Caixa surpresa.

O vestido branco estava pendurado à minha frente, imponente e luxuoso, feito sob medida para um casamento que muitos acreditavam que jamais deveria acontecer. O tecido pesado parecia carregar o peso do meu destino, bordado com promessas silenciosas e sentenças não ditas. Minhas mãos tremiam enquanto tocavam a renda delicada, e meu coração martelava dentro do peito.

Hoje era o dia. O dia em que eu enfrentaria os olhares carregados de ódio, as acusações veladas e as lembranças do passado. Todos se lembrariam que eu tentei matar o Don. Todos me julgariam, sussurrariam pelas minhas costas, e eu teria que erguer o queixo e fingir que nada disso me afetava.

Minha tia Flora entrou no quarto sem bater, como se tivesse o direito de atravessar qualquer barreira que eu tentasse erguer. Ela era mãe de Camille e seu olhar carregava o ressentimento que eu já esperava.

— Você não morreu por sorte, Fernanda. — Sua voz era baixa, fria, como uma lâmina afiada. — Não sei como Luigi poupou sua vida, mas nunca se esqueça de que devia estar debaixo da terra agora.

Engoli em seco, tentando ignorar a onda de culpa que ameaçava me engolir. Não era como se eu não soubesse disso. Eu sabia. Todos os dias, desde que Luigi me tirou daquele inferno, essa certeza me assombrava. Mas agora não era o momento de fraquejar.

— Eu sei. — Foi a única coisa que respondi. Minha voz saiu firme, mas dentro de mim, tudo tremia.

Flora bufou, como se minha resposta a irritasse ainda mais, mas antes que pudesse dizer qualquer outra coisa, a decoradora entrou apressada no quarto.

— Chegou uma caixa para a noiva. — Ela anunciou, sem perceber o clima pesado no ar.

Franzi o cenho, sentindo um calafrio se espalhar pela minha espinha. Ninguém me mandaria nada. Ninguém queria celebrar esse casamento. Ainda assim, caminhei hesitante até a mesa onde a caixa repousava. Era simples, sem remetente, mas parecia recém-entregue.

Minhas mãos trêmulas puxaram a tampa, e no segundo seguinte, um grito rasgou minha garganta.

O cheiro metálico de sangue me atingiu primeiro. Então, meus olhos captaram a imagem horrenda: um rato morto, sem cabeça, jogado dentro da caixa como uma mensagem clara e cruel. Um grito desesperado escapou de mim, e recuei, empurrando a caixa para longe como se pudesse me livrar do terror que ela me trouxe.

O pânico tomou conta de mim. Minha respiração ficou curta, meu corpo começou a tremer incontrolavelmente, e as lembranças vieram como uma tempestade, violentas e sufocantes. O porão escuro, os ratos se arrastando sobre minha pele, os dentes afiados mordendo minha carne.

Não. Não de novo, hoje não.

— LUIGI! — Meu grito saiu rouco, rasgado pelo desespero.

No instante seguinte, a porta foi aberta com força, e Luigi entrou com a arma em punho, os olhos afiados varrendo o ambiente, pronto para atirar em quem quer que estivesse me ameaçando.

Seus olhos caíram sobre mim primeiro, depois na caixa. Quando viu o rato morto, sua expressão mudou. O olhar frio e calculista tomou conta de seu rosto, e seus dedos se apertaram ao redor da arma. Ele não precisou de explicações. Ele sabia.

Se aproximou devagar, abaixando a arma, e seu tom saiu baixo, mas carregado de certeza.

— Acabou, bambina. Isso já acabou.

Mas não tinha acabado. Meu corpo ainda tremia, minha mente ainda estava presa no passado, e o terror me segurava como correntes invisíveis. Ele percebeu isso, e sem hesitar, segurou meu rosto entre as mãos.

— Olha pra mim. — Sua voz era firme, mas havia algo ali, algo diferente. Um cuidado que eu não esperava. — Você está segura. Eu estou aqui. Ninguém vai te machucar.

Aquelas palavras ecoaram dentro de mim, lutando contra o pânico. Minha respiração ainda era curta, mas comecei a sentir o chão sob meus pés novamente. Luigi se manteve ali, próximo, seu polegar acariciando levemente minha pele.

