Capítulo 7

O céu da Itália estava tingido de tons dourados quando o avião finalmente tocou o solo em Milão. Olhei pela pequena janela redonda, observando o horizonte distante. Era uma linha tênue que separava o que eu fui da mulher que eu estava prestes a me tornar. O contraste entre o passado e o presente era tão nítido quanto a fronteira entre o céu e a terra.

Ao sair do aeroporto, o ar europeu me envolveu de forma diferente. Era mais frio, mais denso… carregado de uma elegância sutil que parecia impregnar tudo ao redor. Puxei minha mala de rodinhas com uma das mãos e ajeitei o blazer preto com a outra. A postura impecável escondia não só o cansaço da longa viagem, mas também o peso invisível das cicatrizes que ainda carregava na alma.

Um motorista me aguardava com um cartaz discreto: “Helena Vasconcellos”.

Entrei no carro de luxo em silêncio. Ele deslizava pelas ruas movimentadas de Milão com uma suavidade quase hipnótica. Olhei pela janela, absorvendo tudo. A arquitetura misturava o antigo e o moderno em uma harmonia que só os italianos pareciam dominar. Era o começo de uma nova vida. Longe das humilhações. Longe de Hugo Xavier. De Margareth. De Eunice. Longe de tudo que tentou me destruir.

Quando cheguei ao apartamento que a empresa havia providenciado, no elegante bairro de Brera, não pude evitar o breve impacto. O espaço era moderno, cheio de luz natural que atravessava as grandes janelas de vidro. Tudo parecia novo, fresco… diferente de tudo que eu conhecia. Mas as bagagens emocionais, essas, eu ainda carregava.

Larguei a mala no canto da sala e caminhei até a sacada. O vento frio tocou meu rosto e, pela primeira vez em muito tempo, o arrepio que senti não veio da dor. Veio da liberdade.

Na manhã seguinte, fui até a sede da Moretti International. O prédio era imponente, um símbolo de poder e sofisticação no coração financeiro de Milão. O mármore polido do saguão refletia o luxo discreto da cidade. Homens de terno impecável e mulheres de saltos altos se moviam com pressa e propósito, como peças bem treinadas de um xadrez de elite.

Fui recebida por Alessandro Moretti — o mesmo homem que me abordou na convenção no Brasil. Seu sorriso era profissional, mas seus olhos avaliavam tudo.

— Bem-vinda a Milão, Helena — disse ele. — Tenho certeza de que seu talento será um diferencial para nossa organização.

Retribui com um sorriso contido, mas confiante. Eu sabia do que era capaz.

Os primeiros dias foram intensos. Reuniões. Contratos. Negociações. Mergulhei no trabalho com uma dedicação quase obsessiva. Cada desafio novo era uma forma de sepultar o passado e reconstruir a mim mesma, pedaço por pedaço.

Mas a verdadeira virada aconteceu quando fui chamada para uma reunião privada com um dos homens mais poderosos da organização: Lorenzo Moretti, primo de Alessandro.

A sala onde entrei exalava poder. As janelas iam do chão ao teto, revelando uma vista espetacular de Milão. Lorenzo estava de pé, observando a cidade como se fosse dono de cada centímetro dela. Quando se virou, seus olhos azuis me analisaram com intensidade — havia curiosidade ali… mas também respeito.

— Helena Vasconcellos. Finalmente nos conhecemos pessoalmente — disse ele, com uma voz grave e um sotaque italiano carregado de autoridade.

Mantive-me firme, o olhar direto no dele.

— Senhor Moretti — respondi, com um leve aceno de cabeça.

Ele caminhou até a mesa, puxando uma cadeira para mim. O gesto, vindo dele, não parecia cortesia — parecia domínio.

— Sei que você é excelente no que faz. Alessandro falou muito sobre suas habilidades. — Ele se inclinou levemente. — Mas aqui, na Moretti International, o jogo é diferente.

Sorri. Um sorriso frio, calculado.

— Eu não vim para jogar. Vim para vencer.

Por um instante, houve silêncio. Então ele soltou uma risada baixa, satisfeito.

— Gosto disso.

Aos poucos, fui entendendo que meu papel ali ia além de contratos e estratégias. As decisões envolviam poder. Influência. Às vezes… ultrapassavam os limites da ética.

Era um mundo onde a lei era apenas uma ferramenta, manipulada por quem sabia usá-la a seu favor.

Mas eu não recuei.

Eu me adaptei. Aprendi. Cresci.

Alguns dias depois, fui novamente chamada ao escritório dos Moretti. Dessa vez, não era Lorenzo, e sim Alessandro quem me esperava. A sala imponente estava como sempre — móveis de madeira escura, estantes cheias de livros jurídicos, janelas que revelavam Milão com uma imponência quase simbólica.

Sobre a mesa de vidro, repousava um contrato elegante, com o título: “Acordo de Consultoria Estratégica Internacional”.

Alessandro sorriu ao me ver entrar. Um sorriso carregado de cortesia fria… e superioridade disfarçada.

— Aqui está, Helena. O início de uma nova era para você.

Ele empurrou o contrato em minha direção, junto com uma caneta de tinta preta.

Li com atenção. Tudo parecia em ordem. Cláusulas de confidencialidade. Metas. Responsabilidades. Tudo legal. Tudo seguro.

Hesitei por um segundo. Um sussurro do instinto me fez parar. Mas o desejo de recomeçar falou mais alto.

E eu assinei.

O som da caneta no papel foi o som do que eu ainda não sabia ser o maior erro da minha vida.

— Parabéns, Helena. Bem-vinda à família Moretti — disse ele, apertando minha mão com um sorriso que parecia mais uma armadilha do que uma saudação.

Nos primeiros dias, tudo pareceu normal. Eu me destacava. As pessoas me respeitavam. Inclusive Lorenzo, que passou a observar meus movimentos com mais interesse.

Mas então veio a noite chuvosa.

Eu estava no escritório, sozinha, trabalhando até tarde, quando vozes alteradas me chamaram a atenção. Vinham da sala de reuniões ao lado. Aquilo não era uma discussão comum. Não falavam de investimentos… falavam de ordens.

“Eliminação.”

“Proteção do território.”

“Acerto de contas.”

Aproximei-me discretamente da porta entreaberta.

O que vi fez meu sangue congelar.

Lorenzo estava de pé, rodeado por homens que definitivamente não eram executivos. Na mesa, havia pastas. Mas não eram de contratos. Eram de pessoas. Fotos. Nomes. Alvos. Planos.

Tráfico. Corrupção. Lavagem de dinheiro.

Recuei silenciosamente, o coração batendo descompassado.

O que eu havia assinado não era só um contrato.

Era a minha entrada no coração de um império…

Mas não um império de negócios.

Eu havia entrado para a máfia.

Eu sou Lorenzo Morette 27 anos

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Comments

☆☆SENHORA ROSA CANTOS ☆☆

☆☆SENHORA ROSA CANTOS ☆☆

Entrou na Máfia,não tem mais volta,agora só sai morta.

2025-04-04

1

Júlia Caires

Júlia Caires

a máfia é caminho sem volta

2025-04-04

1

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