Capítulo 16

Meu celular tocou. Vi o nome de Lorenzo na tela e atendi na mesma hora.

— Helena, surgiram uns imprevistos por aqui.

— Achei que já era para estarmos indo juntos para o congresso — respondi, com um toque de estranheza. — Você parecia tão animado em me levar ao seu lado…

Houve um silêncio breve do outro lado da linha, como se ele estivesse escolhendo bem as palavras.

— Mudança de planos. Preciso resolver algo antes — ele disse, por fim. — Mas irei direto para o congresso. Quero que você esteja lá, me esperando. E, Helena…

— Sim?

— Use o vestido que escolhi para você. Aquele que mandei fazer sob medida. Quero que todos vejam com quem vou me casar.

Arqueei uma sobrancelha, surpresa com a insistência dele no traje. O vestido era deslumbrante — caro, elegante, provocante na medida certa. Ainda assim, algo não batia. Lorenzo não era de mudar de ideia sem motivo.

— O que exatamente você está resolvendo? — perguntei, direta.

Do outro lado, ele respirou fundo antes de responder:

— Algo importante. Muito importante. Está relacionado à morte dos seus pais… — a voz dele soou mais séria, quase pesada. — Estou muito perto, Helena. Perto de descobrir quem foram os verdadeiros responsáveis.

Fiquei em silêncio, atônita. O mundo pareceu desacelerar por um instante.

— Você está… investigando isso?

— Sempre estive — ele disse. — Mas agora, algumas peças começaram a se encaixar. Confie em mim. Nos vemos no congresso, bella.

Desliguei sem conseguir dizer mais nada. Minhas mãos ainda seguravam o celular, enquanto minha mente tentava processar o que ele acabara de revelar. Lorenzo, por trás daquela arrogância toda, estava buscando justiça por mim. Sem nunca me contar.

Senti um nó na garganta. Não era fácil confiar. Mas naquele momento… fui invadida por uma gratidão inesperada.

Suspirei fundo, me levantei e caminhei até o banheiro. Liguei o chuveiro e deixei a água quente cair sobre meu corpo, tentando clarear os pensamentos.

Depois do banho, vesti o roupão de seda e fui até a sala da suíte. Como se tivesse sido cronometrado, alguém bateu à porta. Era a maquiadora enviada por Lorenzo. Uma mulher elegante, de sotaque leve e mãos hábeis.

— Vamos realçar o que você já tem de lindo — disse ela, com um sorriso confiante.

Enquanto ela arrumava meu cabelo em ondas perfeitas e realçava meus olhos com maquiagem impecável, observei meu reflexo tomando forma. Era como se ela me preparasse para um palco — e, de certa forma, era exatamente isso.

Vestir aquele vestido foi como vestir uma armadura. Tecido nobre, corte impecável, caimento perfeito. Um vermelho profundo que contrastava com minha pele e deixava minhas curvas em evidência, sem vulgaridade. Era puro poder.

Ao me olhar no espelho, reconheci algo diferente no meu próprio olhar. Eu não era mais a mulher humilhada do passado. Eu era Helena Vasconcellos. E estava pronta para enfrentar o mundo — ao lado de Lorenzo Moretti, ou sozinha, se fosse preciso.

Naquela noite, muitos olhos estariam voltados para mim.

Mas o que eu queria mesmo… era ver o olhar deles. De Hugo. De Cibele. De Margareth e Eunice.

E, principalmente, queria descobrir o que Lorenzo tinha desenterrado sobre o passado. Porque, se ele estivesse certo… a verdade estava prestes a ser revelada.

Eu logo estarei casada no papel com Lorenzo, mais nunca iremos consumar nosso casamento, ele vive tentando me seduzir, mais sempre dou um jeito de me afastar.

Não sei explicar bem o que senti ao descer do carro e ver as luzes do grande centro de convenções iluminando a noite. Um frio percorreu minha espinha, mas não era medo. Era expectativa. Era o momento de mostrar a todos quem eu havia me tornado — e quem estava ao meu lado.

Enquanto caminhava em direção ao salão principal, pude ouvir, mesmo à distância, o burburinho das vozes lá dentro. O som abafado de taças tilintando, de conversas pretensiosas e risadas forçadas.

Eles estavam lá. Eu sabia. E por instinto, quase como se pudesse sentir a vibração no ar, soube que estavam falando de mim.

— Ela disse que vem ao congresso — Eunice resmungava, rindo de canto. — Mas o que será que vem fazer aqui?

— Não sei nem onde ela está trabalhando — comentou Margareth, com aquele tom venenoso. — Pensei que estivesse na Itália, mas agora a vejo aqui no Brasil. Pelo jeito as coisas lá não deram certo pra ela.

— Deixem a Helena em paz, gente — Hugo interveio, com um certo incômodo na voz. — Vocês viram como ela tem classe. Tentaram humilhar ela no hotel, mas ela simplesmente ignorou vocês.

— Lógico que ignorou — retrucou Eunice, com desdém. — Ela não faria um escândalo porque sabe que, com a nossa influência, bastaria um estalo pra tirarem ela daquele hotel.

O som das vozes e das risadas se esvaiu de repente. O salão silenciou como num passe de mágica.

Eu havia chegado.

Parei na entrada, o queixo erguido, a postura firme. O vestido vermelho se moldava ao meu corpo como uma obra de arte. Cabelos soltos em ondas marcantes, maquiagem perfeita. Olhei para frente, segura, enquanto os olhares se voltavam para mim um a um. Senti o ar se transformar.

As pessoas cochichavam, perguntavam quem eu era. Vi homens tentando disfarçar o encantamento e mulheres me analisando dos pés à cabeça, visivelmente desconcertadas.

Eu era o centro das atenções.

E por mais que tenha tentado manter o foco, não resisti ao impulso de olhar em direção àquela mesa. A deles.

Os rostos estavam pálidos, chocados, especialmente o de Cibele.

— Só queria saber onde ela arrumou dinheiro pra comprar um vestido tão caro e elegante — disparou Eunice, com os olhos arregalados de indignação.

— Com certeza deve estar se prostituindo — alfinetou Cibele, com o veneno escorrendo pela língua. — Ou virou acompanhante de luxo de algum milionário. Porque com salário de advogada não se compra um vestido daqueles.

Sorri. Um sorriso discreto, quase imperceptível. Mal sabiam elas que o vestido fora escolhido por Lorenzo Moretti. E que, em poucos minutos, eu estaria ao lado dele, entrando de mãos dadas como sua futura esposa — como a mulher que ninguém naquela mesa jamais sonharia ver em tal posição.

Era só o começo.

A noite ainda ia reservar grandes surpresas.

E eu estava pronta para cada uma delas.

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