Capítulo 2

Sentados à beira da piscina do hotel, o céu acima de nós já escurecia lentamente. As luzes ao redor começavam a acender, refletindo na água e desenhando formas douradas que dançavam ao sabor do vento. Havia um silêncio confortável entre mim e Hugo, como se nenhum dos dois quisesse quebrar a magia daquele instante.

Eu me surpreendia com o quanto me sentia à vontade ao lado dele. Poucas pessoas conseguiam me alcançar — menos ainda me fazer abaixar a guarda. Mas Hugo... ele era diferente. O tipo de homem que não invadia, apenas se aproximava devagar, deixando rastros de ternura e curiosidade.

— Já falei tanto de mim — murmurei, ainda olhando para a água —, mas você pouco me contou sobre sua vida.

Ele sorriu, apoiando os braços atrás do corpo.

— Talvez eu esteja esperando o momento certo pra você descobrir que sou bem menos interessante do que parece.

Virei o rosto para ele, estreitando os olhos.

— Eu duvido muito disso.

Ele me encarou por alguns segundos antes de ceder.

— Tudo bem. Meu nome completo é Hugo Xavier. Tenho 30 anos. Me formei em Direito, mas quase não atuo na área. Meu pai, Ivan Xavier, é dono de uma empresa chamada X-Gold Corporation. Trabalhamos com mineração e exportação de metais preciosos.

— Mineração? — repeti, surpresa.

— Ouro, prata, platina... metais que valem tanto quanto podem destruir vidas — respondeu, com um leve tom enigmático na voz. — Cresci cercado desse universo. Escritórios, reuniões com investidores, contratos, cifras absurdas.

— E você gosta disso?

Ele respirou fundo, olhando para o céu.

— Gosto do que representa. Gosto de poder cuidar da minha mãe. De poder proporcionar conforto. Mas às vezes sinto que... estou apenas cumprindo o destino que foi escrito por outro.

Seu olhar encontrou o meu, e havia algo ali. Algo mais profundo, mais escuro... mas ele não disse. E eu não perguntei.

— E você? — ele continuou, com um sorriso leve. — Já pensou em fugir da sua própria história?

— Todos os dias — respondi sem hesitar.

Ficamos em silêncio outra vez, o tipo de silêncio que diz mais do que mil palavras.

Então ele se aproximou um pouco. Apenas o suficiente para que eu sentisse a respiração dele.

— Helena... — ele disse, em tom baixo, quase reverente. — Você é diferente de tudo que eu já conheci.

Senti meu coração acelerar, mas meu corpo permaneceu imóvel. Aquilo era perigoso. Ele era perigoso. Não de um jeito cruel — mas de um jeito que poderia me fazer sentir. E eu tinha medo disso.

— Eu não sou feita pra essas coisas, Hugo — sussurrei.

— Que coisas?

— Sentir. Me apegar. Confiar...

— Não estou te pedindo tudo isso — ele disse, com doçura. — Só um momento. Um agora.

E então ele se aproximou mais. Seus olhos estavam fixos nos meus, como se pedissem permissão antes mesmo de tentar qualquer movimento. Eu podia recuar. Podia virar o rosto e voltar pra minha fortaleza solitária.

Mas não virei.

Quando nossos lábios se tocaram, foi como se um trovão silencioso atravessasse meu corpo. Não houve pressa, nem urgência. Apenas delicadeza e presença. Um beijo que não queria provar nada, apenas dizer: estou aqui.

E eu deixei que ele ficasse.

Mas, no fundo, havia algo que ele ainda não me dizia. Algo que brilhava nos olhos dele quando falava do pai, da empresa, da responsabilidade.

Depois do beijo, ficamos alguns minutos em silêncio, apenas observando o céu e escutando o som distante da cidade. Nenhum de nós queria quebrar aquele momento, mas sabíamos que a noite ainda não havia terminado.

— Eu vou subir — disse, me levantando. — Preciso me trocar. Nos encontramos no restaurante?

Hugo assentiu com um sorriso. — Estarei lá em trinta minutos. E estou curioso pra ver você fora do traje de advogada implacável.

— Cuidado com o que deseja — brinquei, já virando de costas, com o coração acelerado.

No quarto, deixei a água quente do banho escorrer sobre minha pele, tentando me acalmar. A verdade é que aquele beijo mexeu comigo mais do que eu gostaria de admitir. Por dentro, uma parte de mim gritava para manter distância. Mas outra... queria descobrir até onde Hugo poderia chegar.

Escolhi um vestido preto de cetim, longo, de alças finas e decote discreto. O tipo de roupa que revelava com elegância e sugeria sem vulgaridade. Prendi os cabelos em um coque baixo, com algumas mechas soltas ao redor do rosto. Maquiagem leve, só para realçar os olhos e os lábios. Quando me olhei no espelho, quase não me reconheci. Havia suavidade no meu reflexo. Um brilho diferente.

E, pela primeira vez em muito tempo, eu gostei do que vi.

Ao descer para o restaurante, avistei Hugo à mesa, de terno claro e camisa sem gravata. Ele me viu primeiro — e seus olhos se arregalaram como se tivessem esquecido de respirar.

— Uau... — foi tudo o que conseguiu dizer quando me aproximei.

— Espero que isso signifique “você está linda”.

Ele riu, se levantando para puxar minha cadeira.

— Significa que eu devia estar usando um colete à prova de impacto, porque você acabou de me atingir em cheio.

Sentei, tentando esconder o rubor que subia pelas bochechas.

O jantar foi leve, saboroso, repleto de risadas e olhares silenciosos que falavam mais do que as palavras. Em certo momento, ele tocou minha mão sobre a mesa, e o gesto foi tão natural que nem tentei recuar.

Quando a sobremesa chegou, o restaurante já estava mais vazio, a música suave preenchia o ambiente, e a atmosfera era quase íntima.

— Helena... — ele começou, segurando minha mão com firmeza, mas sem pressão. — Eu sei que a gente ainda está se conhecendo. Mas... essa noite, você quer ficar comigo?

Meus olhos se prenderam aos dele. Havia desejo, sim, mas também carinho e respeito. E foi justamente por isso que eu respirei fundo antes de responder.

— Hugo... — comecei, com suavidade. — Você é incrível. E essa noite foi perfeita. Mas... eu não sou o tipo de mulher que toma esse tipo de decisão por impulso.

Ele assentiu lentamente, mas não soltou minha mão.

— Eu não quero algo passageiro. E... por mais que tudo esteja sendo intenso, nós ainda sabemos pouco um do outro. Esse passo, pra mim, é sério. E eu não estou pronta.

Hugo me olhou em silêncio por alguns segundos, e então sorriu — um sorriso sereno, sem decepção.

— Obrigado por confiar em mim o bastante pra dizer isso. E por me deixar fazer parte da sua noite, mesmo que só até aqui.

Meu coração se apertou com a delicadeza dele. Eu não estava acostumada com homens assim. Com paciência, com calma. Com homens que sabiam esperar.

— Você ainda quer caminhar um pouco? — perguntei, tentando aliviar a tensão.

— Com você? Sempre — ele respondeu, se levantando e oferecendo o braço.

E foi assim que terminamos a noite: lado a lado, caminhando pelos corredores silenciosos do hotel, com passos lentos e corações inquietos, como se estivéssemos dançando.

Eu sou Hugo Xavier 29 anos

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Comments

☆☆SENHORA ROSA CANTOS ☆☆

☆☆SENHORA ROSA CANTOS ☆☆

Ele tem cara de ser escroto vai judiar dela.

2025-04-02

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