Eu estava sentada em uma das mesas próximas ao palco, observando os convidados circulando pelo salão, quando o garçom trouxe um coquetel refrescante. Apoiei os cotovelos na mesa, apreciando a música suave e os flashes discretos dos fotógrafos que circulavam.
Era meu momento. E eles sabiam disso.
Talvez por isso as hienas tenham se aproximado.
Margareth e Eunice vinham caminhando na minha direção, rindo como se fossem as donas do mundo. O salto alto batendo firme no chão, o perfume forte se espalhando no ar.
Tentei ignorá-las. Dei mais um gole no meu drink, focando no palco, como se a presença delas não me afetasse. Mas então, no momento em que passaram ao lado da minha mesa, tudo aconteceu rápido demais — ou rápido o suficiente para que eu percebesse o que realmente era.
Margareth fingiu um desequilíbrio sutil, soltou um gritinho falso e... crash. A taça de vinho tinto se virou inteira sobre o meu vestido.
O líquido escorreu pelo tecido como sangue fresco, manchando o vermelho impecável com uma tonalidade escura e pegajosa. O salão pareceu girar por um segundo.
— Oh, desculpe, Helena — disse Margareth, teatralmente levando as mãos à boca. — Acho que estraguei sem querer sua festa. E também seu vestido…
Respirei fundo, sentindo a raiva subir como um calor ardente no peito. A vontade de levantar e dar um tapa naquela cara cínica era enorme. Mas me segurei. Com força.
Engoli o orgulho e a dor de ver meu vestido arruinado. Firmei o olhar em Margareth e depois em Eunice, que sorria, satisfeita, com o teatro sujo.
— Um dia… — falei baixo, entre os dentes — um dia eu ainda vou me vingar de vocês por todas essas humilhações.
Levantei-me, ainda olhando nos olhos das duas.
— E fiquem certas de uma coisa: quando esse dia chegar, não terei misericórdia.
Afastei-me antes que minha raiva transbordasse. Saí do salão, peguei o celular e disquei para Lorenzo.
— Aconteceu algo? — ele atendeu na segunda chamada, com a voz firme. — Sua voz tá tensa.
— Margareth derramou vinho no meu vestido. Fingiu que escorregou, mas foi de propósito, Lorenzo. Eu vi. Ela fez isso por querer. A Eunice estava com ela.
Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Então falou, mais sério do que nunca:
— Sabia que algo assim podia acontecer. Só podia ser alguém com más intenções. Quem são elas, Helena?
— São da família do meu ex. Sempre tentaram me destruir. Me humilhar. E continuam tentando…
— Escuta bem o que vou te dizer: mantenha a calma. Saia do salão agora e me espere na entrada. Estou a cinco minutos de você. E prepare-se, porque vou te levar para buscar um vestido muito mais bonito que esse.
Desliguei e fui para a entrada. A mancha no vestido era visível, impossível de esconder. Mas eu não me importava mais. Eles haviam vencido uma batalha pequena. Mas estavam prestes a perder a guerra.
O carro preto de Lorenzo parou diante da porta. Um segurança abriu a porta traseira, e eu entrei. Ele estava ali, impecável, me olhando com um misto de raiva contida e ternura.
— Vamos resolver isso agora — disse ele, já pegando o celular para fazer uma ligação rápida. — Você vai sair desse lugar mais poderosa do que entrou.
Cerca de quinze minutos depois, paramos em frente a uma boutique de grife que parecia ter saído de um filme. Fomos recebidos como realeza. Lorenzo, com sua presença imponente, falou baixo com a gerente, que imediatamente trouxe dezenas de vestidos exclusivos.
Escolhi um vestido deslumbrante. Azul de cetim, com decote elegante e costas abertas. Fino, imponente, uma verdadeira obra de arte. Quando me olhei no espelho, senti como se estivesse me armando novamente para a guerra.
No caminho de volta, Lorenzo não parava de me olhar.
