Paz?

Passei o dia seguinte inteiro ali com ela, sem me preocupar com o mundo lá fora, meu braço direito era meu consiglier Antony e cuidaria de tudo, então pela primeira vez em muito tempo, me permiti esquecer os negócios, os compromissos, os soldados à espera de ordens. Minha prioridade agora era Fernanda.

Ela ainda estava ferida, e mesmo que fosse teimosa o suficiente para tentar fazer tudo sozinha, eu não permitia. A ajudava a ir ao banheiro, a se sentar, a tomar os remédios. E, claro, me certifiquei de que não havia nenhum traço de ratos no apartamento que ela jurava que deveria ter algum. Sabia que era irracional, mas toda vez que ela tremia só de pensar neles, sentia uma irritação crescente por aquilo que seu próprio pai fez com ela e que sequer passou pela minha cabeça fazer.

No começo, ela rejeitou qualquer ajuda. Mas com o passar das horas, começou a perceber que não tinha escolha. Me lançar olhares furiosos não a faria levantar sozinha ou fazer as dores sumirem. Então, aos poucos, cedeu.

Eu me divertia com sua resistência, seus olhares irritados e as respostas afiadas que sempre tinha na ponta da língua. Mas mesmo sua fúria parecia perder força com o tempo. O clima entre nós começou a mudar, tornando-se algo diferente. Não mais pura hostilidade. Ainda não era confiança, mas uma espécie de convivência forçada, ela não tinha noção, mas sua atitude estúpida de pular do carro fez as coisas mudarem para nós.

Estava na sala, no computador com alguns associados em reunião, quando acabou fiquei ali revisando alguns documentos, até que um grito ecoou pelo quarto.

Me levantei de imediato, meu coração acelerando ao ouvir meu nome sair de sua boca. Aproximei-me da cama e a sacudi levemente. Seus olhos se abriram, assustados, e sua respiração estava descompassada.

— O que foi? — perguntei, observando-a atentamente.

Ela hesitou, como se não quisesse responder. Mas então, murmurou:

— Eu… sonhei com um rato me mordendo, acho que estou ficando louca.

Minha sobrancelha arqueou.

— Então esse é o motivo para me chamar dormindo? Virei seu herói agora? — provoquei, cruzando os braços rindo para espantar o medo que ela sentia ali e funcionou.

Fernanda arregalou os olhos e balançou a cabeça rapidamente.

— Eu não chamei você.

Sorri de lado, satisfeito.

— Chamou, sim. E bem desesperada, não se preocupe bambina, seu salvador está aqui.

Ela virou o rosto, visivelmente envergonhada.

Por um momento, apenas a observei. Seu medo, sua fragilidade, o peso que carregava nos ombros… E então percebi que, talvez, só talvez, ela me deixasse fazer parte de sua vida da forma correta, já que não havia como fugir do casamento que fosse pelo menos uma boa convivência.

Mas, por enquanto, não forçaria nada.

Apenas puxei o cobertor para cobri-la melhor e me sentei na poltrona ao lado, observando-a até que voltasse a dormir.

Fiquei ali, encostado na poltrona, observando-a tentar esquecer o sonho. A respiração dela ainda estava um pouco instável, mas aos poucos, o sono parecia acalmá-la. O rosto delicado, os cílios longos, os lábios entreabertos… Fernanda parecia tão diferente agora, vulnerável, sem aquela pose teimosa de sempre.

Suspirei e passei a mão pelo rosto. O que eu estava fazendo? Por que essa mulher estava tomando tanto espaço nos meus pensamentos?

Me levantei para pegar um copo d’água, mas antes que pudesse dar um passo, senti uma mão fraca segurando a manga da minha camisa.

— Fica…

Olhei para ela, que ainda estava meio sonolenta, os olhos brilhando em um misto de receio e constrangimento.

— O que foi, bambina?

Ela mordeu o lábio e desviou o olhar.

— Não quero ficar sozinha. Só… me abraça um pouco.

Fiquei em silêncio por um instante. Eu, Luigi, acostumado a ser temido, a dormir sozinho sem jamais baixar a guarda, agora estava ali, sendo desejado para… ficar de conchinha? Esse pedido viria de qualquer uma, mas dela?

Mas ao invés de debochar, apenas me sentei na cama e a puxei para perto, acomodando seu corpo contra o meu.

Senti quando ela relaxou no meu abraço. Seu cheiro doce, o calor do seu corpo, o som suave da respiração… Foi nesse momento que a paz veio. Uma sensação estranha, inesperada. Eu deveria estar focado em outra coisa, em cumprir os planos, em manter o controle da situação, mas ali, com ela nos meus braços, tudo parecia se encaixar de um jeito diferente.

Então, um desejo sutil começou a surgir. Algo que não deveria estar ali. Meus olhos desceram para sua boca, para o pescoço exposto, e meu corpo reagiu no mesmo instante.

Mas eu sabia que não era o momento. Ela ainda estava ferida. Ainda não era minha.

Respirei fundo e reprimi qualquer pensamento fora do lugar.

— Dorme, Fernanda — murmurei contra seus cabelos.

Ela apenas se aconchegou mais, e, pela primeira vez em muito tempo, adormeci em paz.

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Comments

Arlete Fernandes

Arlete Fernandes

Nossa estouremos que eles estão se dando bem relegou sensível ao ponto de ver o favor dela pelos ratos!!!

2025-04-08

0

Maria Aparecida Nascimento

Maria Aparecida Nascimento

Aos poucos eles estão se entendendo

2025-04-06

0

Neide Lima

Neide Lima

Ah Autora Arrasando como nos Outros 👏👏👏👏👏

2025-03-01

0

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