capítulo 14 - Aptidão mágica

Os anos passaram e, para minha frustração, ainda havia momentos em que meu corpo me traía como um bebê indefeso. Mas, aos poucos, fui dominando a arte de falar, algo que considerei um feito digno de comemoração. No começo, minha pronúncia era um desastre e, para piorar, todo mundo achava adorável quando eu errava as palavras. Sempre que eu tentava dizer algo complicado e acabava saindo um som estranho, minha mãe ria baixinho e meu pai acariciava minha cabeça com ternura. Adrian, meu irmão mais velho, fazia questão de repetir meus erros de propósito, só para me provocar.

Esse pirralho que, até pouco tempo, eu que debochava de seus erros — mentalmente, mas ainda assim.

A alimentação também foi um campo de descobertas. Os pratos desse mundo tinham temperos e ingredientes que eu nunca havia experimentado antes. Alguns eram deliciosos, outros... menos. Me lembro do primeiro contato com um prato chamado Férine, uma espécie de carne assada marinada em ervas que deixava um gosto picante na boca. O problema? Eu não esperava que fosse tão forte e quase cuspi tudo na mesa. Meu irmão, que já estava com 8 anos, riu tanto que quase caiu da cadeira.

— Maryelle, sua cara foi impagável! — ele disse, segurando o estômago de tanto rir.

Eu, ainda com a boca ardendo, só consegui lançar um olhar mortal para ele.

Falando nele, Adrian D’Velóis, meu querido irmão mais velho, tinha um talento mágico impressionante. Desde cedo, ele demonstrava aptidão para a magia de raios, algo que foi confirmado quando realizou o Teste de Atributos, um exame obrigatório para todas as crianças do Império. Ele ficou muito orgulhoso de sua compatibilidade e não perdia uma oportunidade de exibir suas pequenas faíscas brilhantes diante de mim.

Então, quando completei quatro anos, chegou a minha vez de passar pelo teste.

No Império, o exame era feito em diferentes momentos conforme o status da criança. Como filha de uma família ducal, realizei o teste no mesmo dia que as outras três crianças das famílias ducais e uma criança da família imperial. Todos os pequenos foram reunidos no grande salão de mármore do Templo de Eldoria, onde sacerdotes especializados realizavam as avaliações.

O primeiro passo foi testar a quantidade de mana. Para isso, colocaram minha mão sobre uma pedra mágica. Se ela brilhasse fraco, significava baixa reserva mágica. Quanto mais forte o brilho, maior o potencial.

A pedra não só brilhou. Ela explodiu em luz, iluminando todo o salão.

Os sacerdotes trocaram olhares boquiabertos. Minha família congelou. A princesa da família imperial — uma garotinha de cabelos dourados como o sol — deu um passo para trás, assustada.

— E-eu? — gaguejei, olhando para minhas próprias mãos.

"É, Celeste me buffou demais."

Depois do caos inicial, fui levada para outra sala, onde fariam o teste de compatibilidade com os elementos. O processo consistia em tocar em artefatos encantados com cada tipo de magia para ver se a energia fluía.

O normal era ter afinidade com um elemento. Dois já eram motivo de grande orgulho. Eu esperava ter, no mínimo, dois. Se pudesse escolher, acho que gostaria de um forte poder de água e de terra, né? Acho que seriam bem úteis nas batalhas.

O maior guerreiro da história do império possuía quatro elementos.

E quantos eu tinha?

Bom...

Assim que toquei no primeiro artefato, senti um calor subir pelo meu braço. O sacerdote anotou algo. Quando toquei no segundo, uma brisa sutil envolveu meu corpo. O terceiro fez um arrepio percorrer minha espinha. O quarto, uma leve eletricidade formigou meus dedos.

Um a um, os artefatos reagiram. Todos eles.

— Isso é… impossível.

As expressões dos sacerdotes eram um misto de choque e reverência. Um silêncio absoluto tomou conta da sala.

E, naquele momento, eu percebi que não só tinha compatibilidade com todos os elementos, como também possuía magia sagrada extremamente forte.

— Eu sou um monstro? — pensei, suando frio.

Mas uma coisa era certa: estará tudo um caos no futuro.

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