Capítulo 6 - Cliente Pagante. (Ruby)

Narrado por Ruby Evans

Depois que Lorenzo foi embora, eu finalmente pude respirar um pouco. Quer dizer, tentar respirar. Porque meu cérebro ainda estava tentando processar tudo o que tinha acontecido.

Passei a mão pelo rosto, sentada na minha cadeira do escritório, tentando focar no trabalho, mas minha mente insistia em trazer flashbacks da noite anterior. Lorenzo Morreti era um problema que eu não esperava. O homem tinha um magnetismo absurdo, um jeito cínico que me tirava do sério, mas também um toque que... bom, prefiro nem comentar.

Mas, como se minha vida já não estivesse bagunçada o suficiente, quem resolveu aparecer? Ela mesma, a abusada da Olívia Blanco.

A chegada da Abusada

Eu já tinha ouvido diversas fofocas sobre essa mulher no escritório. Olívia era brasileira, mas fazia questão de esconder sua origem. Andava por aí fingindo um sotaque britânico forçado, mas, quando ficava nervosa, algumas palavras escapavam no português mais claro que água.

Estava revendo um caso quando ouvi batidas na porta. Antes que eu pudesse responder, Olívia já tinha entrado.

— Ruby, querida! — Ela sorriu, se apoiando no batente da porta. — Espero não estar atrapalhando.

Olhei para ela com a expressão mais impassível que consegui.

— Se eu disser que está, você vai embora?

Ela riu falsamente e entrou de qualquer jeito, sentando-se à minha frente como se fosse a dona do escritório.

— Sempre tão espirituosa. Admiro isso em você.

Revirei os olhos.

— O que você quer, Olívia?

Ela cruzou as pernas e olhou para as unhas perfeitamente feitas.

— Achei que poderíamos conversar um pouco. Agora que sou praticamente parte da família do seu chefe acho que seria legal mantermos um bom relacionamento.

Eu arregalei os olhos.

— Parte da família?

Ela sorriu de lado.

— James e eu já marcamos a data do casamento.

Foi nesse momento que meu cérebro fritou.

— Peraí. Você tá me dizendo que esse homem me fez perder cinco anos da minha vida com promessas vazias, e agora, depois de poucas semanas com você, já está pronto para casar?

Ela deu de ombros.

— O amor tem dessas coisas.

Meu Deus, essa mulher tinha a audácia de um político em campanha.

Respirei fundo e sorri falsamente.

— Bom para vocês. Espero que sejam muito felizes e que ele não te traia como me traiu.

Olívia riu.

— Ah, querida. James nunca me trairia.

— Ah, querida. Eu também achava isso.

Ela fechou a cara por um segundo, mas logo recuperou o falso sorriso.

— De qualquer forma, queria apenas dizer que estou disposta a ser sua amiga.

Soltei uma risada incrédula.

— Nossa, que nobre da sua parte. Depois de roubar meu noivo, agora quer ser minha amiga? O que vem depois? Quer que eu seja madrinha do casamento?

Ela piscou algumas vezes, como se não esperasse que eu fosse tão direta.

— Não precisa ser tão amarga, Ruby. Eu sei que você deve estar magoada, mas não precisa descontar em mim.

— Você tem razão. Eu deveria estar agradecendo. Afinal, você me livrou de uma tremenda perda de tempo.

Ela se levantou, ajeitando o vestido justo.

— Bom, vejo que ainda está com rancor. Mas tudo bem, eu entendo. Se precisar de um ombro amigo, estarei por aqui.

Dei meu melhor sorriso sarcástico.

— E se precisar de uma mulher decente para te alertar sobre as mentiras do James, estarei por aqui também.

Ela revirou os olhos e saiu do meu escritório, deixando para trás o cheiro forte do seu perfume caro e uma leve dor de cabeça de brinde.

Assim que Olívia saiu, Charlotte apareceu na minha porta, segurando uma xícara de café e com um olhar de pura malícia.

— Eu vi a cobra entrando aqui. O que ela queria?

Suspirei.

— Se gabar de que agora ela e James marcaram a data do casamento e fingir que quer ser minha amiga.

Charlotte arregalou os olhos.

— Ela o quê?!

— Isso mesmo que você ouviu.

Charlotte me entregou a xícara de café como se eu precisasse me recuperar de um trauma.

— Jesus, essa mulher tem mais cara de pau do que eu imaginava. E olha que meu nível de imaginação é alto.

— Ela praticamente esfregou o anel na minha cara.

Charlotte bufou.

— Ruby, pelo amor de Deus, você precisa superar essa história. James é um babaca, Olívia é uma oportunista, e você… bem, você passou a noite com um Deus grego chamado Lorenzo Morreti. Então, no final das contas, quem está ganhando mesmo?

Parei por um segundo.

— Hm… ponto para você.

Ela sorriu vitoriosa.

