capítulo 18

Capítulo 18 – Quebra

Evelyn não dormia havia três dias.

Nem com Damian ao lado. Nem com a arma na mesa de cabeceira. Nem com a casa trancada, cercada por sensores e câmeras de última geração. O sono era um luxo que ela não podia mais permitir.

Porque Marcus estava à espreita.

E agora, o inimigo não era só ele.

Era a própria mente.

As imagens começaram de forma sutil. Fotos deixadas sob a porta. E-mails com arquivos anexados que desapareciam segundos após a abertura. Um quadro com o rosto de Clara editado, encaixado na mesma moldura que Marcus usava para as mulheres que "colecionava".

Damian tentava manter o controle, reforçava a segurança, rastreava sinais digitais. Mas Marcus era um fantasma com mãos hábeis. E sabia exatamente onde bater.

Em Evelyn.

Naquela manhã, ela encontrou algo novo: uma fotografia deixada dentro da geladeira.

Era dela.

Dormindo.

De lado.

Com o rosto relaxado e o cabelo caído sobre o travesseiro.

Tirada de dentro do quarto.

Ela caiu de joelhos no chão da cozinha. O terror não era mais um grito. Era um sussurro dentro da cabeça, repetindo:

Ele entrou.

Ele esteve aqui.

E você não viu.

Damian a encontrou minutos depois, tremendo, abraçada aos próprios joelhos. Pegou a foto e a esmagou com os dedos.

— Ele quer te quebrar — disse. — E está conseguindo.

— Como ele entrou?

— Não sei ainda. Mas vou descobrir.

— E quando descobrir? Vai matá-lo como todos os outros?

Damian não respondeu de imediato.

— Eu quero matar. Mas quero fazer ele sentir. Como você está sentindo agora.

Evelyn o olhou. Nos olhos. Pela primeira vez, não viu proteção ali.

Viu vingança.

A noite chegou mais fria. A casa toda parecia congelada. Evelyn não queria comer, não queria falar, não queria pensar. Caminhava de um cômodo a outro, como um fantasma no próprio corpo. O espelho já não refletia alguém que ela reconhecia.

Damian a seguiu em silêncio. Ele sabia: havia um limite. E ela estava prestes a cruzá-lo.

— Ele está vencendo — disse ela, sentada no chão da sala. — Eu achei que poderia ser forte. Que poderia resistir. Mas ele está mexendo onde você nunca tocou, Damian.

— Onde?

— Na minha cabeça.

Damian se ajoelhou diante dela.

— Quer fugir?

— E ir pra onde? Você sabe que ele vai me encontrar.

— Então quer lutar?

— Com o quê?

Ele segurou as mãos dela.

— Com o que ainda sobrou.

Ela riu, amarga.

— E o que sobrou de mim?

— O suficiente pra fazer um assassino como eu tremer.

Evelyn abaixou a cabeça.

— Eu me sinto suja. Fraca. Rasa.

— Você é humana.

— Não sou mais.

— Então seja outra coisa. Mas não desmorone aqui. Não pra ele.

Ela não respondeu. Apenas encostou a testa no ombro dele e fechou os olhos.

E chorou.

Chorou como não chorava desde a morte da mãe. Um choro contido, doído, sem grito. Porque gritar era entregar tudo.

E ela ainda queria resistir.

Horas depois, Evelyn foi para o quarto sozinha. Damian ficou na sala, vasculhando o sistema mais uma vez. Procurava falhas. A menor brecha. O menor rastro.

Então a câmera do corredor piscou.

Uma imagem.

Um segundo.

Uma sombra passando.

Dentro da casa.

Damian sacou a arma e correu.

Mas o corredor estava vazio.

Ele abriu o quarto. Evelyn estava deitada, os olhos fixos no teto.

— Está tudo bem?

Ela virou lentamente. O rosto pálido.

— Ele esteve aqui, não foi?

— Eu não vi ninguém.

— Mas sentiu.

— Sim.

Ela fechou os olhos.

— Não aguento mais.

Damian foi até ela. Sentou-se na beira da cama.

— Me diz o que fazer.

— Me tira daqui.

— Ele vai nos seguir.

— Eu sei.

— Então não é uma fuga.

— É uma chance. De respirar. De sair desse campo de guerra que virou o nosso lar.

Ele pensou. Por um momento, o lobo hesitou.

— Conheço um lugar.

— Seguro?

— Ninguém me acha lá. Nem você, se não for comigo.

— Então me leva.

Na madrugada, partiram.

Deixaram tudo para trás: câmeras, registros, rastros. O carro seguiu por estradas de terra, depois por trilhas escondidas. Levaram quase seis horas até chegarem ao destino: uma cabana velha no meio da mata, cercada por árvores, isolada do mundo.

Lá, não havia sinal. Nem internet. Nem câmeras.

Só silêncio.

E o som do vento.

Evelyn entrou primeiro.

— Você já ficou aqui?

— Quando quero sumir de mim mesmo.

— E funciona?

— Às vezes.

Ela se sentou no chão de madeira, cruzou as pernas e encostou as costas na parede.

— Aqui... ele não me alcança?

— Se alcançar, não sai vivo.

Ela assentiu. Depois sussurrou:

— Eu não sou forte como você, Damian.

— Você é mais. Porque ainda sente. E isso é o que ele quer destruir.

— Está conseguindo.

Damian ajoelhou-se diante dela. Tocou seu rosto com cuidado.

— Ele quer te transformar em algo que você não é. Mas eu já vi o que você pode ser.

— E o que é?

— Uma mulher que sobreviveu a mim. E agora vai sobreviver a ele.

Ela fechou os olhos, respirou fundo.

— Me ajuda a lembrar quem eu era.

— Não. Vou te ajudar a escolher quem você quer ser agora.

Evelyn respirou.

Não respondeu.

Mas ali, naquele refúgio escondido, ela percebeu que talvez ainda houvesse algo intacto.

Talvez.

Na mesma noite, Marcus olhava para o mapa da floresta. Seus olhos estavam fixos no ponto marcado com um X vermelho.

Ele sorriu.

— Nem mesmo lobos podem se esconder da fome.

E então, apagou a luz.

E caminhou na direção deles.

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Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Ela virou um troféu para os inimigos dele.

2025-04-16

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