Capítulo 15

O voo foi longo, mas tranquilo. Lorenzo passou a maior parte do tempo lendo relatórios e atendendo ligações, como se o mundo inteiro dependesse de cada decisão dele. Já eu, aproveitei para descansar e tentar organizar os pensamentos. A sensação de voltar ao Brasil, mesmo que não fosse à minha cidade, despertava em mim uma mistura de nostalgia e alerta.

Assim que o avião pousou, fomos recebidos por uma comitiva discreta, mas impecavelmente organizada. O motorista nos conduziu até um hotel de luxo no coração da cidade, um daqueles lugares onde cada detalhe exalava poder e sofisticação. O tipo de ambiente onde Lorenzo se sentia em casa. Eu? Ainda estava me acostumando.

Assim que entramos no saguão, os olhares se voltaram para nós. Ele, impecável em seu terno sob medida, exalando aquela aura de autoridade natural. Eu, com um vestido elegante que ele mesmo mandou fazer para a viagem, tentando não parecer deslocada.

— Suíte presidencial, como solicitado, senhor Moretti — disse o gerente do hotel, abrindo um sorriso largo ao nos receber.

Lorenzo apenas assentiu com um leve movimento de cabeça, como quem já esperava excelência. Seguimos para o elevador privativo que nos levou até o último andar.

A suíte era absurda. Dois andares, vista panorâmica da cidade, móveis modernos, flores frescas e uma mesa de frutas selecionadas nos aguardando. Um verdadeiro palácio sobre o concreto.

— Espero que esteja à sua altura — ele disse, observando minha reação.

— Está à altura do seu ego — respondi, sarcástica, enquanto caminhava até a varanda para ver a cidade abaixo de nós.

Senti ele se aproximar e parar atrás de mim. Ficamos em silêncio por alguns segundos, o vento da cidade acariciando meu rosto. Então ele falou:

— Vamos causar impacto aqui, Helena. Quero que esteja ao meu lado em todos os eventos.

— Você já disse isso — retruquei, ainda olhando a paisagem. — Mas ainda não me disse o porquê.

Ele respirou fundo.

— Porque você é inteligente, imponente e... perigosa.

Virei-me para encará-lo, surpresa com a última palavra.

— Perigosa?

— Sim — ele sorriu, quase admirado. — Porque você me desestabiliza. E isso pode ser... útil.

Me afastei com um leve riso debochado.

— Você é impossível, Lorenzo.

— E você é irresistível, Helena.

Ele saiu do cômodo com aquele ar de quem tinha vencido mais uma batalha. E eu fiquei ali, sozinha na varanda, tentando entender por que, no meio de tanta estratégia e poder, minhas emoções estavam começando a se confundir.

O Brasil nos recebia de braços abertos. Mas alguma coisa me dizia que essa viagem não seria apenas sobre negócios.

Lorenzo saiu cedo naquela manhã. Tinha uma reunião com alguns empresários antes do congresso começar oficialmente. Como sempre, saiu impecável, terno escuro, postura altiva e aquele perfume amadeirado que ficava no ar por onde passava.

Eu, por outro lado, decidi ficar no hotel e aproveitar o raro silêncio. Troquei o robe por um jeans confortável e uma camiseta branca básica. Prendi o cabelo em um rabo de cavalo e calcei um par de sapatilhas. Não estava interessada em causar impacto — pelo menos, não naquele momento.

Desci para o restaurante do hotel em busca de um bom café da manhã. Gosto de me sentir à vontade, e não seria um hotel cinco estrelas que mudaria isso.

Enquanto caminhava em direção à mesa de pães, senti um calafrio estranho percorrer minha espinha. Olhei para o lado — e não acreditei no que vi.

Hugo.

Caminhando ao lado de Cibele.

E logo atrás deles, Ivan, Margareth... e, claro, Eunice.

A família toda. Parecia uma cena ensaiada. Como se o universo estivesse brincando comigo.

Eles me viram no mesmo instante. Foi impossível ignorar.

Margareth arqueou as sobrancelhas como se tivesse acabado de ver algo indesejável. Eunice deu um risinho venenoso.

— Veja só quem está aqui — disse Margareth, com aquele tom de desprezo que só ela sabia usar. — E eu achando que esse hotel era seletivo.

—Pois é, Margareth — emendou Eunice, — hoje em dia qualquer uma consegue se hospedar em hotéis de luxo. Nem precisam mais de classe, só de cartão de crédito.

Fingi que não ouvi. Peguei uma xícara de café como se estivesse sozinha naquele salão.

— Eu juro que não entendo — continuou Margareth. — Jeans? Camiseta? Isso aqui é um hotel cinco estrelas, não uma lanchonete de beira de estrada.

—Talvez ela esteja perdida — provocou Eunice, rindo baixinho. — Ou quem sabe veio limpar algum quarto.

— Mãe... sogra... por favor — ouvi Hugo intervir, visivelmente desconfortável. — Deixem a Helena em paz. Isso é desnecessário.

Mas nenhuma das duas pareceu ouvir.

— Eu fico surpresa de te ver aqui, Helena — disse Cibele, agora com um sorriso azedo nos lábios. — Esse não é o seu lugar. Mulheres da sociedade não se vestem como... você. Uma regata? Sério?

Meus olhos encontraram os dela. Cibele estava com ciúmes, era óbvio. O que antes era desprezo gratuito agora vinha carregado de insegurança.

—Não sei o que você está fazendo aqui — continuou ela — mas talvez tenha se enganado de andar.

Sorri, enfim. Um sorriso calmo. Quase divertido. Peguei meu café e dei um gole tranquilo, sem pressa.

— E vocês, estão aqui por quê? — perguntei, com a maior naturalidade do mundo.

— Viemos para o congresso, claro — respondeu Eunice, endireitando a postura como se estivesse prestes a receber uma medalha. — Um evento exclusivo, para pessoas de influência.

Ah, aquilo acendeu algo dentro de mim. Meu coração bateu mais forte, mas minha expressão permaneceu serena.

— Que coincidência — murmurei. — Também estarei no congresso.

O silêncio que se seguiu foi delicioso. Cibele estreitou os olhos. Margareth franziu a testa. Hugo apenas me olhou, como se quisesse entender o que eu quis dizer com aquilo.

Mas eu não disse mais nada. Dei mais um gole no café, virei as costas e fui me sentar em uma das mesas com vista para a piscina.

Mal podiam imaginar que não apenas eu estaria presente no congresso... como também entraria ao lado de Lorenzo Moretti.

Sim, aquele congresso prometia.

E eu mal podia esperar para ver a cara deles quando a verdade surgisse diante de todos.

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Comments

Júlia Caires

Júlia Caires

aposto que Lorenzo levou ela justamente pra isso

2025-04-04

1

lucelia lopes

lucelia lopes

Também acho.

2025-04-06

1

Ver todos

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