Capítulo 13

O tempo parecia correr diferente ali dentro.

Não sei se foram horas ou apenas minutos, mas a dor nos pulsos era insuportável. A cada movimento, a corda parecia rasgar um pouco mais da minha pele. Mas eu não podia desistir. Não depois de tudo. Não depois da promessa que fiz à memória dos meus pais.

Eu forcei mais uma vez. Rangendo os dentes. Suando frio. Os nós começaram a ceder. Um pouco. Só mais um pouco...

Crac.

A corda se soltou parcialmente. Meu pulso latejava, mas eu estava livre.

Mantive as mãos atrás das costas, fingindo ainda estar amarrada. Meus olhos vasculharam rapidamente o lugar, procurando algo… qualquer coisa.

Foi então que vi. Um pequeno frasco de vidro sobre uma bancada suja. Reconheci de imediato o rótulo: clorofórmio. Provavelmente usado para apagar vítimas antes de torturá-las. Um plano se formou na minha mente com rapidez. Peguei o frasco e escondi entre as mãos, rezando para eles não perceberem.

Logo os dois voltaram, rindo entre si, como se tivessem total controle da situação.

— A bonequinha ainda está aí, quietinha? — provocou um deles, se aproximando.

— Vamos ver se agora ela resolve abrir a boca — disse o outro, agachando-se ao meu lado.

Era o momento.

Com um movimento rápido, abri o frasco e joguei o conteúdo direto no rosto do primeiro. Ele cambaleou, tossindo, os olhos arregalados. O segundo veio em minha direção, mas eu já estava de pé. Virei o frasco contra ele e pressionei com força o pano encharcado em seu nariz.

Eles caíram como sacos de batata.

Eram homens grandes, mas estavam vulneráveis. Usando os próprios cintos e fios encontrados pelo chão, amarrei os dois com firmeza, ignorando a dor nos braços. Só parei quando os dois estavam completamente rendidos no chão. Respiração pesada. Apagados.

O som da porta metálica se abrindo ecoou pelo galpão.

Levantei os olhos, suada, suja, e com um corte leve no lábio. Mas de pé. Inteira.

Lorenzo entrou primeiro, seguido de Alessandro. Ambos armados, em posição de ataque. Quando me viram... pararam.

— Santo Dio... — murmurou Alessandro, encarando a cena.

Lorenzo olhou para os dois corpos amarrados no chão e depois para mim.

— A gente vem salvar a donzela… e encontra dois ogros desacordados e amarrados por ela?

Alessandro soltou uma gargalhada.

— Me diz, Lorenzo… você ainda tem dúvida de que essa mulher é uma Moretti?

— Nenhuma — ele respondeu, caminhando até mim com aquele meio sorriso arrogante. — Helena, você é oficialmente a única pessoa que eu conheço que consegue virar o jogo sequestrada, amarrada… e sozinha.

Suspirei, sentindo o corpo relaxar agora que tudo tinha passado.

— Eles queriam que eu cooperasse… mas achei mais divertido apagar os dois e deixá-los de presente pra vocês.

— Já ouvi falar em presente de Natal… mas esse aqui foi bem melhor — Alessandro comentou, cutucando um dos criminosos com o pé.

Lorenzo se aproximou e me encarou nos olhos. Pela primeira vez, havia algo diferente neles. Não era só admiração. Era… respeito absoluto.

— Você está bem?

— Já estive melhor — respondi, secando um filete de sangue no canto da boca. — Mas não vou morrer hoje.

Ele estendeu a mão. Peguei. E dessa vez, foi ele quem apertou forte.

— A gente vai descobrir quem mandou esses dois — disse Lorenzo. — E vai fazer pagar.

— Não vai precisar me lembrar disso — respondi, encarando os dois corpos no chão.

Porque a guerra tinha começado.

E agora, eles sabiam que eu não era uma mulher comum.

Eu era uma Moretti.

E ninguém sai impune depois de tentar me derrubar.

Eu não queria estar ali.

Aquela mansão, com seus muros altos, seguranças em cada canto e uma elegância silenciosa que exalava poder, me dava a sensação de estar entrando numa jaula — mesmo que dourada. Mas, por insistência de Vittorio, eu aceitei.

— A partir de hoje, você mora aqui — ele disse com aquela voz grave que não pedia, ordenava. — Não há discussão.

Tentei argumentar. Disse que sabia me proteger. Que já havia provado isso. Mas, no fundo, eu sabia que ele estava certo. A emboscada não foi apenas um recado — foi um alerta. E o próximo poderia ser fatal.

— Você acha que estou te escondendo, Helena? — ele disse, encarando-me com olhos pesados de quem já perdeu muita coisa na vida. — Não. Eu estou te guardando.

Essas palavras mexeram comigo mais do que eu gostaria. Pela primeira vez, senti que alguém realmente se importava. Não com meu desempenho, não com o que eu podia oferecer à organização. Mas comigo.

Ainda assim, entrar na Villa Moretti contra a minha vontade foi como engolir vidro.

Lorenzo fez questão de estar lá quando atravessei os portões com minhas malas. Estava encostado no batente da porta com aquele sorriso presunçoso de sempre.

— Bem-vinda ao castelo, princesa — disse, com ironia no tom. — Agora você é uma das peças mais valiosas do tabuleiro… e a mais vigiada também.

— Me vigiar nunca impediu ninguém de cair, Lorenzo — respondi, sem parar de andar.

Ao entrar, senti o peso da casa. Os quadros antigos, os móveis escuros, os retratos imponentes da linhagem Moretti… era como se tudo ali respirasse história — e morte.

Fui recebida com formalidade. Criados apressados, olhares curiosos, sussurros abafados. Isabella me observou do alto da escada como uma rainha analisando uma inimiga que agora tinha que tolerar. Giovanni me lançou um aceno contido. Alessandro carregou uma das minhas malas sem dizer nada. Mas seus olhos… seus olhos me diziam: "Você não está sozinha, mesmo que se sinta assim."

Me instalei no quarto reservado a mim. Luxuoso, claro. Impecável. Mas não era meu lar. Era um território estratégico, como um ponto no centro de um campo de batalha.

Fiquei de pé, no meio do quarto, e respirei fundo.

— Que seja — murmurei para mim mesma. — Se estou dentro da jaula… então vou ser a leoa.

E com essa decisão, vesti minha armadura invisível. Porque agora, morando sob o mesmo teto dos Moretti, eu sabia que estava mais exposta do que nunca. Mas também mais próxima do centro do poder.

Se a guerra me escolheu, que pelo menos fosse no meu território.

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Júlia Caires

Júlia Caires

pensa numa mulher determinada

2025-04-04

1

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