— Sabia que você ia ver o lado bom das coisas. Agora, vamos falar do que realmente importa. Você vai ver o Lorenzo de novo?

Mordi o lábio, pensativa.

— Não sei. Ele provavelmente e daqueles cara que só gosta de pegar e largar.

Charlotte deu uma gargalhada.

— Ah, Ruby… Você realmente acredita nisso?

Eu franzi a testa.

— O que você quer dizer?

Ela deu um gole no café e sorriu.

— Aposto que ele está pensando em você agora. Homens como Lorenzo não encontram mulheres como você todos os dias.

Suspirei.

— Bom, se ele estiver pensando, espero que seja de uma forma que não envolva me ver como uma cliente pagante.

Charlotte riu alto.

— Ah, Ruby, você é uma peça rara.

Sorri, pegando minha bolsa.

— Agora, vamos almoçar. Preciso de comida para lidar com tanta coisa absurda em um dia só.

Charlotte pegou o celular e acenou.

— Vamos, e prometo que vou te distrair com fofocas bem melhores do que a da Olívia.

Almoçar com Charlotte era sempre um evento. Não importava o restaurante, a comida ou a ocasião, ela sempre tinha uma fofoca quente para compartilhar. Mas nada, absolutamente nada, me preparou para a história que ela estava prestes a contar sobre Olívia Blanco.

Estávamos em um restaurante charmoso em Londres, um daqueles com decoração rústica e iluminação aconchegante. Meu prato de salada ainda estava intacto porque eu estava hipnotizada pela maneira como Charlotte contava fofocas. Ela gesticulava, mexia as sobrancelhas e, claro, fazia pausas dramáticas nos momentos certos.

— Então, Ruby, você não vai acreditar no passado vergonhoso dessa mulher.

Coloquei meu garfo de lado e me inclinei para frente, pronta para a revelação.

— Manda. Preciso de algo para me entreter.

Charlotte tomou um gole do vinho e sorriu de lado.

— Sabe aquele empresário brasileiro super famoso, Dante Morelli?

Fiz que sim com a cabeça.

— O nome me soa familiar.

— Pois bem, a nossa querida Olívia passou anos correndo atrás dele.

Arregalei os olhos.

— Como assim? Tipo, era uma fã?

Charlotte soltou uma risada sarcástica.

— Se fosse só isso… Ela tentou de tudo para se enfiar na vida dele. A mulher perseguiu esse homem como se fosse um prêmio!

Levei a mão à boca, chocada.

— Meu Deus, sério?

— Sério! E não é só isso. Quando ele finalmente se casou com a mulher da vida dele, a Olívia não desistiu. Continuou correndo atrás, tentando aparecer onde ele estava. Teve uma vez que ela foi flagrada tentando entrar no quarto de hotel dele!

Quase engasguei com minha própria saliva.

— O QUÊ?

Charlotte assentiu com um brilho nos olhos.

— Sim, e foi expulsa pelo próprio Dante. Mas ela, sendo a maluca que é, tentou se aproveitar da situação.

A essa altura, eu já estava completamente envolvida na fofoca.

— O que ela fez?

Charlotte se inclinou sobre a mesa como se fosse compartilhar um segredo de estado.

— Ela tirou uma no quarto de hotel que ela estava sozinha foto e postou nas redes sociais como se estivesse com ele!

Joguei meu guardanapo na mesa e passei a mão no rosto, completamente chocada.

— Isso não pode ser verdade.

— É real, amiga. Mas a melhor parte vem agora…

— Tem mais?

— Tem! Dante, que é um cara de respeito, foi à televisão AO LADO da esposa e desmentiu tudo. Ele disse em rede nacional que nunca esteve com a Olívia e que era fiel à mulher dele.

Coloquei a mão no peito, dramatizando a revelação.

— Meu Deus! Que vergonha!

Charlotte riu.

— Vergonha? Isso foi um espetáculo! Depois disso, o Brasil INTEIRO começou a fazer memes e vídeos zoando ela. Ela virou piada nacional!

Eu já estava gargalhando, imaginando a cena.

— Ela realmente conseguiu se queimar de um jeito inacreditável.

— Sim! E foi tão humilhante que ela não aguentou a pressão e se mandou do Brasil.

Encostei na cadeira, ainda digerindo tudo.

— Então foi assim que ela veio parar em Londres…

Charlotte confirmou, mordendo um pedaço do pão que estava na mesa.

— Exatamente. Fugindo da vergonha. E, adivinha? Continuou com o mesmo padrão: pegando homem comprometido.

Suspirei, cruzando os braços.

— Ela tinha que sair do Brasil e vir justamente para Londres? Eu já passei humilhação suficiente com o James, agora tenho que lidar com essa mulher no meu ambiente de trabalho?

Charlotte riu.

— Parece que o universo gosta de testar sua paciência.

Balancei a cabeça.

— Bom, pelo menos agora sei que o problema não era eu. Ela simplesmente não tem vergonha na cara.

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