Capítulo 20 - Não Estará Sozinha (Ruby)

Narrado por Ruby Evans.

O vapor quente do banho relaxava meus músculos tensos enquanto eu tentava esquecer a exaustão do dia. Fechei os olhos por um instante, deixando a água escorrer pelo rosto. Eu só queria descansar.

Mas minha mente insistia em voltar para Lorenzo e Dayse. Ele ainda não havia me mandado nenhuma mensagem.

Suspirei, desligando o chuveiro e pegando uma toalha. Vesti um short confortável e uma blusa velha e fui até a cozinha ver o que tinha para comer.

Resposta: nada de muito interessante.

Minha geladeira parecia um deserto alimentar. Apenas uma pizza congelada me encarava, como se dissesse: "Ou eu ou fome, escolha."

— Você venceu. — resmunguei, pegando a pizza e colocando no micro-ondas.

Enquanto esperava, apoiei os cotovelos no balcão da cozinha e olhei ao redor. Meu apartamento era pequeno, mas aconchegante. Alugado, claro, porque em Londres comprar um apartamento estava fora da minha realidade. Mas eu gostava do meu canto. O sofá surrado, as prateleiras com livros que eu jurava que um dia terminaria de ler, e a televisão que passava mais tempo desligada do que ligada.

O som do micro-ondas me tirou dos pensamentos. Peguei a pizza e dei uma mordida. Queimou a língua. Ótimo.

— Excelente escolha nutricional, Ruby. Parabéns. — murmurei para mim mesma, pegando uma lata de refrigerante.

Comi tudo rápido e voltei para a cama. Precisava dormir um pouco, mas antes dei mais uma conferida no celular. Nenhuma mensagem.

Talvez Lorenzo estivesse ocupado, talvez ele não precisasse de mim.

Ou talvez ele estivesse afundado demais na própria dor para lembrar que não precisava passar por isso sozinho.

Fechei os olhos, deixando o sono me levar.

Meu celular tocou, me arrancando do quase-sonho com um susto tão grande que quase caí da cama.

— Alô? — minha voz saiu meio grogue.

— Ruby...

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

— Lorenzo?

— Te acordei?

— Eu tava deitada, mas não tem problema.

Ele ficou em silêncio por um momento, como se estivesse escolhendo as palavras.

— Desculpa incomodar.

— Se você ligou, é porque precisava. O que houve?

— A Dayse quer falar com você.

O cansaço foi embora no mesmo instante.

— Coloca ela na linha.

Ouvi um barulho do outro lado, como se Lorenzo estivesse ajeitando o telefone. Então, a vozinha de Dayse surgiu, ainda meio hesitante:

— Ruby?

— Oi, querida! Como você está?

— Você vem aqui?

Meu coração apertou. Ela havia perdido os pais de forma tão brutal, e agora eu podia sentir o medo em sua voz.

— Claro que sim.

— Agora?

— Agora.

Ouvi um suspiro de alívio do outro lado da linha.

Lorenzo voltou ao telefone.

— Você não precisa vir agora, Ruby.

— Cala a boca e me manda o endereço.

Ele riu fraco, e isso me fez sorrir.

— Ok. Te mando agora.

Assim que recebi o endereço, pulei da cama e peguei uma jaqueta.

Lorenzo Moretti achou que eu ficaria de braços cruzados?

Vestindo uma jaqueta por cima da blusa velha, peguei minha bolsa, chequei se o celular estava carregado e saí porta afora. O frio de Londres me atingiu assim que pisei na rua.

Peguei um táxi e passei o endereço para o motorista. Ele me olhou pelo retrovisor com um ar desconfiado.

— Bairro nobre, hein? — comentou, enquanto ligava o carro.

— Pois é. — respondi, sem dar mais detalhes.

O trajeto foi relativamente rápido. As luzes da cidade piscavam do lado de fora da janela, e minha cabeça estava a mil. Será que Dayse estava bem? E Lorenzo?

Quando o táxi parou na frente de um prédio luxuoso, eu paguei e desci. O porteiro me olhou com um leve arqueamento de sobrancelha.

— Boa noite. Em que posso ajudar?

— Eu vim ver Lorenzo Moretti. Ele está me esperando.

O homem fez um telefonema rápido e, depois de um “pode subir”, abriu a porta do elevador para mim.

Assim que a porta do elevador se abriu no andar certo, Lorenzo já estava lá, encostado na parede do corredor. O cabelo bagunçado, o rosto cansado e uma sombra de olheiras deixavam claro que ele não tinha dormido nada.

— Você veio mesmo. — ele disse, como se ainda não acreditasse.

— Eu disse que vinha.

Ele deu um passo para o lado, me dando passagem.

O apartamento era amplo, com móveis caros e decoração sofisticada, mas não era frio ou impessoal como eu esperava. A sala estava iluminada apenas por uma luz baixa e, no sofá, encolhida sob uma manta cor-de-rosa, estava Dayse.

Me aproximei devagar e me abaixei ao lado dela.

— Oi, meu bem. — sussurrei.

Ela piscou algumas vezes, como se tentasse ter certeza de que eu era real, então se jogou nos meus braços, me agarrando com força.

— Eu sabia que você vinha.

— Claro que vim, pequena.

Lorenzo ficou parado ali perto, observando a cena com um olhar perdido.

Eu passei os dedos pelo cabelo de Dayse e, em silêncio, prometi a mim mesma que aquela menina nunca mais se sentiria sozinha.

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