Capítulo 5 – O Convite
Era como um zumbido constante em sua cabeça — o nome dele, o toque dele, o olhar intenso que parecia atravessar a pele e alcançar lugares que Evelyn preferia manter enterrados. Por mais que tentasse se concentrar no trabalho, nas fotos ou até mesmo nas conversas banais com Clara, sua melhor amiga, tudo voltava para ele.
Damian.
Ele era um vírus silencioso. Não do tipo que a fazia definhar, mas daquele que se espalhava sutilmente, tomando tudo sem que ela percebesse. Evelyn odiava isso. Odiava a si mesma por pensar nele. Por lembrar do que sentiu quando ele a tocou. Por sonhar com aquilo que sabia ser perigoso.
Estava sentada no sofá, editando algumas imagens em seu notebook, quando o interfone tocou.
— Oi? — atendeu, desconfiada.
— Entrega para Evelyn Ferreira.
Ela franziu o cenho. Não havia pedido nada. Desceu com cautela.
Na portaria, um homem de terno entregou a ela um envelope preto. Nada escrito do lado de fora. Apenas um selo dourado com um símbolo que ela não reconheceu — uma serpente envolta em uma rosa.
— Quem mandou isso?
— Instruções para entregar à senhorita, mais nada — disse o homem, voltando para o carro escuro que desapareceu na esquina.
Evelyn subiu com o envelope. Sentou-se à mesa e, após alguns segundos de hesitação, o abriu.
Dentro, havia um convite.
> "Sexta-feira. 21h. Cobertura, Torre Verona.
Vestido formal. A noite será sua.
D."
Junto do cartão, um ingresso com código QR e... um colar. Uma corrente fina de prata com um pingente em forma de lâmina. Pequenina. Discreta. Mas simbólica.
Ela ficou olhando para aquilo por longos minutos. Sabia o que significava: ele a estava testando. Um convite formal… para algo que não parecia ter nada de comum.
Clara arregalou os olhos quando viu o vestido preto que Evelyn escolheu.
— Tá indo pra um velório da máfia ou pra seduzir o próprio diabo?
Evelyn soltou uma risada nervosa.
— Talvez os dois.
— Evelyn, quem é esse cara? Você não fala dele direito. Só diz que é "complicado". E agora tá se metendo num encontro num prédio de elite, à noite? Sério mesmo?
Evelyn terminou de passar o batom escuro no espelho e se virou.
— Eu preciso entender quem ele é. E ele quer que eu entenda. É um jogo, Clara. E eu tô dentro.
Clara a olhou com preocupação, mas sabia que não adiantava insistir. Evelyn era teimosa. Quando algo despertava sua curiosidade, ela ia até o fim — mesmo que isso significasse cair de um penhasco.
A Torre Verona era um dos edifícios mais luxuosos da cidade, com uma fachada envidraçada e porteiros que mais pareciam agentes secretos. Evelyn subiu direto para o último andar.
Ao chegar, a porta se abriu sozinha.
A cobertura era escura, iluminada apenas por velas e luzes indiretas. Ao fundo, uma música clássica tocava em volume baixo. O cheiro no ar era uma mistura de madeira, vinho e perigo.
E então, ele apareceu.
Damian estava encostado à beira do bar, terno cinza-escuro, camisa preta, sem gravata. Quando a viu, sorriu. Mas aquele sorriso era diferente. Menos predador. Mais… reverente.
— Você veio.
— Achei que devia ver até onde sua loucura vai.
Ele caminhou em direção a ela, pegando uma taça de vinho no caminho.
— Vai muito mais longe do que você imagina.
Ela aceitou a bebida, mas manteve a expressão dura.
— Isso aqui é o quê? Uma armadilha? Um espetáculo? Um teste?
— Um convite — ele respondeu, se aproximando mais. — Para conhecer o que está por trás da cortina. Sem máscaras. Sem meias palavras.
— E o que tem atrás da cortina, Damian?
Ele a conduziu até a varanda. A vista era absurda. A cidade inteira parecia pequena dali de cima.
— Poder — disse ele. — E dor. Cicatrizes que ninguém vê. Mas também… beleza. Controle. Liberdade. Eu construí tudo isso do nada. E agora… quero dividir.
Ela o olhou, cética.
— Comigo?
— Só com você.
— Por quê?
Damian suspirou. Encostou-se na grade e olhou para a cidade, pensativo.
— Porque você não tem medo da escuridão. Você a fotografa. Você a transforma em arte. E porque, desde que eu te vi, não consigo pensar em mais nada. É obsessivo, eu sei. Mas é real.
Evelyn sentiu o estômago revirar. Havia sinceridade ali. Crua. Intensa. Doente, talvez. Mas verdadeira.
— E se eu disser que não quero isso? Que quero ir embora?
Ele a encarou. Os olhos mais escuros do que nunca.
— Eu deixo você ir. Mas vou continuar te observando. Protegendo. Porque não tem mais volta. Você entrou na minha vida como uma lâmina, Evelyn. Cortou tudo. Agora não tem mais cura.
Ela se aproximou. Estava tensa, mas atraída por ele de um jeito que nem conseguia explicar. Os dedos se tocaram. O silêncio gritou entre eles.
— E o que acontece se eu decidir ficar?
Damian sorriu. Um sorriso torto, perigoso.
— A noite é sua. O resto... é nosso.
Horas depois, Evelyn saiu da cobertura com o colar no pescoço, os cabelos bagunçados e o coração acelerado. Nada havia acontecido — ainda. Mas algo estava mudado. O clima entre eles era uma promessa feita com os olhos.
Ela sabia que cruzou uma linha. E que, dali em diante, não haveria mais retorno.
Damian ficou na sacada, observando enquanto ela desaparecia na rua. Seus dedos tocavam a taça vazia, mas a mente já arquitetava o próximo passo.
Porque agora, ela estava dentro.
E o jogo estava apenas começando.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Gloria Katia Baffa
Ele se apaixonou por ela
2025-04-16
0
~Djuh_nunesz
fiquei com medo
2025-04-16
0