capitulo 11

Capítulo 11 – Vigilância

O apartamento seguro havia se tornado uma espécie de prisão confortável. Evelyn acordava e dormia sob o olhar atento de Damian, sentia o peso de suas escolhas em cada passo. Mas agora, aquilo não era mais um jogo — era guerra. E ela não seria mais apenas protegida.

Seria treinada.

Damian havia prometido mostrar tudo. E estava cumprindo.

Naquela manhã, ela foi acordada não com um beijo, nem com um café. Mas com o som de um coldre sendo jogado sobre a mesa.

— Levanta. Vai aprender a atirar hoje.

Evelyn o encarou, sonolenta, com um meio sorriso.

— Isso é o que você chama de foreplay?

— Isso é o que eu chamo de sobrevivência — respondeu ele, sério.

Ela se levantou sem reclamar. Estava pronta. Ou, pelo menos, tentava acreditar que estava.

---

O galpão abandonado ficava no fim de uma estrada de terra, cercado por mato alto. Lá dentro, uma linha de alvos, sacos de areia e câmeras de vigilância instaladas em cada canto.

Damian mostrou a pistola.

— Glock 17. Leve. Silenciosa. Precisa. É a que você vai usar.

Ela a pegou com cuidado. Era mais fria do que imaginava. Mais pesada também.

— Você quer que eu mate alguém com isso?

— Não. Quero que você saiba como se defender. Se precisar matar, vai ser porque decidiu fazer isso. Não porque foi forçada.

Ela assentiu. Ele se aproximou pelas costas e guiou suas mãos. Posição, respiração, foco. Cada movimento calculado.

— Puxa a mira. Respira fundo. Não atira ainda. Pensa no que está fazendo.

Evelyn mordeu o lábio inferior.

— Você sentiu culpa na primeira vez?

Damian não respondeu de imediato.

— Não.

Ela atirou.

O tiro ecoou pelo galpão.

Acertou o alvo, um pouco à esquerda do centro.

Damian sorriu de leve.

— Está melhor do que muito homem que eu treinei.

— Eu aprendo rápido.

— Eu sei.

---

Após duas horas, as mãos dela estavam firmes. O medo, menor. Mas a tensão entre os dois só aumentava.

No carro, a caminho de casa, Damian finalmente quebrou o silêncio.

— Alguém novo está observando a gente.

— Como assim?

— Meus rastreadores detectaram movimento no perímetro da casa. Não são da organização. Mas são profissionais.

— Outro grupo?

— Ou alguém de dentro que está jogando dos dois lados.

Ela cruzou os braços.

— Você já passou por isso antes?

— Uma vez. Em Londres. Um antigo colega da organização tentou me entregar para uma agência internacional. Quase conseguiu.

— O que você fez?

— Matei ele no meio de uma reunião da ONU. Ninguém nunca descobriu.

Evelyn riu, nervosa.

— Isso foi uma piada?

— Não.

Silêncio.

---

Naquela noite, Damian passou horas diante das telas da sala de vigilância. Evelyn, do andar de cima, observava. Estava se acostumando com a forma como ele se movia, como pensava. E, estranhamente, com o conforto de tê-lo sempre ali.

Mas então viu algo estranho.

Um ponto vermelho, piscando no canto da tela. Um dos sensores do muro lateral da casa.

Ela desceu às pressas.

— Damian. Alguém está ali.

Ele já havia visto. Estava de pé, com a arma na mão, olhos fixos na imagem.

— Eu conheço esse padrão. É código da organização, mas antigo. Alguém agiu por conta própria.

— Você vai lá fora?

— Vou atrair. Você fica aqui.

— Sozinha?

— Com isso — disse ele, entregando-lhe a Glock. — Se algo acontecer, mira no peito. Duas vezes. Depois corre.

Ela assentiu.

Damian saiu.

Evelyn ficou diante das telas, com o coração disparado.

Minutos depois, uma das câmeras falhou. Tela preta.

— Droga…

A segunda apagou logo em seguida.

Então a terceira.

O som do vidro quebrando foi baixo, mas suficiente.

Ela virou com a arma em mãos.

Um vulto escuro passou pela sala, rápido.

Ela apontou. Respirou.

Mas não atirou.

A voz veio logo atrás dela.

— Está lenta. Mas tem potencial.

Ela virou num salto. Um homem alto, magro, de cabelo grisalho e olhos escuros a observava.

— Quem é você?

— Me chamam de Levi. E você... é a mulher que o Damian não consegue matar.

— Sai daqui. Agora.

— Ele não contou tudo, né? Claro que não.

— Sai.

— Ele não te disse quem foi o primeiro alvo dele de verdade. Nem o que aconteceu com ela. E nem por que te escolheu.

Evelyn apertou a arma com mais força.

— Eu vou atirar.

Levi deu um passo para trás.

— Ele está te usando, Evelyn. Como usou todas as outras.

— Mentira.

— Ele te observou por mais de um ano antes de se aproximar. Te manipulou. Criou o cenário perfeito. Você acha mesmo que foi coincidência aquele corpo no beco? Que ele estava lá por acaso?

Ela hesitou.

— Ele nunca mente pra mim.

— Não. Ele omite. Que é pior.

O som de um disparo cortou o ar.

Levi caiu no chão, grunhindo de dor, com a perna ensanguentada.

Damian surgiu atrás dele, a arma ainda quente.

— Eu disse pra você não chegar perto dela.

Levi riu, mesmo ferido.

— Ela vai descobrir. Vai ver quem você é de verdade.

— Já viu o suficiente.

— Não… ainda não.

Damian atirou de novo. Silenciador. Preciso. Frio.

Levi parou de falar.

Evelyn estava paralisada.

Ele a olhou. Com o mesmo olhar de sempre — o mesmo que ela não conseguia decifrar.

— Está tudo bem — disse ele, guardando a arma. — Era só mais um fantasma do meu passado.

Mas Evelyn sabia.

Algo dentro dela tinha se quebrado com aquelas palavras de Levi.

E, pela primeira vez… ela não tinha certeza se queria consertar.

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Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Ele um homem cheio de mistérios e um passado sóbrio. Ela uma mulher curiosa e apaixonada.

2025-04-16

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