Ele me achou.

A escuridão foi quebrada por uma luz suave que me fez fechar os olhos por um momento. Minha cabeça estava pesada, os sentidos ainda turvos, e a sensação de desorientação me envolvia como uma névoa. Eu respirei fundo, tentando organizar os pensamentos, mas tudo parecia um borrão — o medo, a fuga, o disparo, o pânico.

E então, uma presença. Eu senti uma mão fria tocar meu ombro, o toque suave que me fez contrair instintivamente. Abri os olhos lentamente, e o primeiro rosto que vi foi o de uma senhora. Ela estava em pé ao meu lado, me observando com uma expressão calma, quase serena.

Meus pulmões se apertaram, o desespero ainda correndo em minhas veias. Eu olhei ao redor, não estava mais na praia, nem perto do mar. A sala era simples, com móveis rústicos e uma janela grande que permitia a luz suave da manhã entrar. O cheiro de madeira e de algo simples e aconchegante preenchia o ar, mas nada disso trazia conforto. Eu estava em um lugar desconhecido, longe de tudo que eu sabia.

— Onde estou? — Minha voz saiu fraca, e eu a ouvi com dificuldade, como se a própria sensação de estar viva fosse um milagre.

Ela me observava com atenção, como se tentasse decifrar algo nas minhas palavras, ou talvez em mim mesma. Algo sobre o olhar dela me incomodava, mas também me fazia sentir que ela não me faria mal.

— Você está segura — disse ela, como se essa palavra fosse uma promessa. — Mas não por muito tempo, se você continuar assim.

Não entendi o que ela queria dizer, mas antes que pudesse perguntar mais, ela se levou e foi até a mesa, voltando com um prato de comida. Eu mal havia notado a fome, mas, assim que o cheiro da comida chegou até mim, meu estômago roncou. Ela me olhou, como se eu convidasse a comer, e eu, sem pensar muito, aceitei. Eu preciso da força, preciso estar bem para poder continuar fugindo.

Mas logo depois de engolir a primeira mordida, algo não estava certo. Uma dor súbita subiu pela minha garganta, uma sensação estranha no meu estômago. Meu corpo começou a reagir de maneira errada, a cabeça girava e meus olhos pesavam como se quisessem se fechar para sempre.

— O que… o que você me deu? — consegui dizer, o pânico crescendo mais a cada segundo.

Ela olhou para mim com uma calma assustadora, sem pressa de responder. Mas antes que eu pudesse entender o que estava acontecendo, o mundo à minha volta começou a desaparecer. Eu não consegui me segurar mais e tudo ficou escuro, mais uma vez.

Eu acordei de novo, desta vez com uma sensação de cansaço profundo, e o som de uma voz familiar no outro cômodo.

A voz... de Luigi. Ele estava ali. Meus olhos se abriram, mas o coração batia mais rápido com a simples menção do seu nome. Eu sabia que ele não poderia estar morto, sabia que ele me encontraria a qualquer momento, e o rompimento que senti por saber disso foi imediatamente. Pelo menos, não teria o peso de tê-lo matado nas minhas mãos.

— Aqui está seu dinheiro, a recompensa, onde está minha noiva? — me chamou de noiva? Ele deve estar furioso.

Mas o que me aterrorizava era o que ele faria agora, sabendo onde eu estava. Como ele reagiria quando colocasse os olhos realmente em mim.

De repente, um som mais forte de passos interrompeu meus pensamentos, e o barulho me fez ver a janela. Eu sabia que era agora ou nunca. Se quisesse ter uma chance de escapar, a janela era minha única saída.

Com as mãos trêmulas, eu me arrastei até ela. A tensão em meu corpo era insuportável, o medo e a adrenalina me dominando. Ao abrir uma janela, fiz o máximo de silêncio que pude, mas o som foi o suficiente para atrair a atenção dele. O olhar de Luigi me encontrou, e eu soube naquele instante: ele sabia.

Não pude hesitar. Pulei.

A sensação do impacto contra o chão me fez quase perder a consciência, mas eu não parei. Não podia. Eu corri, minha respiração ofegante, os pés doloridos em contato com o chão frio, e eu sabia que não podia olhar para trás. Eu só tinha uma chance, e queria sobreviver, não podia perder essa.

