devia ir — disse ela, finalmente.
Ele assentiu com a cabeça, mas não se afastou.
— Cuidado com quem fala. Com onde anda. Com o que posta.
— Você fala como se eu estivesse marcada.
— Porque está.
Ela mordeu o lábio inferior, tentando controlar a respiração.
— E você? Vai continuar me vigiando?
Damian não respondeu de imediato. Quando o fez, foi num tom baixo, quase íntimo:
— Não vou deixar que toquem em você. Nem que você queira.
Evelyn sentiu um frio no estômago. Havia algo naquela frase que parecia mais uma promessa do que uma proteção. Como se ela já tivesse sido escolhida. Como se fugir não fosse uma opção.
Damian tocou o rosto dela, de leve. Apenas um toque com o dorso dos dedos, mas foi suficiente para arrepiar sua pele inteira.
— Até logo, Evelyn.
E então, como surgido das sombras, ele desapareceu por elas.
Ela ficou ali, sozinha entre as paredes úmidas, com a respiração descompassada e o coração disparado. A câmera pendurada em seu pescoço agora parecia um objeto sem sentido. Pela primeira vez em muito tempo, Evelyn não quis registrar nada.
Queria esquecer que havia sentido algo ao ser tocada por um homem que talvez fosse um assassino. Ou algo pior.
Mas não conseguiria.
E ela sabia disso.
***Faça o download do NovelToon para desfrutar de uma experiência de leitura melhor!***
Atualizado até capítulo 30
Comments
Gloria Katia Baffa
Isto deve ser amor primeira vista.
2025-04-16
0
Emilly Nunes
queria ver fotos
2025-04-19
0