Entrei no banheiro feminino. O espaço era amplo, luxuoso, com mármore por todos os lados, espelhos grandes e iluminação suave. Apoiei as mãos sobre a pia e encarei meu reflexo. Meus olhos estavam firmes, mas havia uma sombra de dor que nem a maquiagem escondia.
Peguei o batom da clutch e comecei a retocar os lábios quando a porta se abriu.
O som dos saltos ecoando no piso gelado me fez parar no mesmo instante.
Margareth Xavier entrou primeiro, com aquele andar esnobe de quem acredita que o mundo gira ao redor do seu sobrenome. Logo atrás dela, Eunice Albuquerque — alta, fria, com o olhar venenoso de uma mulher acostumada a destruir com palavras.
— Olhem só quem está aqui — disse Margareth, cruzando os braços, com um sorriso cínico nos lábios. — A advogadazinha órfã. Que elegância… pena que continua cheirando a órfã.
Respirei fundo, me virei lentamente para encará-las. Eu não mostraria fraqueza.
— Boa noite, senhoras — respondi, mantendo a compostura.
— Acha mesmo que pode circular por esses salões como se fosse uma de nós? — Eunice disparou. — Está enganada, minha querida. Você é e sempre será uma intrusa. Uma aberração social.
—Você foi um capricho de Hugo — acrescentou Margareth, aproximando-se com desprezo no olhar. — Um brinquedinho sujo que ele enjoou. Agora ele está de volta com a mulher certa, com quem ele vai se casar. Cibele é o que qualquer mãe desejaria para um filho. E você? Você é lixo de orfanato com ares de mulher de sucesso.
— Senhora, acho que você está equivocada, foi eu que deixei o seu filho, ele não me descartou.
— Fala sério, você acha mesmo que o seu caso com Hugo, teria ido adiante se nós não tivéssemos intervido?
— Eu não acho, tenho certeza, mais foi muito bom eu ter enxergado o covarde que Hugo era, pois odeio homens covardes, filhinho de papai.
—Se fosse pot mim , você nem teria pisado neste evento — rosnou Eunice. — Mas é claro que hoje em dia até o esgoto se infiltra nas mansões.
As palavras feriam, mas não me quebravam. Já ouvi coisa pior na vida. Já sobrevivi a dores maiores. Mas o que veio em seguida foi inesperado.
Eunice se aproximou, me encarou de perto… e, num impulso de arrogância, desferiu um tapa no meu rosto.
— Isso é só para você ficar esperta, e saber que jamais poderá se aproximar de Hugo, pois ele e Cibele minha filha, estão comprometidos.
O som ecoou no banheiro como um tiro abafado. O impacto fez meu rosto virar de lado, e por um segundo, tudo dentro de mim congelou.
Ela me bateu.
Elas riram.
Foi nesse instante que algo em mim quebrou — ou talvez tenha despertado.
Virei devagar, ergui o rosto com dignidade e, sem hesitar, devolvi o tapa com a mesma força. Meu estalo foi seco, firme, certeiro. Eunice cambaleou um passo para trás, levando a mão ao rosto em choque.
— Nunca mais ouse encostar a mão em mim — minha voz saiu firme, baixa, letal. — Nem você, nem essa senhora ao seu lado.
Margareth arregalou os olhos, surpresa com minha reação.
— Vocês duas podem ter dinheiro, sobrenomes importantes e filhos criados à base de conveniência, mas eu? Eu tenho algo que vocês jamais vão ter: coragem. A coragem de construir tudo sozinha. E acreditem… isso vale mais do que qualquer joia que ostentam no pescoço.
— Sua vadia! — rosnou Eunice, avançando de novo.
— Dê mais um passo e eu faço você sair daqui com dois dentes a menos — avisei, sem tirar os olhos dela.
Margareth a segurou pelo braço.
— Vamos sair daqui antes que essa aberração crie mais escândalos.
— Escândalos? — soltei uma risada irônica. — A única vergonha aqui é ver duas senhoras supostamente da alta sociedade se comportando como hienas em cio.
Elas saíram às pressas. E eu… permaneci ali por um instante, respirando fundo, sentindo a ardência do tapa e o sangue fervendo sob a pele.
Mas, pela primeira vez em muito tempo, não me senti fraca.
Me senti viva.
