Capítulo 6

No centro do salão, um enorme palco havia sido montado, cercado por mesas sofisticadas e olhares atentos. Eu observava tudo à distância, tentando ignorar o incômodo latejar no rosto — um lembrete recente da covardia de quem me subestima. O mestre de cerimônias anunciou com uma voz firme que ecoou pelos alto-falantes, chamando diversos empresários ao palco para palestrar ou discursar.

Hugo Xavier, claro, foi um dos primeiros. Fez questão de subir ao palco de mãos dadas com Cibele, como se quisesse provar algo para todos — ou talvez para si mesmo. Mas o que ninguém esperava era que eu também teria o meu momento.

— Senhoras e senhores, convidamos agora ao palco a renomada advogada, representante de uma das empresas de maior destaque do Brasil, a brilhante… Helena Vasconcellos!

Por um segundo, o salão pareceu se silenciar diante do impacto do meu nome. Eu o senti vibrar com força nos ouvidos de Hugo, de Margareth Xavier e de Eunice Albuquerque, que estavam elegantemente sentados em uma mesa próxima ao palco. Ainda se recuperavam do confronto no banheiro, e bastou ouvir meu nome para que seus olhares se erguessem, quase num reflexo. Vi a arrogância se esvair de seus rostos, substituída por um puro e absoluto choque.

Caminhei até o palco com calma e firmeza. O vestido preto, o salto seguro, a postura ereta… Cada detalhe em mim gritava confiança — ou melhor, poder. O tapa que levei minutos antes já não importava. Na verdade, parecia algo distante, irrelevante diante da força que eu exalava ali.

Ao subir no palco, parei por um instante. Meus olhos percorreram o salão até encontrarem, com precisão calculada, os rostos pálidos de Margareth e Eunice. Um leve sorriso se formou no canto dos meus lábios, sutil, quase imperceptível, antes de eu pegar o microfone.

— Boa noite a todos — disse, com a voz clara, firme e elegante. O salão mergulhou em silêncio. — É uma honra representar uma empresa que não apenas contribui para o crescimento econômico do Brasil, mas também para o desenvolvimento de valores que transcendem fronteiras: integridade e inovação.

Ouvi um breve aplauso, mas continuei, sentindo a atenção de todos fixada em mim.

— O sucesso não é medido apenas pelo que conquistamos, mas pelo que superamos. O verdadeiro poder não está em nomes de famílias importantes ou em legados herdados. O verdadeiro poder está naqueles que caem e, mesmo assim, se levantam — mais fortes, mais sábios e inabaláveis.

Minhas palavras pairaram no ar como lâminas. Vi o desconforto evidente em Margareth e Eunice, seus semblantes contraídos. Eu mantive o olhar sereno, o controle absoluto da situação. Não havia espaço para fraqueza. Hugo também se remexeu na cadeira, visivelmente incomodado.

Encerrando com um leve aceno, ouvi o salão explodir em aplausos. Mas não eram aplausos vazios. Havia admiração ali. Respeito. Eu desci do palco sentindo os olhares me acompanharem — não por escândalos ou boatos, mas pela mulher que eu sou. E, naquele momento, ninguém podia me apagar.

Antes mesmo que eu pudesse retornar à minha mesa, um homem alto, de terno impecável e olhar calculista se aproximou. Seu porte impunha respeito, mas havia algo ainda mais marcante em sua presença: controle. Ele estendeu a mão com um sorriso discreto e, com um sotaque leve, se apresentou:

— Senhora Vasconcellos, sou Alessandro Moretti, da Moretti Internacional. Seu discurso foi… impressionante.

Apertei sua mão com firmeza, mantendo meu olhar preso ao dele. Não era momento para hesitação.

— Agradeço o elogio — respondi com um leve aceno de cabeça.

— Ouvi muitos empresários importantes comentando sobre você. Sobre seu profissionalismo. E depois de ouvir seu discurso, percebi que eles não estavam exagerando.

Inclinei levemente a cabeça.

— Eu dou o meu melhor. Fico feliz em saber que meu trabalho é reconhecido.

Ele sorriu, levemente intrigado com minha postura firme.

— Posso conversar com você por alguns minutos? Prometo não tomar muito do seu tempo.

— Claro que podemos — respondi, curiosa com a proposta que estava por vir.

Ele me conduziu até a mesa em que estava sentado… ironicamente, bem ao lado da mesa da família Xavier. Assim que me acomodei, pude perceber os olhares surpresos de Margareth, Eunice e até mesmo Hugo. A tensão entre eles era palpável. Todos pareciam se perguntar o que um Moretti — um nome tão poderoso e influente — queria com “Helena Vasconcellos”.

O silêncio da mesa ao lado era quase cômico. Estavam todos atentos, esperando por qualquer palavra que pudesse lhes dar uma pista do que estava acontecendo.

Alessandro se inclinou ligeiramente para frente, seu tom de voz ainda mais envolvente:

— Gostaria de conversar com você sobre uma oportunidade. A Moretti Internacional está expandindo suas operações e acreditamos que alguém com sua habilidade e astúcia seria um ativo inestimável. Estamos sediados na Itália. Pense no assunto.

Eu não precisei pensar.

Não havia mais nada que me prendesse ali. Nenhum laço, apenas cicatrizes. Algumas expostas, outras escondidas sob a pele. Respondi com a firmeza de quem sabe para onde quer ir:

— Não preciso pensar. Aceito.

O sorriso de Alessandro se alargou, satisfeito.

— Helena, então vamos conversando para decidirmos o dia em que você poderá ir para a Itália.

— Só preciso de um tempo para me desvincular do meu atual emprego. Manteremos contato. Prometo que será questão de uma semana.

Do outro lado, Margareth e Eunice pareciam estátuas. A arrogância que carregavam minutos antes desapareceu por completo, substituída por um constrangimento visível… quase doloroso. Haviam tentado me diminuir, me humilhar, mas agora, ali diante delas, eu brilhava. E mais do que isso: eu estava prestes a trabalhar com a temida e respeitada família Moretti — a corporação que tantos no meio jurídico e empresarial preferiam não provocar.

Antes de sair, me virei devagar, apenas o suficiente para encará-las uma última vez. Um olhar firme, carregado de significado.

“Eu venci.”

Não precisei dizer em voz alta. Estava escrito no meu rosto, no meu silêncio, na minha postura.

E naquele instante, eu soube: eu não era apenas uma advogada de sucesso. Eu era uma fênix — renascida das próprias cinzas, pronta para voar mais alto do que jamais imaginei.

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