CAPÍTULO 9

POV DE KAEL

Ethan entrou no meu escritório como se estivesse carregando as boas novas do reino inteiro. Seus olhos brilhavam, e ele mal conseguia conter o sorriso estúpido no rosto. Eu já sabia o que vinha por aí antes mesmo de ele abrir a boca.

— Meu Alfa... — ele começou, tentando manter um tom formal, mas falhando miseravelmente. A empolgação transbordava em cada sílaba. — As damas já estão todas aqui. O baile está praticamente pronto. Tudo o que falta é você se apresentar.

Eu olhei para ele de cima da pilha de documentos que estava revisando, erguendo uma sobrancelha. — E por que exatamente eu precisaria me apresentar? — perguntei, mantendo a voz calma, mas com um tom que deixava claro que não estava no humor para suas brincadeiras.

Ethan parou, como se eu tivesse acabado de dizer que o céu era verde. — Por que você precisaria se apresentar? — ele repetiu, como se a pergunta fosse a coisa mais absurda que já tinha ouvido. — Kael, você fez todas as jovens dos reinos se locomoverem até aqui. Elas atravessaram montanhas, rios e deuses sabem o que mais só para ter a chance de conhecer o grande Alfa Kael. E agora você quer ficar escondido no seu escritório como se fosse um lobo envergonhado?

Eu suspirei, esfregando os olhos. Ethan sempre teve um talento especial para transformar situações simples em dramas épicos. — Eu não as convidei pessoalmente — retruquei, tentando manter a paciência. — Você foi quem organizou tudo isso. Eu só... concordei.

— Ah, claro, porque eu sou o Alfa aqui, não é? — ele respondeu, cruzando os braços e olhando para mim com uma expressão que misturava incredulidade e irritação. — Kael, você precisa aparecer. Nem que seja só para cumprimentá-las. Elas estão aqui por *sua* causa, não pela minha.

Eu me recostei na cadeira, olhando para ele com uma mistura de cansaço e resignação. Ethan era meu conselheiro, sim, mas também era meu melhor amigo. E, como amigo, ele tinha o hábito irritante de dizer as coisas que eu não queria ouvir.

— Ethan, eu não estou no clima para isso — admiti, minha voz mais baixa agora. — Eu sei que você acha que isso é uma boa ideia, mas... — Eu parei, tentando encontrar as palavras certas. Como explicar que a ideia de encontrar uma Luna, de ter alguém ao meu lado, me enchia de uma inquietação que eu não conseguia nomear?

Ethan olhou para mim, sua expressão mudando de irritada para preocupada. — Kael, você não pode continuar assim. Você precisa seguir em frente. Você não pode viver sozinho para sempre.

Eu senti um nó se formar no meu estômago. Ethan não sabia sobre os sonhos, sobre a ômega que eu não conseguia esquecer. Ele não sabia que, todas as noites, eu via o rosto dela, sentia o cheiro dela, ouvia a voz dela. Ele não sabia que, no fundo, eu sabia que ela era real. Que eu a tinha visto, tocado, mesmo que apenas por um momento. E que, desde então, eu não conseguia pensar em mais nada.

— Eu sei — eu disse finalmente, minha voz quase um sussurro. — Mas isso não torna as coisas mais fáceis.

Ethan suspirou, passando uma mão pelo cabelo. — Eu entendo, Kael. Eu realmente entendo. Mas você não pode deixar que isso te paralise. Você é o Alfa. Você tem responsabilidades. E, além disso... — Ele fez uma pausa, olhando para mim com um sorriso meio torto. — Quem sabe você não encontra alguém que te faça esquecer... seja lá o que for que está te incomodando?

Eu olhei para ele, sentindo uma mistura de gratidão e frustração. Ethan sempre tentava ajudar, mas ele não entendia. Ninguém entendia. Como eu poderia explicar que, não importa quem eu encontrasse, não seria a mesma coisa? Como eu poderia explicar que, quando eu fechava os olhos, era o rosto dela que eu via, o cheiro dela que eu sentia, a voz dela que eu ouvia?

— Talvez — eu disse finalmente, sabendo que era mais fácil concordar do que continuar discutindo. — Mas, por enquanto, eu prefiro ficar aqui.

Ethan não aceitou isso. Ele nunca aceitava. E, dessa vez, ele decidiu que não ia me deixar escapar tão fácil. Ele cruzou os braços, olhando para mim com uma expressão que eu conhecia bem — aquela que dizia "eu não vou desistir até você fazer o que eu quero".

— Ah não, você não vai me passar essa vergonha — ele disse, sua voz cheia de indignação teatral. — O que você é? Um lobinho com medo? Onde está o Alfa que conquistou e colocou seus inimigos aos seus pés? Levanta-se e seja homem. O melhor, seja um lobo.

Eu olhei para ele, surpreso. Ethan raramente usava esse tom comigo, especialmente quando estávamos a sós. Ele sabia que eu não gostava de ser desafiado, mas, aparentemente, hoje ele decidiu que valia a pena correr o risco.

— Ethan... — eu comecei, tentando manter a calma, mas ele não me deixou terminar.

— Não, Kael. Eu não vou deixar você ficar aí escondido como se fosse um filhote assustado. Você é o Alfa, por todos os deuses! Você não pode simplesmente ignorar todas essas damas que vieram até aqui só para te ver. Isso é... isso é falta de educação!

Eu quase ri. Falta de educação? Era isso que ele estava preocupado? — Ethan, eu não estou ignorando ninguém. Eu só... não estou pronto.

— Pronto? — ele repetiu, como se a palavra fosse um insulto. — Kael, você nunca vai estar "pronto". Ninguém nunca está. Mas você tem que tentar. Você não pode ficar aí sentado, esperando que as coisas aconteçam sozinhas.

Eu olhei para ele, sentindo um pouco da minha resistência começar a ceder. Ethan tinha um jeito de falar que fazia tudo parecer tão simples. E, embora eu soubesse que não era, eu também sabia que ele estava certo. Eu não podia ficar escondido para sempre.

— Tudo bem — eu disse finalmente, levantando-me da cadeira com um suspiro. — Eu vou. Mas se alguma dessas damas começar a me dar dor de cabeça, a culpa será sua.

Ethan riu, um som leve e genuíno. — Justo. Mas, pelo menos, você está saindo desse escritório. Isso já é um progresso.

Eu sorri, sentindo um pouco do peso sair dos meus ombros. Talvez Ethan estivesse certo. Talvez eu precisasse tentar. E, quem sabe, talvez eu encontrasse algo — ou alguém — que me fizesse esquecer, mesmo que por um momento, a ômega que eu não conseguia tirar da minha mente.

— Vamos — eu disse, ajustando meu manto. — Mas, se isso der errado, eu vou lembrar disso.

Ethan riu novamente, seguindo-me até a porta. — Eu não espero menos de você, meu Alfa.

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