Os dois dias que faltavam para o casamento pareciam uma eternidade. O pé de Fernanda estava ainda inchado, mas o médico garantiu que ela poderia andar com a tala. Mesmo assim, eu não a deixei sozinha. Cada movimento dela me vigiava, cada gesto, cada olhar. Se ela tentasse escapar, eu estaria lá para impedi-la. Não que ela soubesse disso ainda.
Decidi testar a confiança que ela tinha em mim, ou melhor, o quanto ela realmente acreditava que estava presa. Quando saímos do hospital, eu lhe dei uma brecha, um pequeno momento em que ela poderia fazer o que quisesse. Fui até a distância suficiente para parecer que estava distraído com algo, e dei a instrução para ela ficar sentada.
— Fique aqui, já volto.
Ela não disse nada, apenas assentiu. Eu a observei de longe, tentando avaliar o que faria. Seria aquela a oportunidade que ela procurava? Fugir dali?
Ela estava ali, sentada no banco de concreto, olhando as unhas, distraída, como se o hospital fosse uma parada comum, sem pressa de ir embora. O jeito como estava tranquila me deu um alívio. Nenhuma tentativa de fuga, nada. Apenas quietude, como se realmente acreditasse que esse era o seu destino agora.
Isso me fez respirar mais aliviado.
Fiquei ali, esperando mais alguns minutos, até ver o que ela faria. Quando percebi que ela não iria se mover, finalmente, decidi voltar. Aproximando-me dela, sorri e, com um tom mais leve, disse:
— Vamos, vamos comer alguma coisa.
Ela apenas assentiu e, ao levantar, eu ofereci minha mão. Ela olhou para ela por um segundo, talvez em dúvida, mas pegou. E aquele gesto simples, aquele contato, parecia até mais íntimo do que eu esperava.
Fernanda ainda estava cautelosa, mas parecia mais resignada. O que, de certa forma, me tranquilizou. Ela tinha algum nível de confiança em mim. Ou pelo menos não queria perder a dignidade tentando algo que sabia ser em vão.
Quando chegamos ao restaurante, escolhemos um lugar discreto, longe de olhares curiosos. O ambiente tinha um toque moderno, com luz suave e uma música ambiente que apenas acentuava a serenidade daquele momento. Sentamos, e o garçom trouxe o cardápio.
Enquanto esperávamos o pedido, não pude evitar iniciar uma conversa com ela. Havia algo sobre falar do meu passado que parecia mais fácil com ela. Não sabia por que, mas achei que era o momento de falar.
— Minha mãe morreu quando eu era muito novo. Meu pai... bem, nós dois não nos damos muito bem. Nunca nos demos, apenas nos suportamos.
Ela me olhou, como se estivesse curiosa, talvez tentando ver algo além do que eu costumava demonstrar.
— E o que vai acontecer agora? Vamos viver com o seu pai? — questionou parecendo preocupada.
Eu ri suavemente, mais por achar a ideia distante e ridícula, mas também para dar uma sensação de leveza ao ambiente.
— Não. Meu pai mora em outro lugar. Vamos morar sozinhos. Só eu e você.
Ela pareceu surpresa, talvez aliviada, talvez ainda desconfiada. Mas aquilo soava bem para nós dois.
O garçom chegou com nosso pedido, e a conversa foi pausada pela comida. Eu não queria me prender ao passado, mas eu precisava, de alguma forma, compartilhar mais com ela. A convivência exigiria isso. Ela só não sabia o quanto ainda precisaria de mim, e talvez eu precisasse dela também, mais do que eu gostaria de admitir.
Mas por enquanto, o que importava era o momento. O que viria depois… bom, isso dependeria de nós dois.
Depois de uma refeição mais tranquila do que eu imaginava, decidimos voltar ao apartamento. O clima estava um pouco menos tenso, mas ainda havia algo no ar — uma distância que parecia existir entre nós, apesar da proximidade física.