Eu estava escondida, meu corpo pressionado contra o chão, os olhos tentando se ajustar à escuridão do matagal em que me enfiara. O coração batia descompassado, e a adrenalina faz meu corpo tremer, então aquela voz ecoou.

Aquela voz.

— Você acha que conseguiria, não é? — Ele estava lá, perto o suficiente para que sua voz chegasse nítida aos meus ouvidos, mas eu não me atrevia a me mexer, nem a respirar mais fundo. — Achou que eu iria me matar né, mas quer uma surpresa? Estou aqui. Você achou que conseguiria me matar com um simples tiro? Você falhou, Fernanda. Falhou miseravelmente.

O tom dele estava carregado de uma calma ameaçadora, e era como se cada palavra fosse um golpe direto no meu peito. Ele sabia que eu ouvia. Ele sabia que eu estava ali, que eu não tinha escapatória.

— Sua família vai pagar caro, sabia? — ele continuou, rindo de algo que só ele entendeu. — Você não tem nem noção de quem eu sou, do que sou capaz. Você, que acredita que poderia se livrar de mim assim, com um simples disparo. Sua coragem não é nada, Fernanda. Nada mais que medo disfarçado. E você vai pagar por isso, eu vou cobrar o preço.

Aquelas palavras me cortaram como uma lâmina afiada. O medo se alastrou dentro de mim, invadindo minhas veias, mas eu tentei manter o controle. Ele sabia como se estivesse certo de que iria me encontrar.

Eu me forçava a respirar devagar, a não emitir o mínimo som, embora o desespero me fizesse achar que ia morrer.

Eu estava completamente tensa, o corpo imóvel, os sentidos alertas, tentando ao máximo me manter oculta entre a vegetação. Mas cada palavra dele me cortava como facas afiadas. Queria gritar, queria responder, mas sabia que não podia. Era uma armadilha. Ele queria que eu falasse, queria me ver falhar. Por isso, me mantive em silêncio, me escondendo no matagal, tentando usar a escuridão a meu favor. Mas o desejo de fugir me consumia.

Eu sabia que o risco era enorme. Ele estava ali, tão perto, e eu sentia os olhos dele caçando por mim, com uma precisão assustadora. Mas, ao mesmo tempo, a sensação de que eu poderia conseguir escapar me fazia tomar coragem. Eu tinha que tentar. Se não fosse agora, seria tarde demais.

Respirei fundo, me preparei para me mover, e em um impulso, saí dali. Corri, tentando me afastar o mais rápido possível, sentindo o coração batendo forte no peito. Meus passos eram rápidos, mas silenciosos, e eu mantinha os olhos bem abertos, cuidando para não fazer barulho, para não ser detectada.

No entanto, o destino parecia estar contra mim. Pisei em falso em uma pedra, o som do impacto ecoando no silêncio da noite. O grito de dor que escapei foi inevitável, e, naquele instante, sabia que meu disfarce tinha sido quebrado. A dor no pé se espalhou como fogo, e eu me agachei instantaneamente, pressionando-o com as mãos, tentando controlar o pânico que se formava no meu peito.

Não demorou muito para que eu visse a sombra dele se aproximando, seus passos pesados e calculados. Quando ele me alcançou, não havia pena em seu rosto. Não havia misericórdia. Só uma expressão de frieza que me congelou no lugar. Seus olhos observavam o meu pé, e o que vi em seus olhos foi algo que eu não conseguia descrever, talvez uma espécie de diversão ou satisfação.

Em um movimento inesperado, ele me pegou no colo com uma força brutal, como se eu fosse nada. A dor do pé quebrado me fez querer gritar, mas eu me mantive calada, meu corpo ainda contraído de medo. Ele não disse nada. Não havia palavras. Apenas me carregou, e eu podia sentir o cheiro de seu perfume misturado ao da vegetação, enquanto me carregava para longe.

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Comments

Margarete Correia

Margarete Correia

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Maria Aparecida Nascimento

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Jucileide Gonçalves

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