— Ele vai pagar. — Ele disse, seu tom carregado de promessa e fúria contida.

Eu sabia que ele estava certo. Mas naquele momento, tudo que eu conseguia sentir era o medo queimando dentro de mim.

Ele afastou os cabelos grudados na minha testa e suspirou, antes de dizer com a mesma firmeza:

— Agora se arrume. O casamento tem que acontecer.

Eu fechei os olhos por um segundo, tentando recuperar o controle. Quando os abri novamente, Luigi ainda estava ali, seu olhar intenso me prendendo.

E pela primeira vez, eu percebi que, de alguma forma inexplicável, ele era a única pessoa no mundo que poderia me tirar do abismo em que eu estava prestes a cair.

Meus dedos ainda tremiam quando a maquiadora inclinou meu rosto de leve para o lado, analisando minha expressão antes de começar seu trabalho. Meu coração ainda estava descompassado, e eu sentia o gosto amargo do medo na boca.

Luigi tinha saído do quarto há poucos minutos, mas seu toque ainda parecia estar gravado na minha pele. O jeito como segurou meu rosto, o olhar feroz e protetor, a forma como garantiu que eu estava segura… tudo ainda vibrava dentro de mim.

— Uau… — A maquiadora, uma mulher de olhos vivos e um sorriso travesso, que eu mal conhecia, soltou uma risadinha. — Nunca vi um noivo entrar em um quarto com tanta fúria e preocupação ao mesmo tempo.

Minha garganta secou.

— O quê?

— A forma como você gritou por ele… — Ela suspirou, como se estivesse contando uma história de amor ao invés de um episódio de puro terror. — Foi tão… romântico. Como se soubesse que ele viria te salvar.

Minha mente girou. Eu não havia pensado nisso antes. Só agora percebia que, no meio do meu pânico, meu primeiro instinto foi chamar por Luigi. Eu gritei por ele.

E ele veio.

Não hesitou. Não perguntou. Não duvidou.

Era a segunda vez que isso acontecia.

A lembrança do primeiro pesadelo veio como um relâmpago. A dor, o desespero, e a forma como eu, sem pensar, chamei pelo nome dele. A forma como sua presença me trouxe paz, mesmo quando tudo em mim dizia que eu deveria odiá-lo.

Engoli em seco.

— Você viu o jeito que ele olhava para você? — A maquiadora continuou, rindo baixinho. — Por um momento, eu juro que pensei que ele ia matar alguém.

Ela disse aquilo como se fosse brincadeira, mas eu sabia que não era. Luigi realmente mataria alguém se isso significasse me proteger.

Aquela constatação caiu sobre mim como uma rocha pesada, afundando meu peito, me deixando sem ar.

Meu olhar se voltou para o espelho à minha frente. Meu reflexo me encarava, mas eu mal conseguia me reconhecer.

Eu estava apaixonada por ele.

Era um pensamento absurdo, insano. Eu deveria ter medo dele. Eu deveria desprezá-lo pelo que ele representava. Mas ali, diante do espelho, encarei a verdade que já vinha se formando há dias, talvez semanas.

Eu não queria fugir.

Eu confiava nele.

Eu o queria perto.

O peso daquela revelação me deixou tonta. Porque agora, não era só sobre sobreviver. Não era só sobre cumprir um destino traçado por outros.

Era sobre o que eu sentia.

E eu não sabia se isso era algo bom… ou se significava minha completa ruína

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Comments

maria conceiçao

maria conceiçao

tenho certeza que foi o pai dela com essa Flora né vai tentar incriminar o pai dela mas que ela vai se fortalecer e virar uma mafiosa bem boazinha entre "vai porque eu tenho certeza que ele vai apoiar ela em tudo que a máfia tá contra ela porque ela tentou matar ela ela quase conseguiu matar o dom dele então a gente mais sentimento real mas agora ela tem que mostrar que ela não é fraca porque ela também sabe lutar então agora a guerra está declarada

2025-03-15

0

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

Acho que foi o pai dela juntos com a flora que mandou a caixa de presente com rato morto sem cabeça dentro da caixa de presente essa tia da dela a flora é uma cobra

2025-04-06

0

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Ele tbm está apaixonado por vc entoação ser felizes mas foi-o escroto do pai que mandou o raro pra ela!! Credo que demente!!

2025-04-08

0

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