Capítulo 6 – Advertência
O dia seguinte amanheceu cinzento, abafado, como se o céu estivesse engolindo seus próprios segredos. Evelyn acordou com a sensação de que algo tinha mudado — não ao redor, mas dentro dela. A noite anterior permanecia nítida em sua mente: o convite, as palavras de Damian, aquele olhar que queimava sem precisar tocar.
Ela estava inquieta. Não sabia se era medo... ou desejo de mais.
Colocou um casaco leve, prendeu o cabelo em um coque bagunçado e saiu. Caminhar era a única coisa que conseguia fazer quando os pensamentos se tornavam demais para suportar. Escolheu um caminho aleatório, descendo pelas ruas do centro antigo, onde os prédios pareciam sussurrar histórias esquecidas.
Parou em frente a uma banca de jornais fechada, tirou a câmera da mochila e começou a fotografar os detalhes do lugar: cartazes antigos, pichações, rachaduras nas paredes.
Foi quando ouviu:
— Ele vai destruir você.
A voz era grave, rouca, masculina. Não vinha de um ponto específico — parecia brotar da própria sombra.
Evelyn se virou bruscamente. Um homem de terno escuro, barba por fazer, óculos escuros mesmo sob o céu nublado. Estava encostado a poucos metros dali, com uma expressão neutra demais para ser casual.
— Desculpa, você falou comigo?
— Falei, sim — respondeu o homem, dando um passo à frente. — E vou repetir, caso não tenha entendido. Se continuar com Damian Costa, você vai acabar como as outras.
O sangue de Evelyn gelou.
— Quem é você?
— Alguém que conheceu o inferno e saiu andando. Alguém que já trabalhou para ele... e sobreviveu por pouco.
Ela não respondeu. O homem continuou:
— Você acha que ele está te protegendo? Acha que tudo isso é sobre carinho, obsessão romântica? Não é. Damian Costa é um assassino, Evelyn. Um manipulador. Ele quebra pessoas. E guarda os pedaços como troféu.
Evelyn apertou a câmera contra o corpo. Tentava manter a compostura, mas o coração batia forte. Tinha que perguntar:
— Por que está me dizendo isso?
— Porque você ainda tem chance de sair. As outras... não tiveram.
— Que outras?
O homem hesitou por um instante. E então tirou um envelope do bolso do paletó.
— Leia isso. Pesquise os nomes. E depois veja se ainda quer olhar nos olhos dele.
Ela pegou o envelope com mãos trêmulas. Quando olhou de novo, o homem já estava se afastando pela rua, sumindo entre carros e pedestres como se nunca tivesse estado ali.
De volta ao apartamento, Evelyn abriu o envelope. Dentro, recortes de jornais antigos, nomes grifados em vermelho, fotos de mulheres desaparecidas. Todas jovens. Todas com algo em comum: envolvimento com homens ricos e discretos. Nenhuma investigação concluída.
Uma delas, Isabela Duarte, aparecia em duas fotos com... Damian. Uma delas no mesmo café onde Evelyn costumava ir.
A data da matéria: dois anos atrás.
A reportagem dizia que Isabela desapareceu semanas após começar a se relacionar com um "empresário reservado", cujo nome nunca foi oficialmente divulgado.
Mas Evelyn reconhecia aquele rosto. O mesmo sorriso frio. O mesmo olhar escuro.
Ela fechou os olhos. O coração em descompasso.
— Quem é você de verdade, Damian?
Enquanto isso, Damian estava em seu escritório, revisando relatórios de segurança e atualizações de movimentações financeiras. Seu telefone vibrou. Uma notificação de alerta.
"Movimento hostil: Interferência externa detectada – Zona leste. Evelyn em contato visual com agente de risco (Lucas D.)."
Ele largou tudo.
Lucas Dantas. Ex-aliado. Ex-homem de confiança. Exilado por trair seu nome e passar informações a inimigos. Agora, rondando Evelyn.
Damian olhou para o monitor. Viu a imagem da câmera da rua onde ela estivera. Viu Lucas se aproximando. Viu ela recebendo o envelope.
A raiva cresceu por dentro como um veneno.
— Filho da puta... — murmurou.
Ele pegou o celular e fez uma ligação.
— Localizei o traidor. Quero ele. Hoje. Vazio. Sem digitais. Sem vestígios.
— Entendido, senhor — respondeu a voz do outro lado da linha.
Damian desligou, se recostou na cadeira e respirou fundo.
Ele sabia que Evelyn estava começando a duvidar. Era inevitável. Mas também fazia parte do jogo. Cada passo calculado. Cada ameaça, prevista.
O importante agora... era manter o controle.
Evelyn não dormiu naquela noite. Leu cada reportagem, cada linha dos arquivos. Procurou mais informações na internet, em fóruns obscuros, em arquivos da polícia que não estavam disponíveis para o público.
Nada era conclusivo. Nenhuma acusação formal. Nenhuma prova direta.
Damian era um fantasma com CPF.
Mas o que mais a perturbou... foi que, apesar de tudo, ainda o queria.
Na madrugada, pegou a câmera. Começou a ver as fotos mais antigas. Encontrou uma, tirada há mais de um mês, em uma rua movimentada. Um reflexo na vitrine. O reflexo dele.
Ele a observava desde antes do primeiro encontro.
— Sempre esteve lá...
Evelyn encostou-se na parede e deslizou até o chão, abraçando os joelhos.
Estava presa. E no fundo, talvez já tivesse se entregado.
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Na manhã seguinte, o corpo de Lucas Dantas foi encontrado dentro do porta-malas de um carro abandonado.
Sem digitais. Sem sangue. Sem pistas.
Mas com um bilhete preso à camisa:
|> "Ela é minha.
|D."
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Gloria Katia Baffa
Ele um criminoso profissional
2025-04-16
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