capítulo 9

Capítulo 9 – A Isca

O céu estava carregado, como se o mundo respirasse pela metade. Evelyn não saía de casa desde a mensagem anônima. Tinha dormido no sofá, a câmera no colo, os olhos abertos até o corpo apagar sozinho. Quando acordou, o bilhete ainda estava na tela do celular.

Você está na lista agora.

As palavras ecoavam como um feitiço sombrio, impregnando as paredes do apartamento com algo mais denso que o medo: incerteza.

Ela já não sabia mais quem era o inimigo.

Ou pior: se Damian ainda era o mocinho — se é que algum dia foi.

Um leve som metálico no chão interrompeu seus pensamentos.

Uma pequena caixa havia sido deslizada por debaixo da porta.

Evelyn se aproximou devagar, com o coração acelerado. Ajoelhou-se, pegou a caixa e a abriu.

Dentro, um celular novo, um cartão e uma chave.

"Hora de sair da linha de fogo.

Estou te levando para onde ninguém pode te tocar.

D."

Ela olhou para a porta. Depois para a janela. Como se pudesse vê-lo à distância, observando. Sentiu o estômago revirar — de pavor, de desejo, de rendição.

Sabia que, ao aceitar aquele convite silencioso, estaria se entregando completamente.

Mas no fundo... já tinha se entregado há muito tempo.

Horas depois, Evelyn entrava num carro preto estacionado em uma rua discreta. O motorista não falou nada, apenas assentiu e a conduziu até os arredores da cidade, onde as ruas sumiam entre colinas e pinheiros.

Ela chegou a uma casa afastada, cercada por muros altos, câmeras escondidas e silêncio absoluto. A chave funcionou na primeira tentativa.

Ao entrar, não viu Damian.

Mas sentiu ele.

Estava em cada detalhe. Desde os móveis escuros, minimalistas, até o cheiro do ambiente — madeira queimada, couro e algo mais profundo... como perigo domesticado.

Havia uma lareira acesa, uma garrafa de vinho sobre a mesa e um bilhete manuscrito:

"Você é a isca.

Mas agora está sob minha proteção.

Não abra a porta. Não atenda chamadas.

Eu cuido do resto.

— D."

Evelyn sentou no sofá. O coração pesado. Ela sabia o que significava.

Damian estava armando uma armadilha.

E ela... era o centro dela.

Enquanto isso, em uma sala subterrânea escondida em um dos prédios abandonados que um dia abrigou os treinamentos da organização, Damian se preparava.

A arma estava sobre a mesa. Desmontada. Reluzente.

Ele usava luvas pretas, o olhar frio, preciso. Havia três homens com ele — antigos contatos, leais a dinheiro e silêncio.

— Evelyn está segura? — perguntou um deles.

— Está longe o bastante pra atrair atenção, perto o suficiente pra eu reagir rápido.

— E se vierem com tudo?

— Não vão.

— Por quê?

Damian olhou para o homem como se a pergunta fosse idiota.

— Porque eu sou o único que sabe o que eles querem. E agora... eu tenho o que eles precisam.

— A garota?

— Ela viu demais. Ouviu demais. E agora carrega meu nome, minha marca. Eles não vão deixá-la viver. A menos... que eu negocie.

— Vai entregá-la?

A pergunta pairou no ar como uma bomba.

Damian respirou fundo.

— Nunca.

Silêncio. Um dos homens assentiu.

— Então é guerra.

No esconderijo, Evelyn já havia explorado toda a casa. Havia uma sala de vigilância nos fundos — três telas, todas ligadas a câmeras externas.

Ela assistia em tempo real o que acontecia do lado de fora: mato. Estrada vazia. Nada demais.

Até que, no canto da tela, um vulto se moveu.

Ela se levantou de súbito.

Amplificou a imagem.

Um homem. Depois dois. Máscaras. Roupas pretas. Passando pela lateral do muro.

Evelyn correu até o celular fornecido por Damian e tentou ligar. Sem sinal.

A tensão subiu como um incêndio descontrolado.

— Merda, merda...

Voltou para a sala de vigilância. As imagens estavam... congeladas.

Hackeadas.

Ela correu até a porta dos fundos, verificou a tranca. Pegou uma das facas da cozinha e se encostou à parede, os olhos fixos na maçaneta.

O barulho foi quase imperceptível.

Passos.

Ela segurou a respiração.

A porta principal se abriu com um estalo seco.

E então, vozes abafadas.

— Entrem. Vistam tudo. Rápido.

Evelyn correu para o andar de cima, trancou-se no quarto mais afastado e ligou novamente o celular.

Sem sinal.

Ela se encostou à parede, o coração disparado, a faca na mão tremendo. Estava sozinha.

Ou quase.

Porque, segundos depois, o som de tiros ecoou na casa.

Um. Dois. Três.

Gritos abafados.

E depois... silêncio.

Pesado. Mortal.

A maçaneta do quarto girou.

Ela levantou a faca, pronta para lutar. Para matar, se preciso.

Mas quem entrou foi Damian.

Coberto de sangue.

Respirando ofegante.

— Eu disse que cuidaria do resto — ele disse, com os olhos fixos nos dela.

Evelyn não respondeu.

A faca caiu de sua mão.

Ela correu e o abraçou, sem pensar, sem medir.

Só sentiu.

Mais tarde, deitados no chão da sala, com o sangue seco ainda no terno dele e os dedos dela tremendo, Damian falou, com a voz rouca:

— Eles não vão parar, Evelyn. Agora que sabem o quanto você significa... você se tornou meu ponto fraco.

Ela o encarou.

— Então me fortaleça.

Ele sorriu, amargo.

— Isso significa me aceitar por inteiro. Mesmo as partes que não têm redenção.

Ela passou os dedos pelo rosto dele, sujo de pólvora e sangue.

— Eu não quero salvação, Damian.

— E o que você quer?

— Verdade. E você.

— Mesmo que isso custe sua liberdade?

— Já perdi. Desde o momento em que você me olhou naquele beco.

Damian a puxou para si.

Ali, entre os corpos no andar de baixo e o fogo da lareira ainda aceso, nasceu algo novo.

Mais sombrio do que amor.

Mais forte do que medo.

Uma aliança feita de sangue, silêncio e obsessão.

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Comments

Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Ela nesmo querendo saber verdade por ser curiosa. Ela se apaixonou por ele.

2025-04-16

0

Elizabeth Vitoriano

Elizabeth Vitoriano

muito empolgante a história . tô gostando

2025-04-16

0

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