Capítulo 17

Capítulo 17 – O Colecionador

O céu estava sujo. Cinza como fumaça de pólvora. Evelyn acordou com a garganta seca e a mente pesada. A noite anterior se repetia como um filme quebrado na sua cabeça: a pasta com seu nome, os relatórios, o olhar de Damian tentando pedir perdão sem palavras.

Ela não falara com ele desde então.

Não conseguia.

Evelyn já havia sido alvo de obsessão antes. Mas não assim. Não com cálculos, gráficos, estratégias. Ser amada por Damian era como ser caçada por um anjo caído — belo demais para ser real, perigoso demais para ser confiável.

E mesmo assim... ela não conseguia ir embora.

Talvez fosse o que a destruía. Talvez fosse o que a mantinha viva.

Em outro canto da cidade, uma figura observava um painel de monitores. A sala estava às escuras, exceto pelas luzes azuis das telas que mostravam imagens ao vivo da casa de Damian. Vários ângulos. Várias câmeras.

Um par de olhos verdes acompanhava cada passo de Evelyn com atenção doentia.

— Ela é perfeita — disse o homem, sorrindo para si mesmo.

Era alto, de postura elegante, e usava luvas pretas. No queixo, uma cicatriz mal costurada. Um troféu antigo.

— A diferença entre o Damian e eu — ele murmurou, enquanto ajustava o foco da câmera — é que ele coleciona sentimentos. Eu coleciono obras.

Na parede atrás dele, fotos de mulheres emolduradas como arte. Todas pareciam sorrir.

Todas estavam mortas.

— Evelyn será minha obra-prima.

No galpão, Damian revia as gravações do sistema de segurança. Não havia dormido. Desde a noite anterior, Evelyn mal dirigira a palavra a ele. E agora, além do abismo emocional, ele sentia outra coisa.

Um incômodo. Uma presença.

Alguém os observava.

Ele ampliou uma das imagens noturnas do lado de fora da propriedade. Havia reflexos fora do campo da cerca, movimentos muito bem calculados. A maioria dos sistemas não captaria.

Mas Damian não era a maioria.

Pausou em um frame.

Ali estava.

Um vulto. Alto. Máscara preta. A mesma assinatura.

O sangue de Damian gelou.

— Não pode ser...

Digitou um nome na tela: MARCUS VALENTIM.

Ex-agente da organização. Ex-rival. E agora, oficialmente morto há dois anos.

Mas Damian sabia: Marcus nunca morria.

Ele apenas esperava.

Evelyn estava na sala de vigilância, revendo imagens por conta própria, quando Damian entrou. Ela não o olhou.

— Você escondeu o que sabia sobre mim — disse ela, sem rodeios. — Você fez de mim um projeto. Uma cobaia.

— Eu fiz de mim um idiota — respondeu Damian. — Achei que conseguiria te manter perto sem te contaminar com a minha escuridão.

— Conseguiu. Mas agora sou parte dela.

— E mesmo assim você ainda está aqui.

Ela virou-se, encarando-o.

— Porque se eu for embora, morro. E se ficar, talvez vire você.

Damian se aproximou. Seu rosto estava tenso.

— Tem alguém nos observando. E não é da organização. É pior.

Evelyn franziu o cenho.

— Pior como?

— Marcus Valentim. Chamavam ele de Colecionador. Ele se infiltrava, seduzia, manipulava... e quando conseguia o que queria, matava. Mas não simplesmente. Ele eternizava. Como arte.

— Ele foi da sua equipe?

— Nunca da minha equipe. Rival. Competidor. Uma vez... ele tentou roubar minha missão. Acabou levando um tiro no rosto. Achei que tivesse morrido.

— E agora ele quer…?

— Você. Porque agora você é minha fraqueza. E tudo que é minha fraqueza... vira desejo dele.

Evelyn engoliu em seco.

— Como ele nos encontrou?

— Talvez porque eu estive distraído com você. Talvez porque você brilhe demais, até na escuridão.

Ela não soube o que dizer. O medo era real. Mas não era o de morrer. Era o de ser reduzida. Virar parte de um troféu. Um rosto em uma parede.

— Ele já fez isso antes?

— Várias vezes. Quatorze mulheres. Todas encontradas mortas. Mas limpas. Vestidas. Fotografadas. Como bonecas.

— Você tentou impedi-lo?

— Matei ele uma vez. Ou achei que matei.

Damian abriu uma gaveta, tirou uma arma e a entregou para Evelyn.

— Você vai andar com isso agora. Dormir com isso.

— Isso não vai me salvar, Damian.

— Mas pode atrasar a morte.

Na madrugada, Evelyn foi até o terraço da casa. Precisava respirar. Sentir que o mundo ainda existia além das paredes que a cercavam. Mas mesmo ali, sentia olhos sobre si.

De repente, um flash.

Um clarão vindo das árvores, como o disparo de uma câmera.

Ela congelou.

Desceu correndo.

— Damian! Ele tá aqui!

Damian já estava com o sistema ativado. As telas mostravam sombras se movendo ao redor do terreno.

— Ele quer te provocar — disse ele. — Mostrar que está perto.

— Então vamos sair daqui. Vamos nos esconder.

Damian negou com a cabeça.

— Não. Vamos fazer ele vir até nós. Só que nos nossos termos.

— Você quer usar a mim como isca?

— Não. Você já é a isca.

Evelyn fechou os olhos. Sabia que era verdade.

Marcus estava jogando.

E agora, ela era a peça central do tabuleiro.

Horas depois, no esconderijo, Marcus analisava as imagens de Evelyn no terraço. Tinha capturado cada expressão, cada ângulo. Ampliava os olhos dela, os lábios, o perfil.

— Tão perfeita. E ainda não moldada — disse, como se falasse com uma obra de arte.

Ao fundo, uma parede com quadros de fotos em preto e branco. Todas vítimas anteriores. Mas um espaço vazio, reservado no centro, esperava.

Marcus colou uma foto recente de Evelyn ali.

— A moldura final.

E abaixo dela, escreveu:

"Evelyn. A que fez o lobo tremer."

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Comments

Gloria Katia Baffa

Gloria Katia Baffa

Ela se tornou um troféu para os inimigos dele para destruí ele

2025-04-16

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