Capítulo 12 – Mentiras
O sangue de Levi ainda manchava o chão da sala. Damian havia limpado o corpo, apagado os registros, removido as imagens das câmeras. Ele agia com a precisão de sempre, como se aquilo fosse rotina. Como se matar alguém fosse apenas mais uma tarefa do dia.
Evelyn observava tudo em silêncio, encostada na parede, os braços cruzados e a mente em guerra.
As palavras de Levi não saíam da cabeça dela.
"O corpo no beco... você acha que foi coincidência?"
Damian sempre parecera invencível. Inabalável. Mas agora ela via rachaduras. Pequenas, mas reais. E o pior: elas estavam dentro dela também.
— Ele era do seu passado — disse Evelyn, finalmente, quando Damian terminou de limpar a última gota de sangue.
— Era um traidor. Tentou vender informações sobre mim para a CIA há anos. Eu deixei ele vivo tempo demais.
— Ele falou sobre mim.
Damian a olhou.
— Ele tentou te confundir. Isso é o que eles fazem. Plantam dúvidas. Fazem você questionar tudo até destruir o que tem de mais precioso.
— E o que é mais precioso pra você?
Ele se aproximou. Lento. Olhar fixo no dela.
— Você.
Evelyn quis acreditar. Queria com toda a força. Mas algo estava fora do lugar. Como se ele escolhesse cada palavra com cuidado demais.
— Ele disse que você me escolheu. Que me observava muito antes do primeiro encontro. Que o corpo no beco... foi uma encenação.
Damian ficou em silêncio por um longo momento.
Longo demais.
Evelyn deu um passo para trás.
— Me diz que é mentira.
— Não foi encenação.
— Então o quê?
— Foi um risco calculado. Um... empurrão.
— Um empurrão?
— Evelyn, eu te observava há meses. Sabia que você era diferente. Forte. Curiosa. E vi a chance perfeita de te colocar no meu mundo de forma controlada. Um corpo, uma coincidência, uma aproximação.
— Você me manipulou.
— Eu criei o cenário. Mas tudo o que senti desde então... é real.
Ela balançou a cabeça, rindo de nervoso.
— E se eu não tivesse ido aquele dia? Se eu não tivesse fotografado?
— Você teria ido em outro. Eu teria feito de outro jeito.
— Você não entende, Damian! Isso... isso não é amor! Isso é doença!
Ele avançou, os olhos escurecendo.
— Eu nunca disse que era saudável. Mas é tudo o que eu sei. Eu não sei amar como as outras pessoas. Eu sei proteger. Cuidar. Manter perto... custe o que custar.
Ela sentiu um calafrio.
— Então eu sou sua posse?
— Não. Você é meu motivo.
— Isso não é melhor.
O silêncio caiu pesado entre eles. Damian olhava para ela como se fosse perder o chão. Evelyn sentia o coração acelerar, não de paixão, mas de decepção. A linha entre amor e obsessão estava tão borrada que ela já não sabia onde pisava.
— Eu confiei em você — disse ela, por fim. — E você me usou.
— Eu te salvei.
— E te deixei entrar.
— Você quis entrar.
— Mas não sabia que a casa era feita de armadilhas.
Damian se aproximou de novo. Dessa vez, sem pressa, sem palavras.
— Me odeie, se precisar. Mas não fuja.
— Por quê?
— Porque agora... não é só você que está presa a mim.
Ela não respondeu.
Porque sabia.
Sabia que ele tinha razão.
Na madrugada, Evelyn vasculhou sozinha o andar de baixo da casa. Procurava alguma coisa que ele não havia contado. Algum arquivo, registro, pista.
Encontrou uma caixa trancada atrás de uma parede falsa, no fundo do armário do quarto de hóspedes.
Forçou a fechadura com um grampo de cabelo. Trêmula, mas determinada.
Dentro da caixa: cartas. Antigas. Algumas com o nome “Isabela Duarte” no remetente. Evelyn sentiu o estômago afundar. Reconheceu o nome. Uma das mulheres desaparecidas do dossiê.
Leu uma das cartas.
“Você disse que me amava. Que me protegeria. Mas eu não consigo mais respirar aqui. As câmeras, os homens vigiando a porta, o silêncio. Eu sinto que estou morrendo e você ainda sorri. Isso não é amor, Damian. Isso é prisão.”
As mãos dela tremiam. Continuou lendo.
“Se eu desaparecer, sei que ninguém vai acreditar. Porque você é perfeito por fora. Mas por dentro… você é um labirinto sem saída.”
Evelyn deixou a carta cair.
Tinha sido ele.
Talvez não com as mãos.
Mas ele foi o cárcere.
O catalisador.
E agora, fazia o mesmo com ela.
Damian a encontrou horas depois, sentada no chão, a carta em mãos.
Ele ficou em silêncio por um instante. Depois se aproximou, sem disfarçar a culpa no olhar.
— Você a amou?
— Achei que sim.
— E o que fez com ela?
— Tentei protegê-la. Como estou tentando com você.
— Ela fugiu?
— Ela se matou.
O silêncio foi uma explosão.
Evelyn não conseguiu conter o choro. Não de tristeza. Mas de frustração. De raiva. De medo de si mesma por estar envolvida com alguém capaz de provocar esse tipo de dor.
— Você destrói tudo que toca.
— Só quando tento salvar.
Ela levantou devagar. Encarou-o com os olhos úmidos e a alma em chamas.
— E o que me faz pensar que vai ser diferente comigo?
Damian tocou o próprio peito.
— Porque você me destruiu primeiro.
Evelyn ficou em silêncio. Queria odiá-lo. Queria cuspir na cara dele, fugir, desaparecer. Mas seu corpo... ainda era dele. Sua mente... ainda era uma extensão da dele. Estava perdida demais para recuar. E envolvida demais para continuar.
— Me dá espaço. Agora — disse ela.
Damian hesitou.
Mas obedeceu.
Sozinha no quarto, Evelyn encarou o espelho.
A mulher do reflexo não era mais a mesma. Os olhos estavam mais escuros. A expressão, endurecida. Mas ali, no fundo do peito, ainda existia algo: uma fagulha.
Ela não sabia se era amor ou destruição.
Mas sabia que ia até o fim.
Mesmo que custasse sua sanidade.
Ou sua vida.
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Atualizado até capítulo 30
Comments
Gloria Katia Baffa
Ela se apaixonou por ele já sabendo quem ele era Agora descobriu uma prova de uma vítima dele. Ela tem escolhas. O amor vai falar alto.
2025-04-16
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Guiomar Morais
Estou confusa. Não sei se devo continuar meio indecisa
2025-04-15
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