Capítulo 19

O discurso de Lorenzo ainda ecoava nos ouvidos de todos quando ele desligou o microfone e desceu do palco ao meu lado. Os aplausos foram se dissolvendo lentamente, substituídos por olhares, sussurros e muita tensão

A cada passo que dávamos pelo salão, as pessoas se afastavam com respeito — ou talvez com medo. Era difícil saber a diferença quando o assunto era Lorenzo Morette.

Algumas mulheres me olharam com admiração. Outras, com inveja escancarada. Homens que antes mal me notavam, agora se curvaram com sorrisos forçados. Eu estava marcada. Não mais pelo vinho, não mais pela humilhação — mas pela posição. Pela força. Pelo nome que agora carregava.

Lorenzo me puxou levemente pela cintura e sussurrou:

— Vamos sair agora. Já demos o recado necessário.

Assenti com um leve sorriso. Eu não precisava dizer nada. Meu silêncio era mais poderoso do que qualquer resposta.

Antes de chegarmos à saída, meus olhos, inevitavelmente, se voltaram à mesa deles.

E o que vi me deu um prazer que nem sei descrever.

Ivan estava branco como uma folha. As mãos entrelaçadas, os olhos baixos, como se estivesse tentando prever até onde Lorenzo sabia… e o que viria depois.

Margareth ainda tentava secar, inutilmente, a mancha escura em seu vestido creme, que agora parecia uma piada perto do que vestia. Ela mordia o lábio com raiva, mas o orgulho a impedia de levantar da cadeira.

Eunice, inquieta, olhava em todas as direções, como se quisesse desaparecer dali. Seu mundo, feito de aparências e arrogância, havia acabado de desmoronar diante dos olhos de todos.

E Cibele... bem, Cibele parecia mastigar cacos de vidro. Seu olhar me atravessava, e por um segundo, ela pareceu querer se levantar e me enfrentar. Mas o toque firme de Hugo no braço dela a impediu.

Foi ele quem disse, em voz baixa, mas firme o suficiente para ser ouvido por todos à mesa:

— Parabéns. Vocês conseguiram. Humilharam uma mulher que nunca fez nada contra nós... e agora atraíram a fúria do único homem que ninguém, absolutamente ninguém, tem coragem de enfrentar.

Silêncio.

— Se Lorenzo estava apenas investigando o papai… agora ele tem motivo pessoal. E isso, mãe… — ele olhou diretamente para Margareth — isso é muito mais perigoso.

— Eu acho que pegamos pesado mesmo com essa mulher, mais ela é muito arrogante,.— Disse Margareth.

— Arrogantes sempre foram vocês, Eunice e você mamãe, pelo que eu sempre pude ver, Lorena nunca as atacou, sempre foram vocês duas, a começar com intrigas, e as humilhações contra ela.

Lorenzo e eu cruzamos a porta do salão e fomos recebidos por seguranças do hotel. Um carro nos aguardava à frente. Ao entrar, respirei fundo pela primeira vez naquela noite.

Ele entrelaçou os dedos nos meus e me olhou com um meio sorriso.

— Acha que fui longe demais?

Virei o rosto para ele, com um sorriso calmo e cheio de significado.

— Não. Você foi exatamente até onde precisava ir.

E enquanto o carro acelerava pelas ruas iluminadas da cidade, só uma coisa martelava na minha mente:

A guerra havia começado.

Mas dessa vez… eu não estava mais sozinha.

Eu já estava no carro com Lorenzo, observando pela janela os flashes ainda piscando na entrada do evento, quando vi o movimento sutil — e covarde — da família Xavier.

Disfarçadamente, quase rastejando, Ivan, Margareth, Eunice, Cibele e até Hugo tentavam sair pelos fundos do salão. Não adiantava. Muitos já tinham visto, muitos sabiam. A mancha de vinho no vestido creme de Margareth agora era um grito escancarado de culpa.

Tentavam manter a postura, mas era nítido o constrangimento em seus rostos. Eles haviam perdido. E o pior: perderam feio, em público, diante das pessoas que mais prezavam pela aparência e pelo prestígio.

Ivan caminhava rígido, como se um peso enorme tivesse sido jogado sobre seus ombros. Ele sabia. Sabia que, naquele instante, estava deixando de ser visto como um líder influente para se tornar um homem marcado. Um nome riscado da lista de Lorenzo Morette.

E quem conhece Lorenzo, sabe: ser riscado por ele é o mesmo que ser enterrado vivo no mundo dos negócios.

Margareth tentava disfarçar a mancha enorme no vestido com uma echarpe, mas era inútil. Os olhares a seguiam como flechas venenosas. Ela, que sempre fez questão de parecer superior, agora era só mais uma sombra tentando escapar do próprio erro.

Eunice, ao lado dela, mantinha os olhos fixos no chão, sem conseguir sustentar o olhar de ninguém. Até Cibele, normalmente arrogante, parecia abatida. Só Hugo caminhava com dignidade — talvez por saber, mais do que qualquer um ali, que o estrago era irreversível.

No salão, os comentários não cessavam.

— Você viu o que ela fez com a esposa do Lorenzo Morette?

— Margareth perdeu a cabeça… como ousou humilhar alguém assim?

— Ivan Xavier nunca mais vai levantar a voz num congresso desse porte. Está acabado.

— Essa família Xavier, sempre foram assim, arrogantes, agora acharam o deles, encheram com a pessoa errada, vão ter que enfrentar a ira de Lorenzo Morette.

— Sim, acabou para eles.

E de fato, estava.

Ivan, mesmo que ainda tivesse uma palestra programada, não tinha mais espaço ali. Mesmo que tentasse, ninguém mais o ouviria com atenção — nem com respeito. E pior: muitos dos empresários presentes agora evitariam qualquer associação com ele.

Quem Lorenzo odeia… paga caro. E todos sabiam disso.

Ele não precisava gritar, nem ameaçar. Bastava um gesto, uma frase dita com calma, para destruir uma reputação inteira.

Ivan havia sido riscado. E a partir dali, cada passo que desse nos negócios seria vigiado, questionado… ou ignorado.

No banco ao meu lado, Lorenzo digitava algo no celular, tranquilo, seguro, como quem move as peças de um tabuleiro.

— O que está fazendo? — perguntei, curiosa.

Ele me lançou um olhar calmo, quase divertido.

— Apenas confirmando para alguns parceiros que Ivan Xavier… não é mais confiável.

Simples assim.

Assenti. E naquele instante, compreendi o verdadeiro poder de Lorenzo. Não era só o nome. Era a influência. A palavra dele valia mais que contratos. Mais que acordos. Ele podia construir impérios — e derrubá-los com a mesma facilidade.

E agora… ele estava ao meu lado.

E eu sabia: quem um dia tentou me destruir… estava prestes a conhecer o verdadeiro significado de destruição.

E a minha satisfação em ver a família Xavier e Albuquerque caírem, era por pensar que eles também pudessem ter arrancado de mim o prazer de ter crescido em uma família. Talvez fossem eles que me negaram o direito de ter conhecido meus pais.

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