Capítulo 12

Ao sair do escritório da Morette, fui agredida com um golpe na cabeça.

Acordei com a cabeça latejando e um gosto metálico na boca. Por um segundo, tentei me lembrar onde estava… mas o frio do ferro contra meus pulsos logo me trouxe à realidade. Estava sentada em uma cadeira, com as mãos amarradas para trás. O ar era úmido, pesado, e tudo ao meu redor cheirava a mofo, sujeira e óleo queimado.

Levantei os olhos lentamente. Dois homens estavam ali. Máscaras parciais escondiam seus rostos, mas não o olhar. Aqueles olhos... eram famintos, impiedosos.

E eu sabia: aquilo era uma emboscada.

— Finalmente acordou, boneca — disse um deles, com um sorriso torto e nojento. — Espero que esteja descansada, porque vamos conversar bastante.

Permaneci em silêncio. Meus olhos passearam pelo ambiente. Estávamos em um galpão velho, provavelmente nos arredores de Milão. Nenhum som externo. Nenhuma janela. Nenhuma saída visível. Mas havia ferramentas jogadas, correntes, e uma lâmpada fraca pendurada no teto, oscilando como num filme de terror barato.

— A gente só quer saber umas coisinhas — disse o outro, se aproximando. — O que os Moretti estão planejando? Quais são as rotas? Quem são os contatos na fronteira?

Olhei direto nos olhos dele. Fria. Firme. Não ia dar a eles o prazer de ver medo.

— Vocês acham mesmo que amarrar uma mulher numa cadeira vai fazer ela falar?

Ele bufou, frustrado. O outro riu como se estivesse se divertindo.

— Está com pose de valente… mas daqui a pouco vai estar chorando.

Inclinei a cabeça, fingindo refletir.

— Sabe o que eu acho? — disse, com um sorriso ácido. — Que vocês estão desesperados. Que os Moretti estão tão acima de vocês, que a única coisa que resta é sequestrar alguém pra tentar roubar migalhas de informação.

O silêncio caiu pesado.

Foi aí que veio a ameaça.

— Já que a boneca não quer cooperar — disse o mais nojento dos dois, com um brilho doentio no olhar —, vamos aproveitar um pouco desse corpinho maravilhoso antes de matá-la.

Meu estômago virou. Mas eu não baixei a cabeça.

Ele veio em minha direção, devagar, como um predador confiante, e se curvou sobre mim. Quando senti o hálito dele perto do meu pescoço, meu instinto gritou mais alto.

Mordi a orelha dele com toda a força que eu tinha.

O grito foi imediato. Um berro animalesco de dor. Ele se debateu, tentou me afastar, mas eu segurei firme, trincando os dentes, sentindo o gosto de sangue inundar minha boca. Se eu fosse morrer ali, não ia ser calada. Eu ia lutar. E morder. E arrancar cada pedaço que eu pudesse.

— Desgraçada! — o outro gritou, e antes que eu pudesse reagir, senti um tapa estalar no meu rosto.

Minha cabeça virou para o lado com a violência do golpe, e minha boca soltou a orelha rasgada. Cuspi o sangue no chão, arfando, sentindo a pele queimar… mas meus olhos continuavam nos deles.

Frios. Desafiadores.

— Toquem em mim de novo — murmurei, com a voz baixa, rouca, feroz — e eu arranco algo que vocês vão sentir falta até no inferno.

Os dois se entreolharam. E, por um segundo, eu vi o que queria ver.

Medo.

Porque eles esperavam uma vítima.

Mas o que tinham diante deles era uma Moretti.

E uma Moretti… nunca se rende.

O dia amanheceu cinzento sobre Milão.

Na sede da Moretti Internacional, o ambiente, normalmente pulsante e preciso como uma engrenagem suíça, estava tomado por uma tensão diferente. Alessandro Moretti andava de um lado para o outro no escritório de Lorenzo, com o semblante tenso e o maxilar travado. O celular estava mudo. Mensagens sem resposta. Chamadas diretas para o correio de voz.

— Ela nunca desaparece assim — disse Lorenzo, apoiado na mesa, o olhar escuro como tempestade. — Nunca.

— A última movimentação do celular dela foi por volta das 23h de ontem — completou Alessandro. — Em um galpão abandonado ao norte de Milão. A localização foi desativada logo depois. Alguém sabia o que estava fazendo.

Giovanni entrou apressado na sala com uma expressão que raramente mostrava: preocupação.

— Verifiquei com todos os nossos aliados. Ninguém marcou reunião com ela. A mensagem que ela recebeu foi falsa.

Lorenzo cerrou os punhos.

— Foi uma emboscada.

— E ela caiu — disse Alessandro, com um tom mais sombrio do que pretendia. — Sozinha.

Vittorio entrou por último. O silêncio que se formou ao redor dele era quase reverencial. Ele caminhou até o centro da sala, apoiou-se na bengala com as duas mãos e olhou para cada rosto presente.

— Onde está Helena?

— Ainda não sabemos — respondeu Lorenzo com raiva evidente. — Mas assim que soubermos, quem tocou nela vai implorar pela morte.

Vittorio fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, sua voz estava mais firme do que nunca.

— Mandem equipes. Vasculhem cada galpão, cada buraco sujo dessa cidade. Se necessário, acionem nossas conexões fora da Itália. Helena é uma Moretti… e quem toca em sangue Moretti, assina a própria sentença.

— Eu vou pessoalmente atrás disso — disse Giovanni. — Tenho contatos no submundo que podem descobrir quem ousou essa loucura.

— E eu vou revisar todas as câmeras ao redor da última localização do celular — completou Alessandro. — Quero rostos, placas, qualquer pista.

Isabella entrou devagar, pálida, os braços cruzados.

— Isso não é só um sequestro… é um ataque direto à família. Uma provocação.

Vittorio a olhou com seriedade.

— É mais que isso. É uma tentativa de nos desestabilizar por dentro. Helena estava se tornando uma peça central. Alguém quis tirá-la do jogo.

O silêncio caiu por alguns segundos, pesado, sufocante.

Lorenzo quebrou o momento, sua voz carregada de ira contida.

— Eles não têm ideia do que fizeram.

Vittorio fez um leve aceno.

— Então façam com que eles aprendam.

E assim começou a caçada.

A família Moretti, que jamais agia no impulso, agora estava com o sangue fervendo.

E havia uma única ordem clara:

Tragam Helena de volta.

Custe o que custar.

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Comments

Júlia Caires

Júlia Caires

como ela não tinham soldados cuidando de sua segurança?

2025-04-04

1

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