O fato de ela não ter fugido, de ter aceitado minha ajuda e até de ter conversado mais do que o normal, me fez pensar que talvez houvesse algo mais ali, algo que ela ainda não havia percebido ou talvez estivesse se forçando a ignorar.
Entramos no apartamento, e o cheiro de familiaridade e segurança imediatamente a envolveu de uma forma que ela não esperava.
Eu observei sua expressão enquanto ela olhava ao redor. Ela ainda não sabia o que pensar de mim, mas podia ver que o ambiente não tinha nada a ver com a prisão mental que ela imaginava e não negava o quanto tinham sidos dias diferentes e agradáveis.
Ela se dirigiu até o sofá e se sentou, ainda com o pé imobilizado, enquanto eu retirava o casaco. O peso do silêncio preenchia a sala, e eu sabia que a conversa que viria não seria fácil, mas seria necessária.
— Você está bem? — Eu perguntei, mais pela rotina do que por real preocupação. Mas quando vi seu olhar, senti que a dúvida ainda pairava no ar.
— Sim... acho que sim. — ela respondeu de forma hesitante, as palavras saindo com um certo tom de insegurança. — Sei que achou que eu ia fugir, mas já aprendi.
Aquela afirmação me deu a certeza que queria, ela não vai fugir.
— Sei que você tem dúvidas. Eu também tenho. Não é fácil para ninguém, mas não precisa ser um inferno.
Ela respirou fundo e, finalmente, disse o que estava em sua mente.
— Eu só... não entendo, Luigi. Você... me pegou. Me forçou a vir até aqui, me fez acreditar que eu não tinha escolha, e agora, o quê? Por que está sendo bom? É para a decepção ser mais forte?
Eu suspirei. Ela tinha razão. Parte do que fiz foi por minha própria necessidade de controle, por manter tudo em minhas mãos. Mas agora, com ela aqui, eu não tinha mais respostas fáceis. Não sabia mais como reagir. A pressão sobre mim estava crescendo, e isso me incomodava mais do que eu queria admitir.
— Eu não sou um homem fácil de entender, Fernanda, mas não estou brincando com você, quero que dê certo. — eu disse, sentando-me ao seu lado no sofá. A proximidade entre nós foi quase instintiva. Eu não sabia por que, mas senti a necessidade de ficar perto dela, talvez para sentir algo que não conseguisse expressar.
Ela ficou em silêncio, o olhar fixo no chão. Sua mente estava trabalhando a todo vapor, tentando entender minhas palavras, o que aquilo significava para ela.
— Eu sei que você não tem mais para onde ir. Mas vou fazer o meu melhor para... não te deixar sozinha aqui, nosso casamento é em dois dias e estamos melhor do que achei. — Eu não sabia se isso a acalmaria ou não, mas senti que precisava dizer algo que refletisse um mínimo de empatia. Mesmo que eu fosse alguém difícil de lidar, ela merecia ouvir isso de mim.
Ela olhou para mim, seu olhar era um misto de cansaço e resistência. Estava claro que a ideia de confiança ainda estava distante, mas por algum motivo, parecia que ela estava começando a relaxar um pouco. Não me via mais como um inimigo absoluto, talvez só um homem complicado, alguém que ela precisaria aprender a lidar para seguir em frente.
Ela estava aprendendo a confiar, e eu estava aprendendo a deixar de lado o controle. O que aconteceria depois... bem, isso seria um outro capítulo da nossa história, ainda por ser escrito.
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Atualizado até capítulo 43
Comments
Maria Aparecida Nascimento
Pra eles sempre se entender eles tem que sentar pra ter um diálogo conversando esclarecer as coisas entrer eles vai ser melhor pra eles
2025-04-06
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Arlete Fernandes
É bom que eles conversem e se entendam tirem as dúvidas para poderem viver bem e ser felizes!
2025-04-08
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Jucileide Gonçalves
Tem que conversar, um diálogo para de entender melhor depois vem o resto.
2025-04-04
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