CAPÍTULO 18

POV DE SELENE

O café da manhã ao ar livre era um espetáculo de ostentação. Mesas de mármore branco brilhavam sob o sol matinal, cobertas por toalhas de linho bordado e arranjos de flores tão perfeitos que pareciam artificiais. As damas ocupavam cadeiras de ferro dourado, vestidas como borboletas tropicais — cores vibrantes, decotes profundos, sorrisos afiados. Celeste, sentada no centro como uma rainha improvisada, usava um vestido de seda vermelha que escorria por seu corpo como sangue fresco. As mangas eram translúcidas, revelando braços adornados com pulseiras de ouro, e a cintura estava tão apertada que eu quase sentia falta de ar só de olhar.

Meu próprio uniforme — um vestido de linho cru, desbotado e remendado nos cotovelos — parecia uma mancha de cinza entre tanto brilho. Segurava uma bandeja de prata com mãos calejadas, servindo tâmaras e queijos enquanto Celeste ria com uma intensidade que fazia as outras damas se inclinarem para trás, como se seu riso fosse um vendaval.

"Claro que serei escolhida", ela dizia, erguendo uma taça de vinho doce. "O Alfa não resiste a uma mulher que sabe o que quer."

Eu mordi o interior da bochecha para não rir. Sim, pensei, ele adora mulheres que querem poder... e que não percebem que ele nunca dará isso a elas.

Foi quando a nova convidada chegou.

Harper apareceu ao meu lado como um fantasma, seu dedo ossudo apertando meu braço. — Temos novas convidadas? — sussurrou, os olhos estreitos fixos na figura que avançava pelo jardim. — Eu não vi essa na cerimônia de apresentação.

A mulher caminhava com uma leveza que parecia desafiar a gravidade, seu vestido prateado refletindo a luz como se fosse feito de lua solidificada. Seu cabelo, negro e solto, caía em ondas até a cintura, e seus olhos — verdes como floresta sob neblina — varriam o local com uma calma perturbadora. Até Celeste parou de rir, os dedos contraindo-se em torno da taça como garras.

— Talvez tenha chegado atrasada — murmurei, ajustando a bandeja em minhas mãos. — Você sabe como a nobreza adora uma entrada dramática.

Harper soltou um riso baixo, quase um rosnado. — Bem, drama ou não, fofoca é fofoca. E eu nunca perco a chance de pescar uma. — Empurrou a bandeja de frutas cristalizadas em minhas mãos. — Sirva isso antes que apodreçam de tédio. Eu vou descobrir quem é essa feiticeira de conto de fadas.

Enquanto Harper se infiltrava entre os criados como uma sombra, eu me aproximei da mesa onde a nova convidada se sentara. Celeste já estava de pé, o vermelho de seu vestido parecendo agora agressivo diante da prata serena da recém-chegada.

— Um prazer recebê-la — disse Celeste, os dentes brilhando em um sorriso que não alcançava os olhos. — Embora seja... curioso. Não a vi durante as apresentações.

A estranha ergueu o queixo, e pela primeira vez, vi Celeste hesitar.

— O prazer é todo meu — respondeu a mulher, a voz tão suave quanto o deslizar de uma adaga na bainha. — Mas não se preocupe. O Alfa sabe exatamente quem eu sou.

O silêncio que se seguiu foi tão cortante que até os pássaros pararam de cantar.

Celeste não pestanejou. Seus lábios se curvaram em um sorriso afiado, e seu tom de voz escorreu mel e veneno:

— Que curioso. Não sabia que o Alfa faz questão de acolher quem despreza compromissos. — Ela ergueu a taça de vinho como se brindasse a própria crueldade. — Todas nós cruzamos reinos para chegar a tempo. Será que você é tão... especial assim para ser exceção?

A convidada prateada inclinou a cabeça, os olhos verdes brilhando como facas polidas.

— Especial? Não. — Sua voz era um fio de gelo. — Apenas paciente. Algumas de nós sabem que coisas valiosas demoram para ser conquistadas. Outras... — Um olhar descarado percorreu o vestido vermelho de Celeste. — ...apressam-se como crianças famintas por migalhas.

Celeste apertou a taça até os nós dos dedos empalidecerem. Eu recuei, mas não rápido o suficiente para escapar do olhar da recém-chegada. Seus olhos pousaram em mim por um instante, e algo neles — uma centelha de reconhecimento? — fez meu rosto queimar. Ela é tão perfeita, pensei, puxando inconscientemente o avental desbotado para cobrir o remendo no joelho. Enquanto as duas trocavam farpas como duelistas, eu me senti menor que uma sombra, invisível e desbotada.

Foi então que o calor chegou.

Primeiro, o cheiro: pinho e fumaça, amadeirado e selvagem, envolto em uma ferocidade contida. Minhas costas arderam como se alguém tivesse aproximado uma tocha da minha nuca.

— Posso saber qual assunto tão urgente estamos tratando aqui?

A voz do Alfa cortou o ar como uma lâmina.

Eu me virei tão rápido que a bandeja de frutas quase caiu. Ele estava ali, a menos de três passos, seus olhos cinzentos cravados em mim como se tivessem perfurado cada mentira que eu já contei. Seu olhar era pesado, íntimo, como se soubesse exatamente como eu tremera na cozinha, como seu manto ainda estava escondido sob minha cama.

— Meu Alfa! — A convidada prateada curvou-se com graça, mas sua voz soou abafada, distante. Kael nem olhou para ela.

Ele está me vendo. Ele sabe. Ele SABE.

Meu coração martelou tão forte que eu temi que todos ouvissem. Seus olhos desceram até meu pescoço, onde um fio de suor escorria, e seu nariz dilatou levemente, como se farejasse o medo — ou algo mais.

— Estávamos apenas... — Celeste começou, mas Ethan surgiu como um raio ao lado do Alfa, quebrando o feitiço.

— Meu senhor! — Ethan anunciou, demasiado alto, demasiado alegre. — As damas aguardam sua opinião sobre o vinho novo. Dizem ser tão raro quanto um sorriso seu.

Kael piscou, como se despertasse de um sonho. Seus olhos se afastaram de mim a contragosto, e por uma fração de segundo, eu jurei ver algo nele — confusão? Raiva? — antes que a máscara de Alfa Supremo recaísse.

— Claro — ele resmungou, seguindo Ethan, mas lançou um último olhar sobre o ombro. Dessa vez, não para mim.

Para ela.

A convidada prateada sorriu, lenta, como uma gata que acabara de encontrar um rato especialmente suculento.

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