— Você está simplesmente… divina, Helena. Nunca vi alguém renascer tão rapidamente. Aquela mulher no salão vai parecer um borrão perto de você agora.
Sorri. Não porque queria impressionar. Mas porque me sentia de volta ao controle.
Agora, sim. Que começasse o verdadeiro jogo.
Do banco de trás do carro, com as luzes do salão surgindo à frente, respirei fundo. Sentia o tecido suave do novo vestido deslizar sobre minha pele como uma segunda armadura. Lorenzo, ao meu lado, ajeitou a gravata com um leve sorriso no rosto. Ele parecia tão tranquilo quanto sempre, mas eu o conhecia o bastante para perceber o brilho perigoso nos olhos dele. Aquilo era mais do que uma entrada. Era uma declaração.
Dentro do salão, Margareth e Eunice, segundo o que Lorenzo me contou depois, estavam quase brindando.
— Acho que nossa querida Helena foi embora com o rabinho entre as pernas — disse Eunice, com aquele ar triunfante que só ela conseguia sustentar. — Nada mal pra uma noite só, hein?
— Não aguentou a humilhação — completou Margareth, sorrindo como uma cobra satisfeita. — Eu bem disse que uma mulher como ela não sustenta o próprio nome num evento como esse.
Mal sabiam que, naquele exato instante, o salão inteiro seria sacudido.
— Senhoras e senhores, pedimos desculpas pelo atraso... mas nosso convidado, o Senhor Lorenzo Morette, está quase chegando. Eu tenho certeza de que todos aqui podem esperar mais alguns minutos...
Silêncio.
Espanto.
Como se uma bomba tivesse sido lançada bem no centro do salão. Olhares se cruzaram, sussurros ecoaram pelos cantos. Vi os rostos se voltando, os olhos arregalados.
Lorenzo Morette.
O nome dele sozinho já bastava para silenciar qualquer ambiente. Mesmo sua organização estando na Itália, boa parte daqueles empresários tinham negócios que, de um jeito ou de outro, passavam pelas mãos dele. E sabiam disso.
— Nossa… eu não sabia que Lorenzo viria… você sabia, Hugo? — perguntou Ivan, claramente tenso.
— Eu não sabia, e tenho certeza que a maioria aqui também não sabia, — respondeu Hugo, ajeitando o colarinho. — Eu chego a suar frio só de ouvir o nome desse homem.
— Sim, Hugo. Pode ter certeza de que não é só você. Muitos aqui se sentem assim.
A tensão se espalhou como fumaça. E foi nesse exato momento que o som do microfone voltou a ecoar:
— Senhoras e senhores, o senhor Lorenzo Morette acaba de chegar. Podemos, então, dar início ao congresso.
As portas do salão se abriram com elegância e imponência. E ali estávamos nós.
Eu, de braços dados com Lorenzo.
Vestindo um vestido ainda mais sofisticado, mais deslumbrante, mais imponente do que o anterior. A maquiagem impecável, os cabelos perfeitamente arrumados. E o olhar... ah, o meu olhar não era mais de sobrevivente. Era de vitória.
Atravessamos o salão com passos firmes. Cada olhar grudado em nós. Senti o peso dos comentários sussurrados, das expressões incrédulas, dos que me conheciam e dos que não faziam ideia de quem eu era, mas já me respeitavam pelo simples fato de eu estar ao lado dele.
— Meu Deus… o que é aquilo? — ouvi Margareth dizer, quase sem voz. — Helena… junto com Lorenzo… e parecem bem íntimos…
— E já trocou de vestido, — comentou Cibele, com o veneno escorrendo pelas palavras. — Esse é muito mais caro… e com certeza mais bonito que o outro. Agora está explicado. Ela deve ser acompanhante de luxo de Lorenzo Morette.
Sorri. Um sorriso sutil, mas que dizia tudo.
Se elas achavam que aquilo era o fim... estavam redondamente enganadas.
Era apenas o começo.
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Atualizado até capítulo 61
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