E pela primeira vez… fiz questão de deixar a porta aberta para que o mundo visse de que Helena Vasconcellos era feita.
Hugo.
Eu fico surpreso ao ver minha mãe, e minha futura sogra voltarem do banheiro.
Eu não esperava aquilo. Não esperava vê-las voltar para a mesa daquela forma. Eunice com o rosto vermelho e inchado, tentando disfarçar, minha mãe parecia ainda mais furiosa do que o habitual, o olhar dela percorrendo a sala como uma fera prestes a atacar.
Cibele, ao perceber, levantou imediatamente da mesa, os olhos fixos em sua mãe.
— O que aconteceu? — ela perguntou, o tom de voz denotando surpresa e um pouco de preocupação.
Minha mãe não demorou a responder, e eu sabia o que viria.
— A amiga de Hugo, Helena Vasconcellos, foi quem fez isso — ela disparou, com um tom de raiva. — Ela esbofeteou sua mãe no banheiro. Uma selvagem.
Aquelas palavras fizeram meu coração acelerar de imediato. Fiquei paralisado, sem saber o que fazer.
Cibele, agora visivelmente furiosa, tentou se afastar para tirar satisfação com Helena, mas eu a segurei.
— Cibele, não. Deixa isso pra lá — disse, com firmeza.
Ela virou-se rapidamente para me encarar, os olhos cheios de frustração.
— Você está brincando comigo, né? Ela bateu na minha mãe, Hugo! Ou você vai me dizer que isso também não é culpa da “pobre órfã mal compreendida”?
Eu não sabia o que responder. O que minha mãe e Eunice haviam feito com Helena naquela noite não tinha justificativa, mas, por algum motivo, eu sabia que Helena não faria aquilo sem motivo.
— Se Helena reagiu, é porque foi provocada. Eu conheço ela. Ela nunca faria isso sem motivo — disse, tentando convencer a mim mesmo de que estava certo.
Margareth bufou, a raiva transbordando de seu rosto.
— Então agora você está do lado dela? Depois de tudo que ela fez?
Respirei fundo, tentando manter a calma.
— Não estou do lado de ninguém mamãe — respondi, mais firme. — Só não sou cego. Vocês duas devem ter ultrapassado todos os limites. A Helena que eu conheci se defende, mas não ataca primeiro.
E foi nesse momento que Eunice, nervosa, não conseguiu mais segurar sua raiva.
— Eu dei um tapa nela. Sim. E faria de novo.
O silêncio caiu sobre a mesa como uma pedra. Eu não sabia o que dizer. Como aquilo poderia estar acontecendo? Cibele ficou paralisada por alguns segundos, encarando a mãe, antes de quebrar o silêncio.
— Você fez o quê, mãe?
Eunice olhou para Cibele com um semblante duro, mas algo na expressão dela mostrava que, naquele momento, ela sabia que não tinha como voltar atrás.
— Ela estava me provocando — disse Eunice, tentando justificar o injustificável.
Cibele, em vez de se enfurecer, fez algo que me pegou de surpresa. Ela riu. Riu sem humor, com um sarcasmo tão profundo que eu senti uma dor no peito.
— Agora tudo faz sentido — disse, com um sorriso irônico.
Ela olhou diretamente para mim, e, de repente, tudo o que eu queria esconder, tudo o que eu tinha tentado controlar, se tornou claro.
— Ela significa muito mais pra você do que você deixa transparecer, não é?
Eu não sabia o que responder, então o silêncio se arrastou por longos segundos. Eu podia sentir o peso da verdade nas palavras dela. Algo que eu tentava negar até para mim mesmo.
Cibele deu um suspiro e, com uma leveza amarga, acrescentou:
— Então, acho melhor eu seguir o seu conselho, Hugo. Deixar isso pra lá. Porque parece que, dessa vez… quem perdeu não foi a Helena.
Ela se recostou na cadeira, tomando um gole de vinho, como se nada daquilo fosse importante.
Margareth e Eunice estavam furiosas, mas o que mais me surpreendeu foi a quietude delas. Como se algo em mim tivesse quebrado, e elas soubessem disso.
Eu olhei para Cibele, depois para minha mãe e Eunice, tentando juntar os pedaços da conversa.
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Atualizado até capítulo 61
Comments
Nana
ele é um idiota..
2025-04-02
3
Júlia Caires
vc é um frouxo
2025-04-04
1