Capítulo 3: O Preço da Traição

Gabriel estava tenso, ainda absorvendo as palavras de Enzo. A sensação de estar no centro de um turbilhão, entre a lei e a lealdade ao passado, era esmagadora. Ele sabia o que estava em jogo, mas não conseguia apagar o eco daquelas palavras. “Prepare-se, Gabriel. A guerra vai mudar tudo.”

O encontro inesperado com Enzo fez a missão ficar mais complicada do que nunca. Os agentes estavam esperando para avançar, mas Gabriel ainda estava paralisado, lutando contra o turbilhão de sentimentos conflitantes dentro dele. Ele sabia que, ao fazer a escolha de perseguir a máfia Moretti, estava deixando para trás não apenas a sua moral, mas também qualquer chance de uma vida normal. E Enzo? Enzo estava disposto a destruir tudo o que Gabriel era para tê-lo de volta.

— Gabriel, você está em posição? — Ricardo Mendes, chefe da polícia e mentor de Gabriel, estava aguardando uma resposta. A voz estava carregada de impaciência, mas havia uma preocupação sutil.

— Em posição — respondeu Gabriel, tentando recuperar o controle. Mas mesmo suas palavras não soaram convincentes.

— Lembre-se, a missão é priorizar a captura dos líderes. Se tiver a chance de pegar Enzo, faça. Não hesite. — A voz de Ricardo cortou o silêncio, como um lembrete do peso de suas responsabilidades.

Gabriel apertou os dentes. Ele sabia que não podia hesitar. Mas cada movimento parecia um passo mais perto do abismo, e Enzo era o abismo que ele não conseguia evitar.

Com a missão em andamento, Gabriel avançou pelas escadas do prédio, sua respiração controlada, os passos quase silenciosos. Ele precisava se concentrar. Precisava finalizar a missão. Mas a visão de Enzo, tão vívida e real, ainda estava em sua mente, como uma sombra que o perseguia, lembrando-o do que poderia ser — e do que ele nunca poderia ter.

Quando chegou ao andar dos escritórios, Gabriel observou, com a atenção de um caçador, os homens da máfia em plena negociação. Eles estavam em um escritório luxuoso, cercados por um monte de dinheiro e documentos ilegais. Gabriel sabia que ali estava a chave para desmantelar o império de Moretti. Mas ele não estava sozinho.

Antes que pudesse se mover, a porta atrás dele se abriu com um rangido. Gabriel girou para ver quem era. Seu coração quase parou quando viu o rosto que o atormentava.

Enzo apareceu na porta, com os cabelos um pouco desarrumados e um olhar que misturava desafio e desejo. Ele parecia tão imperturbável, tão imune à tensão da situação, como se estivesse mais no controle do que nunca. Os olhos de Gabriel encontraram os de Enzo e, por um momento, o tempo pareceu parar. Havia algo inconfundível nos olhos de Enzo — um jogo de palavras não ditas, um convite disfarçado de ameaça.

— Gabriel... — Enzo sussurrou, quase como se estivesse se divertindo com o desconforto evidente de Gabriel. — Você realmente acha que vai conseguir me capturar?

Gabriel sentiu seu corpo se contrair. Ele queria responder, queria gritar para Enzo que tudo isso era um erro, que ele tinha que parar. Mas algo dentro de si, algo mais profundo do que a razão, o impedia de fazer isso. Ele se lembrou de como eles eram na universidade, como compartilhavam momentos íntimos e complexos, sem nunca realmente dar nome ao que existia entre eles. Esse sentimento — essa química incontrolável — ainda estava lá. Ele não podia ignorar.

— Você está sozinho, Enzo. Não vai escapar dessa. — Gabriel tentou parecer firme, sua voz rouca e tensa.

Enzo deu um passo à frente, os olhos nunca saindo dos de Gabriel. Ele estava provocando-o, tentando empurrá-lo para um limite do qual Gabriel não poderia voltar.

— Você acha que pode me prender como um criminoso qualquer? — Enzo sorriu de forma sedutora, quase como se estivesse lendo a mente de Gabriel. — Não se engane, Gabriel. Você nunca me prenderia. Você me deseja, e eu... eu desejo você.

Aquelas palavras foram como um golpe. Gabriel sentiu sua respiração falhar por um instante. Não era apenas a máfia que ele tinha que enfrentar — era a força avassaladora do desejo que se acendia entre eles, algo que nunca teve chance de se apagar.

Gabriel sentiu as mãos suarem enquanto a tensão entre eles aumentava, mas o momento foi interrompido por um grito. O som ecoou pelos corredores e logo as portas do escritório se abriram, revelando os capangas da máfia entrando rapidamente. Enzo deu um sorriso sádico, como se soubesse que Gabriel não poderia se permitir hesitar mais.

— Eu realmente esperava que você fizesse a escolha certa, Gabriel... — Enzo disse, a voz suave e fria. — Mas, no final, você vai descobrir que entre algemas e cicatrizes, não há uma escolha fácil.

Enzo fez um gesto discreto, e os capangas começaram a avançar em direção a Gabriel. Mas antes que ele pudesse reagir, Enzo deu um passo à frente, prendendo Gabriel em seu abraço. A sensação foi como um choque elétrico para Gabriel, a proximidade, o calor de Enzo, o cheiro familiar.

Gabriel tentou resistir, mas Enzo, com a força e a determinação de alguém que estava acostumado a controlar tudo, o segurou firmemente.

— Não, Enzo... — Gabriel tentou afastá-lo, mas sua voz estava carregada de desejo reprimido. Ele não queria aquilo, mas ao mesmo tempo, não sabia como resistir.

Enzo sorriu de maneira possessiva, a mão deslizando pelo pescoço de Gabriel com suavidade, mas havia uma ameaça latente no toque.

— Você sempre será meu, Gabriel. Nunca houve um "fim". Só uma pausa. — Ele murmurou, seus lábios quase tocando a pele de Gabriel.

O grito dos capangas, agora mais próximo, fez Gabriel voltar à realidade. Ele não tinha tempo para isso. Ele não podia deixar que o desejo o dominasse agora, não quando tanto estava em risco.

Com um movimento rápido, Gabriel empurrou Enzo para trás, se afastando da proximidade sufocante. Seu coração batia forte, mas sua mente se manteve clara.

— Não vai ser assim, Enzo. Eu vou te parar. — Gabriel disse, a voz baixa, mas cheia de determinação.

Mas Enzo, com aquele sorriso enigmático, apenas olhou para ele com um brilho intenso nos olhos.

— Eu espero que você tente, Gabriel. Porque quando você cair, vou ser o único para te erguer.

Com isso, Enzo se afastou, dando ordens aos seus homens. Gabriel, por sua vez, sabia que o caminho à frente seria muito mais difícil do que qualquer missão que já tivesse enfrentado. Entre algemas e cicatrizes, ele precisava decidir em qual lado da linha ele estaria.

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